CRISTO REDENTOR

O fato de o Espiritismo não aceitar como verdadeira a história da “queda do homem”, pelo menos em sua interpretação tradicional, pode dar a ideia de que negue, também, os méritos de Jesus-Cristo como nosso salvador, que não é exato.

O conceito espírita de salvação é que diverge profundamente daquele esposado pela Teologia.

Senão vejamos:

Afirma a Teologia que os homens são filhos do pecado, maus desde a origem e, portanto, incapazes de se salvarem a não ser pela graça.

Já o Espiritismo sustenta que eles são filhos de Deus, essencialmente bons e, como tais, suscetíveis de alcançarem a perfeição pelo próprio esforço e merecimento. A Teologia dogmatiza ter sido indispensável o sacrifício de Jesus para que Deus viesse a perdoar à humanidade pelo pecado de Adão e Eva.

O Espiritismo elucida que, se era propósito de Deus conceder tal perdão, não precisava subordiná-lo ao sofrimento de um inocente, ainda que este se oferecesse espontaneamente para isso. Esse Deus que nos manda perdoar sem condições nossos ofensores, tantas vezes quantas sejam as ofensas recebidas (Mat., 18:22; Luc., 17:4), seria menos misericordioso que os homens?

A Teologia faz a salvação do gênero humano depender exclusivamente da morte do Cristo, colocando em segundo plano seus ensinamentos e os feitos marcantes de sua vida.

O Espiritismo, ao contrário, dá mais ênfase a estes, considerando aquele apenas o coroamento de sua missão. Com efeito, Jesus-Cristo se fez carne entre nós a fim de libertar-nos da ignorância e levar-nos à edificação do “reino dos céus” em nossos próprios corações. Para tanto, deu-nos a conhecer a lídima interpretação do Código Divino, todo ele calcado no amor, (...).

Ainda segundo a Teologia, após sua breve existência terrena, Jesus-Cristo, sem mais nada a fazer, teria subido às mansões celestiais, ocupando um assento à direta de Deus, onde, guarda o final dos tempos para vir julgar os vivos e os mortos, quando, então premiará uns poucos eleitos com a bem-aventurança e condenará os outros (a maioria) às penas eternas. Resultado melancólico que não se coaduna com sua bondade, não condiz com sua sabedoria, e, se verdadeiro fosse, implicaria tremendo fracasso.

O Espiritismo, inversamente, ensina-nos que, conquanto não seja Deus, e sim um Espírito sublimado, Jesus-Cristo é o governador de nosso planeta, a cujos destinos preside desde a sua formação. “Tudo (na terra) foi feito por ele, e, nada do que tem sido feito, foi feito sem ele”, diz-nos João 3:1. Pastor dedicado e extremoso, prometera que, “das ovelhas sob sua guarda, nenhuma se perderia” e fiel a essa promessa, tem estado e continuará sempre atento aos sucessos deste mundo, assistindo carinhosamente os terrícolas em nossa marcha evolutiva, em cujo mister não descansará até que nos veja, TODOS, a salvo e felizes, no aprisco do Senhor.

Destarte, longe de subestimar a figura excelsa do Cristo, a Doutrina Espírita é a única que lhe faz plena Justiça, ressaltando-lhe a infinita abnegação e o caráter de autêntico Redentor da Humanidade.

Rodolfo Calligaris

Páginas de Espiritismo Cristão; capítulo 7 – páginas 26 a 28 – 3ª ed.- FEB.