O Que Forma O Tecido Das Nossas Vidas

Em uma crença pessoal, uma alma é como as raízes de uma árvore, cada ponta de uma raíz se manifesta em um corpo futuro, e quando um desses corpos morre, a raíz do corpo correspondente disseca e a consciência começa a se manifestar em outro corpo, em outra raíz, assim como no conceito de reencarnação dos hinduístas, o que, querendo ou não, causa uma evolução espiritual. No entanto, assim que o último corpo se vai, a consciência vai para um novo plano, um plano espiritual, onde nada morre, apenas renasce. As raízes da alma são atemporais e estão espalhadas por todo universo, ligando pessoas, plantas, animais, e outros seres. Nessa concepção a única força maior que existe seria o próprio universo, o verdadeiro criador de tudo, que também é a certeza de que a morte chega para todos.

A vida deveria ser construída em volta de três pilares: empatia, paz e amor, esses três pilares que se complementam entre si. A empatia se transforma em amor, o amor causa a paz, e a paz traz consigo a empatia, e assim trazendo uma vida espiritual plena, não de felicidade plena, pois ter a felicidade plena na sociedade atual seria o mesmo que ignorar os problemas que acontecem na sua própria vida e na do próximo. No entanto, a maldade que está em algumas pessoas e a sua ganância, foram capazes de transformar o mundo num lugar cruel, um lugar onde a morte se tornou um desejo e que atrapalha a evolução espiritual das outras pessoas.

Desde que o ser humano começa a tomar consciência de si, ele passa a tomar consciência do que está ao seu redor, como pessoas, espaço, tempo, o que está dentro de sua mente e o que está fora dela. Entre o que conhecemos quando estamos no processo de tomada de consciência, está a crença e a religiosidade, uma característica moral que está presente, dentre todos os seres vivos da Terra, somente nos seres humanos. A principal diferença entre a religiosidade no Ocidente e no Oriente, é que no Oriente se busca um desabrochar espiritual de dentro para fora, ou seja, um despertar introspectivo, enquanto no Ocidente, se busca o inverso, forças onipotentes e oniscientes, que interferem diretamente no pessoal de uma pessoa, ou seja, um despertar expansivo. No Oriente, os religiosos da região se utilizam da meditação e mantras para se conectar com o estado espiritual interno. Já na maioria das religiões do Ocidente, os religiosos acreditam que as entidades são capazes de se manifestar em corpos ou que certos objetos e oferendas têm algum tipo de poder divino, que podem atrair ou “agradar” essas mesmas entidades.

Entretanto, a grande maioria das religiões que são, de fato, as maiores do mundo, trouxeram uma visão mais materialista para suas crenças, uma consequência do sistema capitalista, por exemplo, o Cristianismo no Brasil, o que abre e abriu brechas para pessoas mal intencionadas e gananciosas começarem a se utilizar da espiritualidade para lucrar, o que não acontece com religiões que são minorias, como a Umbanda e o Candomblé, o Paganismo e a Wicca.

Diferente do desconhecimento popular, que acredita que a meditação é um grande mistério, uma prática de não consciência ou de total iluminação, a meditação seria estar em um estado de presença e aceitação. Estar presente é não se assustar com o futuro e não se culpar pelo o passado, já que as maiores causas da ansiedade humana são o futuro e o passado, o passado pelo o que aconteceu e o futuro pelo o que vai acontecer. A presença te faz focar somente no agora, na respiração e inconscientemente, no estado de aceitação.

A aceitação está diretamente ligada ao ato de se permitir. Se permitir sentir os seus próprios sentimentos, sem tentar reprimi-los, e aceitar que esses sentimentos existem e que coisas podem afetá-los. A aceitação não precisa se reduzir somente aos sentimentos, aceitar quem você é, tanto em ego, personalidade, corpo físico e espiritual pode diminuir a ansiedade.

A morte também é um longo processo de aceitação.

Aceitar a morte de um ente querido pode ser mais difícil do que aceitar a própria morte, já que na maioria das vezes, as pessoas costumam dizer “Você vai morrer um dia, todo mundo vai”, mas ninguém diz “Eu vou morrer, e está tudo bem” ou “Eu vou morrer e não vou te levar comigo”. E é estranho pensar que existe toda uma geração que só pensa em ‘Morte, morte, morte’, mas quando recebe a notícia ou um lembrete de que vai morrer, se sente mais vivo do que nunca, e se lembrar de que está vivo, automaticamente faz lembrar que a morte vai chegar um dia, o que te faz entrar em crise, como uma armadilha existencial, e é isso que a meditação tenta evitar. Focar no presente, te faz evitar cair na armadilha, ou seja, a meditação faz parte do processo de aceitação da morte ou, da perspectiva de alguns escritores e filósofos budistas, a meditação é a preparação para a morte.

No entanto, vícios, de certa forma, são uma outra forma de escapar da armadilha existencial, de uma forma que te tira da realidade, que te dá uma ilusão de Vida Nova, te livrando das dores da vida. E a grande maioria das pessoas do pós Revolução Tecnológica tem algum tipo de vício virtual, onde querem fugir da realidade, pois na Internet, as pessoas são completamente diferentes, se sentem mais livres para serem quem são, mesmo com o ódio vindo de todos os lados. Muitas vezes os vícios podem vir de forma inconsciente, seja por relacionamentos ruins, péssimas experiências profissionais ou até mesmo por condições psicológicas.

As pessoas se condicionam a situações por medo do que está pela frente, seja numa tentativa de fugir, se livrar ou lidar com o medo. Medo de fracassos, medo de coisas naturais ou medo de coisas sobrenaturais são da condição humana, mas a sociedade atual nos coloca numa situação onde não se pode ter medo, porque se não você é covarde. Mas está tudo bem você ter medo, está tudo bem não ter esperança de que as coisas vão dar certo porque tem medo de se frustrar.

A convivência humana se baseia nisso, no medo, na angústia de não ser aceito em certo grupo ou na vontade de sair de uma situação social sem ser grosseiro. E isso é um grande desafio, mas é normal. O que forma os tecidos das nossas vidas são as conexões humanas, o que temos a aprender e o que temos a ensinar, a comunicação, o ato de ouvir, ler e compreender, e o ato de estar presente nos momentos tristes, felizes e então estar se permitindo sentir as suas emoções e ser quem você é.

Um texto por Anthony Valença Cavalcante de Albuquerque