3 - Temperança x Ira - análise dos afrescos de Giotto para este par de virtude e vício

"Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio." Gálatas 5:22-23

"E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o semblante" Gênesis 4:5

Temperança e Ira é o par de virtude e vício associado à emoção, à capacidade de governar a paixão da ira que afeta o espírito e se reflete no corpo.

As paixões da alma são eticamente neutras, não são boas nem más. As iras más, que ofuscam a inteligência, são a aguda, a amarga, e a difícil. A aguda é da pessoa que se irrita por motivos leves, picuinhas. A amarga são os ressentimentos guardados na memória por muito tempo. A difícil é a que busca vingar-se da pessoa que praticou ou propagou o mal.

As iras boas são as indignações motivadas ante o mal, cujas ausências significam falta de senso moral, prevaricação, falta de afetividade e de solidariedade aos injustiçados.

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A temperança é representada por uma mulher em pé e serena usando túnica longa e capuz. Isso indica que seu equilíbrio e serenidade provém de educação e proteção hereditárias. Ela segura uma espada e usa tiras de couro da bainha para prender o punho à bainha. Simboliza que tem poder de ataque porém que o faria como último recurso em legítima defesa ou estado de necessidade. A mulher traz um arreio na cabeça cujo freio se estende até a boca. Simboliza autocontenção do seu poder para contrapor ofensa que a atinge por palavras ríspidas ou por ameaças. A posição frontal indica que sua mansidão não se confunde com covardia ou medo.

A ira é representada por uma mulher calva de cabelos longos, com rosto deformado. Simboliza alta sensibilidade aos estímulos externos que a deixam suceptível a essa emoção que afeta seu corpo físico e lhe faz mal. A posição de pé, corpo arqueado e os olhos abertos simbolizam que ela expressa a ira de forma exagerada com consciência e intencionalidade. O rasgar das vestes, como Caifás, e a fumaça saindo do peito denotam que a incapacidade de perdoar e a falta de autodomínio dos vitimados por este vício são ofensas a Deus.

A mansidão é uma virtude dos fortes. Não há virtude em ser vulnerável ou fraco, e não ser capaz de revidar uma ofensa real, por exemplo, por falta de condições físicas ou intelectuais.

As iras más são oriundas de um amor exacerbado a si mesmo: que repele uma correção entendida como dura, que gera ressentimentos ou desejo de vingança racional contra, por exemplo, quem ofende justa ou injustamente sua honra.

Um remédio eficaz contra a ira e o desenvolvimento da temperança é o exercício da humildade. Reconhecer-se falho e limitado, e ter pressa em resolver contendas nas quais esteja envolvido, especialmente contra familiares e irmãos de fé.

As paixões do concupiscível - cobiça de bens materiais e prazeres sensuais - são causas das paixões do irascível - amor demasiado a si.