INTRODUÇÃO AOS SALMOS
Os salmos têm sido e continuam sendo fonte riquíssima da inspiração de um dos legados bíblicos mais fecundos para a espiritualidade da civilização ocidental. Seu emprego entre os cristãos se constata desde os primórdios, criando uma das tradições mais firmes e inquestionáveis da vida cristã. Talvez o pouco peso do contexto histórico, o refletir os verdadeiros sentimentos humanos de angústia, de alegria, de tristeza, de sofrimento, de abandono ou de triunfo, de vitória, de esperança, tornam os salmos sempre atuais e facilitam sua leitura, compreensão e acomodação tanto na vida pessoal do fiel quanto na vida da comunidade. Essa falta de concretude histórica, a generalidade das emoções, tornam os salmos aplicáveis a uma larga variedade de situações, contribuindo para que sejam fonte inesgotável de inspiração para milhares de gerações, até nossos dias.
1- OS SALMOS NA VIDA JUDAICA ANTIGA
Psalmós, que se traduziu para o latim tardio por psalmus, significa, de fato, “cantar ao som da cítara”, vibrar as cordas de um instrumento, tocar um instrumento de cordas. Fora da coleção dos 150 salmos, que forma o “Livro dos Louvores”, encontram-se cânticos e hinos semelhantes como em Ex 15,1-19: Hino ao Deus libertador; 1Sm 2,1-10: Oração de Ana, esperança de um reino justo, onde Lucas se inspirou para compor o Magníficat; Is 38,10-20: Cântico de Ezequias, rei de Judá, por ocasião da cura que obteve; Jn 2,3-9: Oração que Jonas dirige a Javé, do ventre do peixe que o havia engolido; Hab 3,2-19: Oração do profeta cheio de esperança na intervenção de Javé. Salmos são cânticos de louvor a Deus.
Nos salmos, Israel canta incessantemente o nome de Javé. O louvor é confissão das grandezas de Deus: o espetáculo da natureza; a atividade divina no mundo e na história; perigos, tentações e alegrias que invadem a vida do justo; a realeza de Javé, a soberania de Deus que rege o mundo e a história de Israel.
Como se vê, os temas que se encontram nesta coletânea de poesia lírica-religiosa do
Antigo Testamento são abundantes. Contudo, tradicionalmente, são divididos em quatro
categorias principais, conforme o conteúdo e a forma:
HINOS DE EXALTAÇÃO - Os hinos de exaltação ou salmos de louvor decantam a bondade, a grandeza, a justiça, a força e a ação-presença de Javé na natureza e na história de Israel.
LAMENTAÇÕES INDIVIDUAIS OU COLETIVAS - Já os salmos de lamentações são destinados para os dias de jejum e de penitência (Sl 44; 60; 74; 79; 80). São numerosas as lamentações individuais nas quais o poeta-compositor pede a Deus a libertação ou a salvação ou, então, perdão dos pecados.
AÇÃO DE GRAÇAS - No Templo, o cântico dos salmos acompanha principalmente o sacrifício de louvor, sacrifício pacífico seguido de uma refeição sagrada, muito alegre. Especialmente a partir da construção do Templo, o louvor aparece ligado à liturgia, à participação viva do povo, alegre, sobretudo por ocasião das festas anuais, da sagração do novo rei, da comemoração de uma vitória. As aclamações traduzem o entusiasmo da assembleia: Amém, Aleluia, os estribilhos “Pois eterno é seu amor”, o perfume do incenso, a música e os cânticos. Compostos também para solenidades do culto, salmo de romaria e de entrada. Alguns salmos pertencem à literatura sapiencial; outros, como 37 e 73, tratam do problema da retribuição.
SALMOS IMPRECATÓRIOS, DE MALDIÇÃO - Contudo, entre os salmos, o que sempre causou estranheza e dificuldades para a interpretação e a adaptação à vida cristã, foram os salmos imprecatórios. Oprimido ou perseguido pelos inimigos, o salmista prorrompe em veementes maldições contra seus adversários (5,11; 7,10.16; 35,4-6, por exemplo), ou contra os inimigos de Israel (79,6.12; 83,10-19; 129,5-8).
Muitas pessoas não compreendem os salmos de maldição, por que olham para a Bíblia de uma forma geral, já sabendo todo o plano da salvação. Porém precisamos observar a Bíblia da forma progressiva, para melhor a compreender. No Antigo Testamento o Espírito Santo era dado por medida, somente para fazer certas obras e depois ele era retirado. No Novo Testamento o Espírito é dado sem medida, o que significa que podemos ir enchendo e nunca mais parar de encher. Isso nos diz que poucas pessoas tinham o Espírito Santo no Antigo Testamento e quando tinham ainda era por medida. O Espírito era dado por medida a reis, profetas e sacerdotes. Outro fato que jamais pode ser esquecido é que a religião era externa, do lado de fora da pessoa. A religiosidade no Antigo Testamento era externa e não interna. No Novo Testamento a espiritualidade é interna, foi mudado o nosso coração, ou o centro de nossas emoções, razões e sentimentos. No Jardim do Éden, no fato do pecado, o homem perdeu a conexão com Deus, o seu espírito humano foi desconectado do Espírito de Deus. Eram um antes do pecado, mas se dividiram no pecado. O homem se fez pecador e precisa voltar a cultuar para estar novamente ligado a Deus, como foi o caso do culto de Abel, que significa voltar para casa. Cristo matou na cruz o velho homem, proporcionando na ressurreição o novo nascimento e o acesso constante e eterno ao Espírito Santo. Fato que ocorreu com a vinda do Ministério do Espírito. (2 Coríntios 3.8) Mas precisamos compreender que as pessoas no Antigo Testamento não tem o Espírito como nós temos e portanto não são convertidas como podemos chegar a ser, parecidos com Cristo, tendo a mente de Cristo e o Espírito Santo de Deus. Eles não eram convertidos como somos, nenhum deles. Um ou outro, na Antiga Aliança tinham o Espírito, talvez de uma forma mais forte, como Davi, Samuel e Moisés, mas o mesmo não posso dizer de Jeremias, de Jonas ou de Saul.
Mas nada é à toa na Bíblia e precisamos das maldições emocionadas dos Salmos. Por mais que achemos estranhas as maldições escritas nos Salmos e em outras partes da Bíblia, precisamos compreender que precisamos delas e elas tem o seu papel. A falta de compreensão da Tribulação talvez seja um grande empecilho para avançarmos na leitura e compreensão da Bíblia. Alguns têm a ideia que a Tribulação foi feita para o cristão, o que é uma bobeira enorme. A Tribulação é o julgamento das nações, o julgamento do pecado, dos demônios e dos pecadores. A Bíblia não foi escrita para amaldiçoar cristão, mas para abençoar todos os que quiserem ser cristãos. As maldições dos Salmos são orações que chamam a existência a Tribulação e o julgamento dos inimigos da fé. Eles precisam ser julgados e quando fazem algum malefício a algum cristão, podemos orar e pedir justiça a Deus. Não me atrevo a orar como faziam nos Salmos, mas apesar de não usar os mesmos termos, ao orar contra alguém que quer o nosso mal, ou da nossa família, o estamos entregando nas mãos de Deus e Ele vai dar conta disso, ou nesse período de vida, ou no julgamento final.
Temos uma ideia generalisada de cristãos Novo Testamentários, perseguidos, pobres, coitados, suplicando misericórdia e não compreendemos que nós ditamos o mundo. Quando se diz que as portas do Inferno não vão poder com a igreja, significa que é a igreja que está indo para cima das portas do Inferno. Somos nós que oramos e jejuamos e pedimos a mudança das situações. Nós, os cristãos, ditamos o mundo. Na direção de Deus oramos para cair reis e presidentes e subir outros no lugar. A maioria dos cristãos são ensinados a orar como forma de defesa quando o inimigo nos ataca, e nem pensam que podem assumir o protagonismo orando antes do inimigo e mudando situações.
Dessa forma, os salmos constituem-se na grande síntese dos temas, dos sentimentos e das emoções do povo israelita. Se há uma diversidade de temas, há, por outro lado, uma unidade de estilo poético, de espírito: são o espelho da alma religiosa de Israel com a qual milhares de
gerações se identificaram.
2. AUTORES E TEMPO DE COMPOSIÇÃO
O livro dos salmos reúne peças que foram compostas ao longo de setecentos anos; como, então, determinar seus autores? As disciplinas históricas próximas das ciências do homem e da literatura esclarecem os acontecimentos e os ambientes culturais nos quais os salmos tiveram origem. Alguns salmos empregam conceitos arcaicos, pré-monoteístas (89,5-10, por exemplo). Alguns julgam que sua composição ter-se-ia efetuado na época pós-exílica. Outros analistas admitem a possibilidade de existirem salmos pré-israelitas, ulteriormente retocados e readaptados à fé javista.
No Texto Masorético, 73 salmos são atribuídos a Davi, 12 a Asaf, 11 aos filhos de Coré, 1 a Moisés, 1 a Salomão, 1 a Heman e 50 são anônimos.
Se Davi não pode ser tomado como o autor absoluto dos salmos, não se pode negar sua influência sobre este gênero de oração. Davi era conhecido não só como valente guerreiro, mas também como poeta-trovador e músico (cf. 1Sm 16,16-23; 1Cr 23-29; Am 6,5). Além de reorganizar o exército e a administração pública, regularizou o culto, organizou, classificou e estabeleceu funções específicas para o clero e os levitas. Não é difícil, portanto, admitir que tenha composto cânticos para o culto. Dos 73 salmos que lhe são atribuídos, nem todos são propriamente de sua autoria. São-lhe atribuídos à maneira de patrocínio, de patrono, mas não que tenha escrito. Alguns salmos são reconhecidos como obra das corporações de profissionais do Templo, especialmente os que se referem ao monte Sião ou ao Templo. Um grande número de salmos foi revisto, completado ou adaptado ao uso litúrgico. Assim, os títulos, diferentes do texto hebraico e nas diversas versões, advêm, provavelmente, dos últimos colecionadores e não dos próprios autores.
Amém
Fique na paz.
BIBLIOGRAFIA
Salmos – Santo Agostinho