Na Semana Santa, O Cristo Consolador
A chamada Semana Santa marca os derradeiros acontecimentos da vida de Jesus: a cerimônia, quando num gesto de humildade, Jesus lava os pés de seus discípulos, a Santa Ceia, quando o Mestre reparte o pão com seus doze apóstolos, a traição de Judas, prisão, crucificação e finalmente a ressurreição de Cristo.
Ora, ao longo de mais de dois mil anos de cristianismo, tem sido mais fácil para os que se dizem cristãos encenarem os atos finais da vida de Jesus na Terra do que compreenderem e praticarem os ensinamentos do Mestre do amor, desse modo optamos aqui por recordar o que Jesus prometeu para os que seguirem praticando as suas palavras e exemplos.
No capítulo 5 do Evangelho de Mateus temos As bem-aventuranças, que fazem parte do Sermão do Monte, verdadeiro código moral para a humanidade. De acordo com o Mestre, bem-aventurado é aquele que experimenta grande felicidade espiritual. Vejamos quem são os bem-aventurados do Cristo:
Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus.
Interessante, Jesus coloca o sentimento de humildade como a primeira condição para a conquista da verdadeira felicidade.
Ser uma pessoa humilde não é de forma alguma se desvalorizar perante os outros. Humildade é a bondade e a simplicidade no agir. Enquanto o arrogante acha que nada tem a aprender com os outros, o humilde de coração jamais despreza a experiência alheia, pois reconhece que ainda tem muito o que aprender e crescer. O orgulho e o egoísmo são um verdadeiro obstáculo à felicidade.
Em algumas traduções desta bem-aventurança aparece “os pobres de espírito” gerando dificuldades na interpretação e despertando certa incredulidade no leitor.
Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados.
É de se perguntar como alguém que sofre pode ser um bem-aventurado?
Ora, há duas formas de se passar por uma situação difícil: a primeira é reclamar o tempo todo e se revoltar, o que acarretará ainda mais sofrimento, a segunda é tentar tirar uma lição do atual conflito, buscando compreender o que a vida está querendo lhe ensinar com essa dor.
Nenhuma dor é eterna e quando a suportamos com coragem e resignação, o que é bem diferente de apatia, entenderemos mais tarde que todo aquele sofrimento foi um grande aprendizado para o nosso crescimento espiritual. O consolo se encontra na compreensão de que a dor é também uma ferramenta de ascensão do espírito. Ademais, quem nunca chorou pelo próximo ou por si mesmo está longe de aprender a amar.
Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra.
Uma pessoa mansa é calma, conciliadora, e que promove o diálogo respeitando e ponderando as opiniões com toda imparcialidade possível. Como o mundo seria quase um paraíso se todos agissem assim, concorda?
A terra que Jesus nos promete não é um cantinho no Céu ou um pedaço de chão, mas sim o próprio orbe terrestre. A Terra passa por uma fase de transição, onde deixando de ser um mundo de provas e expiações, deve ascender na hierarquia dos mundos à categoria de mundo regenerador. Os espíritos beligerantes que não acompanharem a evolução moral do globo serão exilados em mundos primitivos, mais apropriados à sua natureza rebelde e egoísta.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos.
O desejo por uma sociedade mais justa, inspirada na Justiça Divina é um dos ideais do verdadeiro homem de bem.
Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
Jesus fez da compaixão e do perdão uma de suas mais preciosas lições, porque não estando o ser humano isento no mundo de cometer erros, necessitamos frequentemente do perdão dos familiares, dos amigos, da sociedade e não raro, da nossa própria consciência culpada.
Se Deus nosso Pai, que é o Ser perfeito, nos concede tantas oportunidades quantas forem necessárias para nos reerguermos do charco moral onde nos colocamos voluntariamente, quem somos nós para não perdoarmos as faltas do nosso semelhante? Misericórdia não é para os fracos, é para os fortes e conscientes das suas próprias falhas.
Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus.
No tempo em que o excelso Mestre da Galileia pregou entre os homens, os judeus, mormente os pertencentes ao partido fariseu, tinham verdadeira obsessão por se manterem puros.
Entre os citados judeus a menstruação, por exemplo, era considerada algo impuro, dessa maneira a mulher que estivesse menstruada não podia frequentar nem as sinagogas nem o grande templo em Jerusalém. Contudo, toda essa pureza não passava de atos exteriores. Ora, os saduceus e os fariseus eram hipócritas, maliciosos e ardilosos, sendo os primeiros até mesmo materialistas.
Para Jesus não basta apenas a aparência da pureza, é indispensável que o coração do cristão esteja liberto da malícia, da inveja, da maledicência, do orgulho, das vaidades exacerbadas e dos atos e pensamentos dissimulados.
Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.
É meritório pregar a paz entre os indivíduos e os povos, todavia, só encontra realmente a felicidade quem a promove nos corações atormentados.
Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus.
Vejamos bem, o Cristo não diz “bem-aventurados os perseguidos pela Justiça”, mas felizes são aqueles que estão sendo perseguidos por lutarem pela justiça. A justiça deve ser igual para todos, imparcial e jamais se permitir agir movida pelo infeliz sentimento da vingança.
O Reino de Deus virá assim para os humildes, para os que ascenderem pela dor e pelo amor, para os mansos e pacificadores, para os misericordiosos, justos e de coração purificado.
Jesus é luz, modelo e guia para a humanidade.
Bem-aventurados sois quando, por minha causa vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós.
Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós.
Quando estamos a caminho com o Cristo, o único mal que verdadeiramente pode nos prejudicar é aquele que, invigilantes, realizarmos contra nós e contra o nosso próximo.
Na Terra o bem ainda sofre larga oposição daqueles espíritos endurecidos e recalcitrantes que não querem o progresso moral do homem. No entanto, por mais que resistam com os seus ardis, as amorosas hostes do Cristo dissiparão as trevas.
Para este trabalho utilizamos a tradução em língua portuguesa e revisada do Novo Testamento de João Ferreira de Almeida. Nota do autor.