A PROBLEMÁTICA DEUS NA SOCIEDADE ATUAL

Abro esse pequeno texto com a seguinte afirmação de Nietzsche: “Deus está morto. Deus permanece morto. E nós o matamos.”

Para um leitor fervoroso da fé cristã, essa expressão de Nietzsche pode parecer uma afronta contra Deus. Entretanto, há uma ideia muito mais profunda a respeito dessa frase. Nietzsche já enxergava em sua época, o que nós ainda não conseguimos enxergar: a sociedade atual está matando a Deus. Quando falo aqui de Deus, não digo o ser em si, mas dos valores que Deus representa para a sociedade.

Vemos nos nossos dias como as pessoas têm perdido seus valores, valores esses baseados no cristianismo. Com essa morte simbólica de Deus, a sociedade tem sofrido com a falta de sentido. Sem os valores tradicionais, a sociedade precisou encontrar outros para preencher o abismo que ficou. No entanto, os novos valores têm causado distúrbios entre aqueles que ainda choram a morte de Deus, com aqueles que o mataram. Isso tem feito nossa sociedade tomar partidos extremos, causando a tão famosa “polarização”.

O prejudicial de tudo isso está na falta de respeito que tem surgido. O que faz uma sociedade sólida e democrática, é o respeito e aceitação de opiniões contrárias. Com essa polarização, a única opinião que importa é a de cada extremo, os dois lados não podem coexistir, um precisa extinguir o outro. Os assassinos de Deus querem acabar com seus seguidores para poderem implementar seus novos ideais, e os asseclas do Deus morto querem vingá-lo.

Seria muita ingenuidade minha imaginar que esse respeito irá existir plenamente. Os seres humanos são complexos, amam e odeiam ao mesmo tempo, são seres ambíguos. Vemos a vida como se olhássemos para um espelho. Vemos o mundo como representação de nós mesmos. Ou seja, tentamos impor nas pessoas as nossas vontades e desejos.

Com isto, resta-nos tentar achar uma resolução para essa problemática acerca dos valores cristãos que tem se perdido em nossa sociedade. Nietzsche tinha uma resolução para isso, acredito que não era uma resolução fácil, mas mesmo assim era alguma coisa.

Para o filósofo alemão, deveríamos suportar a angústia daquilo que era incerto, a dor da morte de Deus, até que conseguíssemos estabelecer novos valores morais. Em outras palavras, deveríamos ser super-homens, ir além do homem comum e encontrar um novo caminho.

Vivemos uma transição da cultura, onde as coisas velhas, aos poucos, vão cedendo lugar às novas. Porém, aquilo que é velho não quer dizer adeus e o novo insiste em encontrar seu lugar no mundo. O ser humano precisa encontrar uma forma de caminhar com suas pernas, sem projetar na figura divina suas conquistas e frustrações. Não afirmo e nem contesto aqui a existência de Deus; porque se Deus existe, ele independe de crença, ele simplesmente é. Mas afirmo que usamos e abusamos do sagrado para cometer nossos erros e ter alguém para nos justificar. Com a morte de Deus e os novos valores que tentam se impor, a contragosto de muitos, não há no horizonte alguém que possa nos servir de muleta. A sociedade vive seu caos cultural e moral.

Se quisermos uma sociedade atual onde haja o mínimo de respeito possível, é preciso entender que os valores cristãos nos ajudaram a encontrar um caminho para a paz, mas se os novos valores que estão vindo vão permitir que pessoas menosprezadas tenham mais aceitação, então é preciso recebê-los de braços abertos. O que não podemos fazer é escolher um lado dos extremos e tentar destruir o outro. Só haverá paz no mundo quando as pessoas com pensamentos contrários puderem, ao menos, dar um bom-dia sem se aniquilarem.

Felipe Pereira dos Santos
Enviado por Felipe Pereira dos Santos em 27/02/2024
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