RETRAÇOS DOS 60 ANOS DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2024
Em mais uma edição a Campanha da Fraternidade deste ano – sexagenária - surge no cenário da realidade contemporânea como um brado no ensaio do despertar da inconsciência coletiva que assola a comunidade ante os clamores da cidadania impostos pelo tempo.
Criada nas terras potiguares a partir do apoio de D. Eugênio Sales, na arquidiocese de Natal, paróquia de Nossa Senhora do Ó em Nísia Floresta, no remoto 1962, a Campanha da Fraternidade surge nos albores do Concílio Vaticano II, propulsor das transformações doutrinais e litúrgicas das quais a Igreja universal carecia, inspirada nos pontificados de João XXIII, o papa bom, seguido por Paulo VI na condução dos destinos da catolicidade em tempos muito difíceis de guerras e ditaduras sanguinolentas por toda a América Latina, principalmente no Brasil com o golpe cívico-militar de 1964 ocasionando a deposição de João Goulart e que deixou o País em alongado período de trevas. Tal período ditatorial foi denunciado e enfrentado em diversas campanhas cujos temas se reportavam às questões que eram relegadas ao descaso pelo Governo autoritário, então.
Surgida como “expressão da caridade e da solidariedade em favor da dignidade da pessoa humana...” a Campanha da Fraternidade alcançaria em 1963 dezesseis dioceses do Nordeste e, por sugestão de D. Hélder Câmara, arcebispo de Olinda e Recife, sua extensão por todo o território brasileiro em toda a estrutura eclesial das dioceses e paróquias existentes no ano vindouro.
Movidos pelos sentimentos de renovação proporcionado pelo Vaticano II os bispos do Brasil aprovaram o texto base para delinear a Campanha, tendo, então, sua primeira edição em nível nacional nos idos de 1964 evocando a lembrança de cada um em ser igreja.
Encetada no tempo quaresmal a campanha da fraternidade não se furtou na abordagem dos temas relativos às questões humanas e sociais refletidas nos mais diversificados temas e lemas conhecidos de todos. Um Fundo Nacional de Solidariedade para o apoiamento de projetos em todo o Brasil foi instituído e uma coleta nacional de solidariedade é feita nos atos litúrgicos do Domingo de Ramos e destinado o recurso oriundo deste dia para projetos sociais em âmbito diocesano e outros indicados pelo FNS para todo o território nacional.
Ancorada no tema deste ano - Fraternidade e Amizade Social e lema “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23, 8) -, a Igreja procura refletir sobre as necessidades relativas às relações humanas no sentido da busca de uma sociedade fraterna e igualitária e onde todos se respeitem em meio à diversidade de pensamentos, de cores e crenças num tempo de crescentes inimizades, amplificação do ódio que corrói a sociedade e da indiferença contagiante que tem forçado a recusa da verdade que liberta.
Alguns temas abordados nas campanhas ocasionaram repulsa entre grupos conservadores no mundo católico, uma vez que esses grupos reacionários sempre se posicionaram avessos à Campanha rotulando-a de subversiva, comunista e contrária ao ideário católico. Esses mesmos agrupamentos de reacionistas atacam o pontificado inspirado do grande papa Francisco. Tais ajuntamentos de quase sedevacantistas buscam uma igreja saudosista ambientada na imagem de um Deus que pune e não tem misericórdia, na exacerbação do clericalismo doentio que em nada ajuda a Igreja que, desprovida de olhar maternal, ignora o sofrimento dos mais vulneráveis, objetos da contemplação das conferências de Puebla e Santo Domingo.
Os temas escolhidos a cada ano tiveram assento em variáveis contextos do cotidiano como vida, educação, saúde, ecologia, mundo do trabalho, fraternidade e violência, entre outros. A experiência da Igreja norte-rio-grandense serviu de base no intuito de que se desse formato ao modelo de campanha da fraternidade que se tem hoje.
Promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB – a Campanha da Fraternidade tem a missão precípua de despertar a consciência da sociedade na discussão de temas específicos e suas consequentes soluções, provocando a comunidade para o despertar da consciência no tocante àquilo que está sendo proposto enquanto alvo de apreciação.
Este ano a Campanha tem por escopo discutir e aprofundar a questão da retomada da amizade no meio social e a fraternidade como caminho a ser perseguido, amplamente buscado com o fito de que se possa conviver com os contrários, estender a mão aos que precisam de apoio e auscultar os reclamos de quem padece de alguma dificuldade.
O objetivo primordial da Campanha da Fraternidade é proporcionar o envolvimento da sociedade, especificamente da comunidade eclesial, na busca das transformações da realidade por que passa a condição humana hodiernamente.