O início da Bíblia

 

O INÍCIO DA BÍBLIA

Miguel Carqueija

 

“No princípio, Deus criou os céus e a terra.” (Gen 1,1)

 

Estas as palavras com que a Bíblia começa, abrindo o primeiro livro das Sagradas Escrituras: o Gênesis, o livro das origens, cuja autoria a tradição atribui a Moisés.

Esta frase, na sua simplicidade, já apresenta uma imensa sabedoria, e sabemos que a sabedoria se liga à verdade.

“Os céus e a terra.” “Céus”, no caso, significa o universo astronômico, das galáxias; o exato significado do versículo é que o mundo material foi criado, teve um início no tempo.

Notem bem, mesmo que a Terra tenha surgido bilhões de anos após o princípio do universo, isto combina com o texto bíblico: ela veio depois da Criação original.

A Revelação Cristã não entra em choque com a Ciência: elas se completam mutuamente. Entendemos pela Revelação que o universo não é eterno, pois começou; não é tão fácil assim provar sobre o futuro, mas desde que houve um começo, cremos que haverá um fim. Quanto a Deus, Ele é eterno por natureza.

Em minhas discussões com ateus, quanto procurei demonstrar que o universo não pode ter criado a si mesmo ou surgido por acaso, topei co este argumento: “E se o universo sempre existiu?”

Ora bem: este argumento carece de valor a não ser como mera hipótese que teria de ser capeada por provas ou indícios respeitáveis. Não se verifica isso. Não parece ser mais que uma tentativa de escapatória dos nossos irmãos ateus, na falta de argumentos sólidos. Mas até a Filosofia se opõe a um universo eterno porque, para tanto, o passado deveria ser infinito. Porém, se não existe no passado uma âncora a partir da qual passa a existir o mundo material, se o tempo é infinito na direção do passado então você nem poderia estar lendo estas linhas porque você simplesmente não existiria. Pense bem: como poderia acabar uma coisa infinita? Se o passado fosse infinito ele não terminaria e o presente jamais chegaria.

Parece loucura? Então tente mergulhar a sua mente num passado que não acaba. Projete a sua imaginação para milhões, bilhões, trilhões, quatrilhões de anos para trás, e aí lembre que nada disso pesa num tempo infinito; você verá que é mesmo de endoidecer. E quanto mais você teimar em que o passado pode acabar sim porque existe o presente, continue a imaginar mais eras e eras para trás. Eras sem fim. Na verdade, se o passado terminou é porque ele começou.

Vejamos agora como a Ciência, com C maiúsculo, confirmou a frase inicial da Bíblia e também a famosa expressão “fiat lux” (faça-se a luz!) (Gen 1,3). Isto veio através do grande físico e cosmólogo Georges Lemaitre, sacerdote católico belga (1894-1966), que lançou o conceito que veio a ser conhecido como o “big bang” ou a grande explosão inicial. O Professor Felipe Aquino observou recentemente que o nome mais apropriado é “grande expansão”, o surgimento do universo das galáxias que vão progressivamente se afastando umas das outras. Einstein aprovou o modelo, que porém deveria ser confirmado pela existência de uma partícula que ficou conhecida como o “bóson de Higgs”.

Essa “grande expansão” começou numa singularidade, ou seja uma estado de excessiva concentração de matéria que, liberando-se, resultou num universo em expansão já há mais de 14 bilhões de anos conforme cálculos modernos. Um incrível universo espaço-temporal, pois o que fica mais longe no espaço também se encontra mais para trás no tempo, por causa da velocidade finita da luz: só enxergamos as imagens que a luz nos traz ou, com os devidos instrumentos, captamos as ondas eletromagnéticas acima e abaixo da radiação luminosa.

Em 4 de julho de 2012 foi identificado o Bóson de Higgs (nome que se refere ao cientista Peter Higgs) pelo Grande Colisor de Hádrons.

FIAT LUX!

Rio de Janeiro, 9 de agosto de 2017 a 23 de janeiro de 2024.