A CANÇÃO DA NOITE ESCURA... MONGE SÃO JOÃO DA CRUZ...# M #

CANÇÃO DA NOITE ESCURA.

Canto o mundo

Em eterno desencanto.

Diante de nós a descrença,

O horror,

O espanto.

Sinto a marcha do tempo

Pelos vastos campos minados.

Diante de nós a noite

Cada vez mais negra,

E as nuvens

Cada vez mais densas.

Mas nada

Me tira o sonho

De conspirar com as estrelas.

Só eu e ela sabemos:

A noite tem seus segredos.

E sigo em frente cantando,

Semeando canções ao vento.

Mesmo tateando a esmo,

Canto a alvorada.

Espanto o medo.

Poesia escrita pela minha irmã

Mari Watanabe, aqui do

Recanto das Letras.

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Esta poesia, a canção da noite escura toca muito forte os nossos corações, pois mostra o lado sombrio da humanidade, em um momento muito cruel onde as guerras, milhares de vidas de inocentes estão sendo ceifadas.

O mundo chora a canção da noite escura em vastos "campos minados", onde os dias estão cada vez mais negros e as nuvens cada vez mais densas.

Estamos passando por um tempo de "secura espiritual", um tempo de provações.

Lendo a poesia da minha irmã, lembrei do místico São João da Cruz, muito valorizado pela sua espiritualidade e ele traz a sua obra "A noite escura da alma".

Os escritos desse monge carmelita tornaram se muito emblemáticos e muitos autores se inspiram nele para explicar a busca da iluminação.

A "noite escura da alma" é uma metáfora de uma experiência mística trazendo tanto o sofrimento pelas nossas partes sombrias, o lado escuro, quanto a nossa busca pela nossa iluminação.

Na psicologia, a noite favorece o despertar do nosso inconsciente, do desconhecido. Jung traz " Luz e Sombras", uma dualidade presente em todos nós que nos acompanha na nossa caminhada evolutiva, embora muitos aspectos sombrios não estejam à luz da nossa consciência.

Quando começamos a iluminar algumas partes sombrias, estamos integrando as nossas polaridades em um processo de aceitação, nunca negando-as.

Com a amplificação da nossa consciência podemos favorecer o "despojamento do ego", o que favorece a nossa elevação espiritual, um caminho para uma experiência transcendente.

Por despojamento podemos entender uma passagem para a purificação dos nossos sentidos, libertos dos nossos excessos, ficando mais livres da matéria , dessa forma podemos ir lapidando os nossos vícios e imperfeições.

Por vícios, São João da Cruz refere-se a soberba, a inveja, avareza, o orgulho, a luxúria, a raiva, a preguiça e a gula, referindo -se a eles como "vícios espirituais" pois tornam as almas frágeis, enfraquecem, pois vão além do que a nossa natureza humana possa resistir e suportar.

E hoje, no mundo estamos a observar muitas " práticas externas" de adoração, o culto aos próprios ídolos ou imagens, e como humanos acaba-se venerando o que vêm das mãos do homem, a chamada "idolatria".

A prática exagerada aos prazeres do mundo pode ser a causa e a origem de todos os demais vícios;

acaba-se irritando contra si próprio, a medida que as próprias imperfeições são reveladas. Acaba se achando superior aos demais, quando deveria ser mais humilde e tolerante; pode se apoderar do sentimento de inveja pelo progresso espiritual percebido nos outros.

E quantas vezes pode surgir um "sentimento de tédio", uma falta de interesse ou uma fuga pelas coisas espirituais; esse vazio espiritual ou existencial pode ser fruto dessa falta de sentido de vida, a não procura por propósitos de vida que ajudam a enriquecer e dar significados a nossa existência.

Todos nós atravessamos as nossas noites escuras, tanto pela falta ou pelo excesso de luz, parecendo ser um paradoxo!

Que iluminemos as nossas partes sombrias para entrarmos em contato com as nossas imperfeições, nunca negando a nossa dualidade, porém também que nos afastemos do excesso de luz em demasia, pois ela pode ofuscar o nosso campo perceptivo e a não percebermos que limitados somos, sendo essa "falta" inerente a nossa condição humana.

Ouçam: A noite escura da alma.

São João da Cruz.

https://youtu.be/jYakll973DY?

si=3ILtOcv581y2tkNO

Lélia Angélica
Enviado por Lélia Angélica em 01/11/2023
Código do texto: T7921882
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