O Terceiro Testamento?
O vocábulo “testamento”, como origem do termo, não se encontra literalmente na Bíblia. A palavra portuguesa testamento, que corresponde à hebraica berith, chegou até nós através do latim testamentum. No caso designando a aliança (pacto, contrato, etc.) que Deus fez com o povo de Israel.
Mesmo se fosse um vocábulo originalmente bíblico, o termo Antigo Testamento – como título bíblico – estaria meio fora de foco; ou seja: se fosse para ser dado um título bíblico à coleção de escritos que conhecemos como Antigo Testamento, talvez este não fosse o termo. Começa que, antes de ser formado o Novo Testamento, Torah não era “o antigo”, mas primeiro ou único. Claro! Daí “antigo” ou “velho” não ser um bom título para a aliança que Deus fez com o povo de Israel no Monte Sinai. Depois, se pode falar de um Canon, este é referente a um conteúdo implicitamente bíblico; de qual não há lugar para um título fazer parte integral.
Melhor seria se os tradutores da Septuaginta tivessem colocado Primeira Aliança e Segunda Aliança para as respectivas coleções de escritos. Em assim sendo, São Jerônimo, na revisão latina e à proporção que a tradição se deslocava paulatinamente para o continente europeu – via mundo helênico –, teria mantido Primeiro Testamento e Segundo Testamento.
Por outro lado, talvez não houvesse o interesse em se enumerar tais pactos divinos, à época, porque levaria a não se firmar o Canon. Pois a enumeração daria margens a intenção de subentender a condição de outros testamentos. Condição nada agradável para as acirradas igrejas emergentes da época. Porém com a quebra do referido Canon, pela revolta protestante, quando passa a ter duas bíblias, abrem-se tais margens para os frenesis de revisões dos escritos à luz das novas teologias emergentes.
Na verdade, ali houve mais uma revolta, ou protesto, que uma reforma religiosa. Em todos os âmbitos. A Reforma pegou, sim, carona na revolta e perdura até os dias de hoje. Daí as bíblias na “linguagem de hoje”, “de ontem”, “bíblia da mulher”, etc., adentrando a modernidade. Sem, contudo, se chegar a um denominador comum.
Nesses garimpos de nosso universo teológico, prospecções, lapidações e polimentos de conteúdos implícitos nas preciosidades das escrituras, verifica-se que ainda há muito a desvendar para se chegar ao brilho desejado. Realmente valorizado e digno, concernentes aos escritos. Verifica-se que inda há muito a se aflorar dos ostracismos contidos nas nossas cavernas teológicas.
Que dizermos, por exemplo, de termos agrupados os escritos em “dois testamentos”, mas estando estes pessoalmente contidos numa unidade trina: Pai, Filho e Espírito Santo. Tremendo paradoxo, por testamentos serem individuais. Todavia se já há o testamento do Pai e o testamento do Filho, conseguintemente temos que rebuscar por um TERCEIRO TESTAMENTO: o testamento do Espírito Santo.
Onde tal testamento está? O que é feito dele? Ou é uma obra em acabamento?