A lógica da Cristandade
A LÓGICA DA CRISTANDADE
Miguel Carqueija
Nota: artigo escrito para a Páscoa de 2017, inédito no Recanto das Letras.
Por ocasião de mais esta Semana Santa, que tal aprofundar um pouco os fundamentos do Cristianismo e ver por que só ele explica a História? Afinal por que acreditar em Jesus e sua mensagem? Vivemos numa época estranha em que pessoas que se dizem cristãs desprezam a Bíblia e a Religião, dizem que tudo isso é invenção do homem (mas mesmo assim se dizem cristãs, católicas).
A razão mostra que Deus é o ser necessário e eterno, não teve começo no tempo porque Ele criou o tempo (a maioria das pessoas tem dificuldade de entender que o tempo só existe em função dos eventos que nele ocorrem, vale dizer do espaço, matéria e energia; o próprio Lincoln Barnett, no belo livro “O universo e o Dr. Einstein” afirma que, quando vier a entropia final do universo, o tempo cessará de existir).
O Criador gerou seus seres espirituais, os anjos, e como ensinou o Padre Paulo Ricardo, fez com eles uma prova, como com Adão e Eva, mais tarde. Não sabemos o que foi, mas Lúcifer (que assim virou Satanás, ou seja o Adversário), até então um anjo de luz de primeira grandeza, rebelou-se contra Deus motivado pela soberba. Acreditou ou desejou ser como Deus e ser adorado como uma divindade. Atraiu, diz-se, uma terça parte dos anjos, que assim fundaram, por assim dizer, o inferno. Pelo que sei, embora não tenha lido a obra, o “Paraíso perdido”, poema épico de Milton, atribui a Satanás a afirmação de que, a ser um servo no Céu, preferia comandar o Inferno.
Há quem teorize que a revolta dos anjos deu-se por inveja de Jesus Cristo, que viria no futuro longínquo e que, sendo homem (ao menos em sua segunda natureza, pois era de fato o Verbo de Deus encarnado), repugnava-lhes adorar, por serem os anjos superiores aos homens. Não vejo fundamento nessa ideia que apresenta até um paradoxo temporal, pois os anjos caídos teriam se rebelado contra a encarnação do Verbo que eles próprios (através de seu líder) haviam provocado ao causar a queda de Adão e Eva.
A serpente que tenta e seduz os Primeiros Pais no Éden é na verdade o diabo, como vem a ser perfeitamente esclarecido por São João Evangelista em seu Apocalipse:
“Houve uma batalha no Céu. Miguel e seus anjos tiveram de combater o dragão. O dragão e seus anjos travaram combate, mas não prevaleceram. E já não houve lugar no Céu para eles. Foi então precipitado o grande dragão, a antiga serpente, que é o demônio e Satanás, o sedutor do mundo inteiro. Foi precipitado na Terra e com ele os seus anjos.” (Ap. 12, 7-9)
Porque Adão e Eva, vencidos pela tentação do diabo, perderam suas prerrogativas, a graça original, não puderam transmiti-la à sua descendência. E Deus, por sua grande generosidade, enviou então a si mesmo, na Segunda Pessoa (o Verbo, ou Palavra de Deus) que assumiu por hipóstasis também uma natureza humana, e o Homem-Deus, Jesus Cristo, apresentou-se no mundo, milênios após Adão e Eva, na “plenitude dos tempos” para oferecer uma nova chance à humanidade, através da redenção pelo Sangue do Cordeiro e sua Ressurreição.
Daí surgiu a Igreja, pois após a ressurreição e ascensão de Jesus estavam os apóstolos, discípulos e a Virgem Maria reunidos no Cenáculo de Jerusalém, orando e aguardando, quando o Espírito Santo (o amor de Deus, a Terceira Pessoa; como explica São Tomás de Aquino no “Compêndio de Teologia”, Deus é sempre apenas um, as diferenças entre as Pessoas são apenas diferenças de relação na intimidade de um mesmo ser) desceu em forma de línguas de fogo para iluminar a Igreja nascente. E desde então existe no mundo uma Igreja que Deus protegerá das mais horrendas perseguições (como as que se sucedem hoje em dia no Oriente Médio, com cristãos sendo queimados vivos, decapitados e crucificados) até o fim do mundo e o Julgamento Final da humanidade, e que na verdade não será o fim mas um novo começo.
Boa Páscoa a todos e a todas.
Rio de Janeiro, 10 de abril de 2017.
imagem pinterest: Igreja de São Francisco de Assis, Ouro Preto, Minas Gerais.