Tristeza e Alegria como Autopoiésis

Tem sido muito comum atribuir a responsabilidade dos males das pessoas a sua livre escolha, como se alguém deliberadamente escolhesse ser triste ou ser alegre. Não há endereço da tristeza e nem da alegria. Somos reféns do mundo à nossa volta. Pouco conseguimos ter controle. Não há um caminho reto que nos leve a esses lugares.

 

Somos seres autopoiéticos que se reproduzem e interagem com o meio que é um sistema autopoiético. Não temos como prever as futuras interações com o meio e nem com as novas redes celulares que vão se criando. A vida depende desse processo de autoprodução e de adaptação, de autorregulação, garantindo sempre as novas interações com o meio.

 

Não há nenhum agente externo que possa servir como causa desse processo. Desta forma, os sentimentos de tristeza e de alegria não dependem dos atos da vontade, mas do processo de autopoiésis, de autoprodução, dos processos de interação com o meio.

 

É preciso alimentar em cada um de nós o sentimento de humildade diante desses processos, de paciência, e de ação nas interações com o meio. Então, uma pessoa deprimida chega num momento que precisa sair de casa, pois se ali permanecer será seu fim. Não há alimentação de interações do meio. Não verá o sol de verão se não sair de casa.

 

Por fim, chega de culpar os céus, de fazer pedidos obscenos a Deus nas orações como se ele fosse um mágico disposto a resolver todos os nossos problemas. Aliás a própria ideia de Deus está situada nesse processo de autopoiésis. Por isso os medievais diziam de uma criação contínua do mundo e não de um fato tópico situado num passado remoto. Deus continuaria e continua ativo na história, mas sem ser um mágico milagroso.

 

Como reflexão eu deixaria uma pergunta: será que estamos alimentando processos autopoiéticos que nos garantam a sobrevivência nesse mundo, ou processos de autodestruição? Em meu pensamento, não estamos cuidando das interações do meio e com o meio no que se refere à violência. Estamos alimentando o sentimento de vingança e ódio entre as camadas sociais mais pobres. A farda militar não serve para muita coisa nas escolas; educam para o medo e com consequências nefastas posteriormente. A farda militar não serve à paz, jamais. Apenas à guerra, à morte. Soldado nenhum vai gritar pela paz com um fusil apontado para o inimigo! Ele que se cuide, pois do outro lado a bala é certeira.

Edebrande Cavalieri
Enviado por Edebrande Cavalieri em 14/07/2023
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