A religião é legitimamente conservadora e radical
Mais uma demonstração de abordagem em múltiplas perspectivas com base em uma hipótese de minha autoria sobre a origem da crença religiosa.
Então, eu levantei a hipótese de que a religião consiste fundamentalmente em um autocentrismo, em uma perspectiva muito centrada em si mesma, também presente em todas as outras espécies, por ser um impulso extremamente básico, de vivenciar, sentir e perceber o mundo em que se encontra primeiramente pela própria perspectiva. As maiores diferenças são que a religião tem o suporte da linguagem e da imaginação humanas e que consiste numa readaptação deste autocentrismo que, antes da emergência da autoconsciência e da inteligência de nossa espécie, era vivenciado da mesma maneira que das outras espécies, completamente ignorante ao mesmo, para um contexto a partir e posterior a esse desenvolvimento de nossa complexidade mental, em que nossos ancestrais passaram a perceber e a se interessar ao que estava além de suas necessidades adaptativas imediatas, incluindo questões existencialmente profundas, sobre o que é a finitude ou morte, a vida, a realidade, suas origens, se existe um outro mundo...
Pois ao invés de buscarem responder essas questões de maneira lógica, nossos ancestrais ou pelo menos uma provável maioria deles, em todo mundo ou convergentemente, se basearam naquilo que entendiam do mundo, por suas próprias perspectivas, isto é, de maneira autocêntrica, de antes da complexidade mental.
Daí, surgiram as explicações antropocêntricas.
Em outras palavras, uma visão de mundo anterior ao marco evolutivo da etapa final de aumento da inteligência de nossa espécie, na era pré histórica, pelo desenvolvimento da linguagem e da cultura, sobreviveu e se impôs na grande maioria das comunidades humanas em um cenário posterior à esse aumento.
Radical e conservadora
A religião é a conservação de uma maneira de compreender o mundo que é anterior à emergência da cultura e da linguagem, ou da inteligência complexa humana.
Mas, em termos lógico-racionais, a religião é uma maneira radical de pensamento, se é basicamente a imposição de afirmações extraordinárias sem evidências extraordinárias como verdades absolutas. Uma maneira bastante precipitada de pensar: analisar e julgar.
Portanto, em múltiplas perspectivas, a religião é, ao mesmo tempo, conservadora, evolutivamente, e radical, racionalmente.