ESPIRITISMO E SINCRETISMO

O Espiritismo é um só, é a doutrina codificada por Allan Kardec e surgiu com o lançamento de “O Livro dos Espíritos em 1857. Portanto, não há outros tipos de espiritismo. O próprio nome "Espiritismo" foi um neologismo [1] criado por Kardec para diferenciar a nova doutrina do espiritualismo.

Acontece que, em nosso país, o sincretismo religioso é muito forte e por essa razão, existe muita confusão, principalmente entre as religiões que utilizam o mediunismo em suas práticas e ritos, como o próprio espiritismo e diversas outras formas de religiosidade principalmente a afro-indígena.

Na verdade, Mediunismo e Espiritismo, ao contrário do que a maioria das pessoas acredita, não são sinônimos. O mediunismo, engloba uma variedade de faculdades naturais que proporcionam o relacionamento com o mundo espiritual, essas capacidades são inerentes ao ser humano e independem de religião, crença ou doutrina. O Espiritismo estuda e pratica o mediunismo, mas nem toda prática mediúnica pode ser classificada de Espiritismo, assim como nem todo médium pode ser considerado espírita.

É justamente essa falta de conhecimento, que faz com que, popularmente, toda e qualquer experiência religiosa na área da mediunidade, ainda seja vista como sendo Espiritismo e todo individuo que apresente algum tipo de mediunidade ostensiva seja apontado como espírita, mesmo que não tenha qualquer ligação ou compreensão acerca da Doutrina.

Por esse motivo, muitas pessoas que simpatizam com a Doutrina dos Espíritos e gostariam de frequentar um Centro Espírita ainda encontram dificuldade em discernir entre uma instituição puramente vinculada ao Espiritismo e as instituições de origem sincrética, isto é, que são o resultado de um sincretismo ou combinação de elementos doutrinários do espiritismo com outras formas de religiosidade.

E essas instituições, apesar de utilizarem em sua fachada a placa de Centro Espírita, são casas alinhadas geralmente às religiões de matriz afro-indígena [2]. Apesar das facilidades dos dias atuais, com a maior disseminação de informação pelos mais diversos meios tecnológicos, ainda existe muita confusão e desconhecimento sobre a Doutrina Espírita.

Nas reuniões espíritas não utiliza-se velas e também não se emprega e nem se recomenda banhos de ervas ou sal grosso, nem a ingestão de bebidas sagradas. Sendo o Espiritismo desprovido de rituais, sacramentos, cerimônias de iniciação, sacerdócio, imagens e objetos sagrados de qualquer tipo.

O objetivo dos nossos escritos não é desmerecer quaisquer religiões mas, esclarecer o que é e o que não é Espiritismo. Cada individuo tem afinidade com essa ou aquela escola religiosa e suas escolhas devem ser respeitadas.

Assim, todas as formas de religiosidade têm as suas particularidades, seus objetivos e a sua missão, portanto, as casas sincréticas são instituições respeitáveis e certamente detentoras de elevado conceito em suas comunidades, seus ritos e doutrinas devem ser reconhecidos e legitimados. E a grande maioria de seus adeptos [3] utilizam seus oráculos e formas de manifestação, de maneira responsável e caritativa, mas, ainda assim, não se pode confundi-las com o Espiritismo.

As liturgias e doutrinas sincréticas divergem da forma como o Espiritismo foi codificado e é praticado em as suas casas de oração. O Espiritismo enfatiza a simplicidade nas suas reuniões e o desenvolvimento natural da mediunidade, sem expedientes externos, como bebidas à base de plantas capazes de alterar a consciência, por exemplo.

Portanto, o Espiritismo e as diversas formas de Espiritualismo têm por missão demonstrar que não somos meramente seres materiais, somos centelhas espirituais em crescimento e em constante evolução, porém, cada agrupamento religioso tendo suas diretrizes e características, não podem ser confundidos para melhor podermos desempenhar nossos papeis na seara do Criador.

[1] Neologismo - Consiste na criação de uma palavra ou expressão nova, ou na atribuição de um novo sentido a uma palavra já existente.

[2] Existindo também mistura com vertentes de outras matrizes não ligadas às tradições africanas e indígenas.

[3] Dissemos “a grande maioria” porque não podemos também deixar de observar (e isso é reconhecido por muitos seguidores) que existem muitos charlatões travestidos de sacerdotes que se dizem médiuns para melhor cativar e atrair os futuros clientes para seus embustes, maculando o trabalho legitimo dos verdadeiros representantes da religiosidade afro-indígena. É uma realidade que se pode observar nas paredes de nossas ruas.