Uma pequena explicação sobre a infalibilidade papal

 

A infalibilidade do papa é dogma de fé da Igreja Católica e significa a proteção do Espírito Santo para que a Igreja não se desvie de sua missão de fortaleza de Deus na Terra. Entretanto, creio que a maior parte das pessoas não conhece em detalhes como funciona este dogma.

É fácil entender. Esta infalibilidade não se refere a tudo o que o pontífice faz ou diz. Já em criança aprendi nas aulas de religião que "o papa é infalível mas não é impecável". Ele pode pecar e até gravemente. Sabemos que Alexandre VI, o Bórgia, era um libertino e inclusive, pai de Lucrécia Bórgia. Mas nos documentos oficiais nem ele nem papa algum alterou a doutrina da Fé. Nunca nenhum papa, por exemplo, negou a Presença Real de Cristo na Eucaristia.

Li certa vez um texto de Paulo VI onde ele se refere à América Latina como "continente". Ora, a América Latina não é um continente. Paulo VI cometeu erro de Geografia. Mas isso pode acontecer.

A infalibilidade papal, para se manifestar, precisa de quatro requisitos e nenhum deles pode faltar. Vejamos:

1) O papa deve falar como papa. Não vale por exemplo o que ele possa ter dito antes da eleição, mesmo como cardeal, ou o que fale depois da renúncia.

2) É preciso que esteja se dirigindo à Igreja inteira, não a uma congregação, uma pessoa, a Igreja em determinado país ou algo semelhante. Penso que isso exclui entrevistas a órgãos leigos da imprensa pois se dirigem ao público desse órgão.

3) Deve tratar de doutrina ou moral. Não inclui opiniões políticas, onde papas podem errar e efetivamente isso já ocorreu ao longo da História.

4) Finalmente, deve haver a intenção de definir ou confirmar um ou mais pontos de doutrina ou de moral. Assim, quando Pio XII proclamou em 1950 a Assunção de Nossa Senhora (ou seja que ela ressuscitou) isto não é possível de discussão por parte dos católicos pois, como escreveu o grande Santo Agostinho, "Roma locuta, causa finita" (Roma falou, a questão acabou).

Assim, deve ficar claro que, não existindo essas quatro condições, o papa não é infalível e mesmo os católicos podem discordar dele, resguardando porém o respeito devido e não olvidando a visão de conjunto pois, mesmo que um papa erre num determinado assunto, não quer dizer que erre tudo ou a maior parte; muito pelo contrário, a tendência é que seus erros sejam muito poucos. Todos os pontifices que passaram na minha vida (isto é, contemporâneos) são admiráveis.

 

Rio de Janeiro, 4 de abril de 2023.

 

imagem Pinterest (o Vaticano)