Encarando a questão

A evolução espiritual, de que o homem é instrumento, reclama o ato voluntário e consciente sem espera do concurso dos tempos.

Incúria, desídia estabelecem o status quo.

A tutela divina destina-se aos seres pequeninos, que ainda dormitam em inteligência e razão.

O espírito humano rompe com esta dependência, ao comer o fruto da árvore do conhecimento; dota-se de livre arbítrio, responde pelas escolhas que fizer.

Às vezes é-lhe necessário conhecer o erro para melhor fixar o acerto. Errando, exclui aquela escolha, restando apenas a correta.

Aparentemente aventureiro, corre o risco; se sai vitorioso, cresce, avança. Deus cria o risco, o espírito humano submete-se, vencedor, é premiado.

Uma das questões que nos afetam, diz respeito à alimentação onívora, em que se inclui o item da carne animal.

Debates sem-fim e acalorados estimulam os defensores e os contrários a seu uso como alimento.

Os defensores justificam-se afirmando, peremptoriamente, que não há proteínas sucedâneas (para as animais) em teor de importância e valor nutricional; que sem elas, o homem expõe-se a quadros de debilidade por vezes irreversível.

Os contrários contra-argumentam e até mesmo tentam refutar, aduzindo exemplos condicionais em que seres vivos em longevidade absolutamente não têm incluída na dieta a carne, indo mais além, irônicos, pois segundo lhes parece, alguns desses animais cujas carnes serviriam para consumo na dieta humana justamente por não se nutrirem de carne!

Dois aspectos servem de pilares para a discussão: o biohigiênico e o moral.

Considerar a ambos como pauta de conduta ideal estaria mais de acordo com o sentido da importância que o espírito humano deva dar a si mesmo.

O aspecto moral evidencia a reflexão e preocupação, envolvendo o sentimento de humanidade, com a sorte infeliz dos irmãos inferiores, quanto mais complexos em organização.

A postura do vegetarianismo/veganismo por este aspecto já incorpora implicitamente o segundo.

O aspecto biohigiênico, separado daquele, não determina necessariamente postura filosófica, humana, consciente, apenas significa o cuidado dispensado à saúde corporal.

Desta forma é possível não se ingerir carne, todavia, lidar com pecuária, sendo negociante de gado de corte, na condição de pecuarista latifundiário. Pode-se não digeri-la, no entanto, ter-se o caráter belicoso ou autodefensivo extremo, portando-se armas em recinto doméstico. A propósito, afirmam que Adolf Hitler era vegetariano.

Condutas contraproducentes anulariam o mérito da postura vegetariana.

A Bíblia alude a esta questão, principalmente no antigo testamento, no livro primeiro de Moisés, o Gênesis.

Repleto de alegorias, figuras de linguagem, refere dois momentos de humanidade, pelo menos enseja esta inferência.

No primeiro, a humanidade mais depurada, obediente, tem a permissão de se alimentar pela dieta vegetariana. Deus dá-lhe o direito, e não somente ao homem, mas a todos os seres vivos, estabelecendo esta nutrição geral. (Gên cap. 1 v. de 29 a 30)

No momento posterior, à conduta desobediente, em que o espírito humano retarda racionalmente o seu progresso, através de atos de livre escolha, eis que uma nova humanidade recomeça, a partir de Noé, neste estágio ao homem é permitido ser onívoro, alimentar-se da carne, mas sem alma, sem sangue, não-viva. (Gên cap. 9 v. de 3 a 4).

Alma como princípio individual indestrutível e que sobrevive ao decesso biológico pela disjunção celular com metamorfose da matéria.

Mas não lhe foi ditado que tirasse a vida para se alimentar (da carne).

Ora, uma vez que poderia comer a carne do animal, sem a alma, sem sangue, não-viva, deduz-se que na sua condição inexistencial: ao homem seria dado aproveitar-se da carne do animal que morreu, mas não provocar-lhe a morte para se alimentar de sua carne, sem alma, sem vida, sem sangue; ou seja, destruir-lhe a vida é arbítrio humano, com assunção adulta das consequências deste ato.

Não cabe, no entanto, desdobrar-se em argumentos, exaltando o ponto de vista econômico, a carência regional de outro tipo de alimento e coisas que tais.

O que se enfatiza é o espírito humano diante de sua necessidade de assumir, responsavelmente, posturas que lhe indiquem ou comprovem avanço em concordância ao plano diretivo supremo da evolução — para frente e para o alto!

A natureza humana não é definitiva, mas suscetível de aperfeiçoamento. O objetivo é o da superação. A própria religião não exclui ou refuta este objetivo. O sofrimento é aceito de um modo ativo, maneira pela qual adquire-se a pretensão, devir, recompensa de uma vida melhor, ditosa, sem dor e necessidades precárias, segundo o ponto de vista de algumas religiões.

O mundo não é o mesmo. O homem, a cada dia, dá saltos espetaculares, superando deficiências, melhorando o modus vivendi, não tanto quanto o avanço intelectual, tecnológico, mas em sentido moral também.

Se, o homem, ficasse de braços cruzados, esperando nova ordem de coisas, sem provocá-la, sem se expor a riscos, certamente que da caverna jamais sairia...

Sob o ponto de vista nutricional, aceita ou não a condição de onívoro, assumindo as consequências.

Pode conformar a sua natureza à de um mundo (para a qual esteja) em que é normal expulsar à força a alma dos seres, para nutrir-se de sua carne; normal abater com instrumentos cortantes animais de complexa organização... mundo normalíssimo em que não se constitui surpresa servir-se da faca, do facão, da foice ou do recurso sofisticado do revólver para crivar de projéteis mortíferos o próprio semelhante, no saldo de preservação da natureza grosseira, densa de seu perispírito, o qual se diafaniza exclusivamente pela elevação do seu proprietário, repercussão inevitável tornando-o translúcido.

Portanto, não deveria ignorar que a alimentação é um dos itens a constar na natureza que define e caracteriza os espíritos humanos que habitam as casas incontáveis (planetas do Universo) do Pai, que é justo, dando-as a cada um conforme o seu esforço e suas condições de habitabilidade, uma vez que evolução implica suor e mérito

Seraphim
Enviado por Seraphim em 29/03/2023
Código do texto: T7752030
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