A propósito de uma canção do Gilberto Gil

 

Esta antiga canção de Gilberto Gil (década de 1960) apresenta detalhes que, a meu ver, merecem sério questionamento.

Ela começa dizendo já de forma muito pouco reverente: “Olha, lá vai passando a procissão/se arrastando que nem cobra pelo chão.”

Eu lembro que esse trecho foi objeto de discussão no programa de jurados de Flávio Cavalcanti e houve quem defendesse a letra, com o argumento de que as procissões parecem mesmo cobra se arrastando pelo chão.

Ora, não tem a mínima semelhança. Procissão caminha lentamente e em linha reta, a não ser que tenha de virar a esquina ou que a própria rua seja encurvada. As cobras se movem rapidamente e coleando o corpo. Além disso o caráter difuso da procissão também a torna visualmente diferentíssima de uma cobra “se arrastando pelo chão”. A intenção de zombaria salta aos olhos. Estou exagerando? Gostaria, mas é a impressão que eu tenho.

Mas tem coisa pior nessa letra. Gilberto Gil comete uma direta ofensa à pessoa sagrada de Jesus Cristo:

 

Eles vivem penando aqui na Terra

Esperando o que Jesus prometeu

E Jesus prometeu coisa melhor

Prá quem vive neste mundo sem amor

Só depois de entregar o corpo ao chão

Só depois de morrer neste sertão

Eu também tô do lado de Jesus

Só que acho que ele se esqueceu

De dizer que na Terra a gente têm

De arranjar um jeitinho pra viver.”

 

Ah, quer dizer que Jesus, o Verbo Divino, esqueceu? Jesus está desmemoriado? Será que Gilberto Gil se deu ao trabalho de ler os Evangelhos?

Pois vejam o que diz o Evangelho de São Lucas (Lc 12, 29-31):

“Não vos inquieteis com o que haveis de comer ou beber; e não andeis com vãs preocupações. Porque os homens do mundo é que se preocupam com todas essas coisas. Mas vosso Pai bem sabe que precisais de tudo isso. Buscai antes o Reino de Deus e sua justiça e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo.”

É falso, portanto, que Jesus tenha “esquecido” as necessidades sociais ou físicas, ou que pregasse o conformismo total diante de situações injustas. E tanto isso é verdade que a Igreja Católica criou a DSIS, com as soluções do amor, antes que viesse Karl Marx com suas soluções de ódio.

E na DSIS (Doutrina Social da Igreja Católica) encontramos solução para todos os problemas da sociedade humana.

 

Rio de Janeiro, 28 de fevereiro e 1° de março de 2023.

 

imagem pixabay