A BÍBLIA PERMITE TOMAR BEBIDAS ALCOÓLICAS?

 

O consumo de álcool é tema de um assunto muito debatido entre os cristãos. Enquanto uns dizem que a Bíblia proíbe o uso de bebidas alcoólicas, outros defendem uma permissão moderada da Escritura, para o consumo de bebidas alcoólicas. Mas, apesar das diferentes formas de pensamento que giram em torno do assunto, uma coisa é certa, e todos os cristãos concordam: “A Bíblia condena de maneira explicita todas as formas de consumo abusivo de bebidas alcoólicas, tanto por ordens expressas, como por exemplos notórios”. Contudo, a grande questão do nosso debate é: A Bíblia permite, ou não um consumo moderado de bebidas alcoólicas? Acredito como todo cristão “consciente” que a resposta correta a essa pergunta, (exige) embasamento bíblico, não conjectural.

 

Visões diferentes

 

No meio cristão, quando o assunto é a permissão, ou não do consumo de bebidas alcoólicas, temos pelo menos duas opiniões diferentes que são as mais debatidas sobre a questão: Os que proíbem e os moderados!

 

Os que proíbem, são aqueles que defendem o ponto de vista que não há base bíblica para ingestão de bebidas alcoólicas. Para estes o uso do álcool não era permitido aos santos dos tempos bíblicos e nem aos justos nos dias de hoje porque, segundo eles o consumo de bebidas alcoólicas de qualquer forma é pecado.

 

Os moderados, são aqueles que defendem a posição que é permitido segundo a Bíblia fazer o uso de bebidas alcoólicas com discernimento e moderação, portanto, beber não é pecado. Os que defendem essa visão também argumentam que a mesma Escritura que permite a ingestão moderada do álcool, também proíbe e condena a embriagues.

 

O vinho na Bíblia

 

Tanto o Antigo como o Novo Testamento fazem menção do vinho, porém a questão é quanto a natureza do vinho na Escritura, se ele era alcoólico, ou não. Os proibidores dizem que o vinho descrito na Bíblia era “suco de uva” sem álcool, não embriagante, mas os moderados defendem que o vinho era fermentado, ou seja, uma bebida alcoólica que se consumida em excesso podia provocar embriagues. Considerando que a Bíblia é a inerrante Palavra de Deus, e nossa regra de fé e prática de vida cristã, devemos considerar os principais termos para “vinho” nos idiomas originais (hebraico e grego).

 

Os termos mais usados na Escritura são יָ֫יִן “yayin” e שֵׁכָר “shekar” (hebraico) e οἶνος oinos” (grego). Segundo os dicionários etimológicos todos estes termos se referem a vinho alcoólico, bebida fermentada; não suco de uva.

 

“Noé bebeu do vinho, יָ֫יִן “yayin” e ficou embriagado...”. (Gn 9.21).

 

“O vinho é escarnecedor e a bebida forte שֵׁכָר “shekar” induz a brigas...”. (Pv 20.1).

 

“Quando o mestre-sala provou a água transformada em vinho οἶνος oinos...”. (Jo 2.9).

 

As traduções desses termos para o português também significam (literalmente) “vinho embriagante, bebidas alcoólicas e bebida forte”, não “suco de uva” como argumentam os proibidores. Isso nos mostra que há um consenso da tradução, apesar do ponto de vista diferente que cada um defende. Portanto, importa o que diz a Escritura, não o que nós achamos!

 

Olhando para um contexto geral das Escrituras no uso dos termos originais יָ֫יִן “yayin” שֵׁכָר “shekar” e οἶνος oinos”, podemos notar que se por um lado muitos versículos condenam a embriaguez (Is 5.11; Hc 2.15; Ef 5.18), por outro lado em várias passagens estes mesmos termos são usados para afirmar que o vinho “alegra o coração” (Sl 104.15; Ec 10.19; Zc 10.7; Lc 5.36-39). “Vai, pois, come com alegria o teu pão e bebe o teu vinho com coração contente; pois há muito que Deus se agrada das tuas obras”. (Ec 9.7). Isso definitivamente significa que o efeito da bebida alcoólica, quando usado de forma moderada é benéfico, segundo a própria Escritura.

 

O uso do vinho na Bíblia

 

No Antigo Testamento, o vinho era a bebida comum dos judeus. Em (Gn 14.18), Melquisedeque deu יָ֫יִן “yayin” vinho a Abraão. Vemos aqui que “o vinho era compartilhado entre amigos”! Esse exemplo seguramente era correto, pois não há nenhuma evidência bíblica mostrando a reprovação de Deus em relação a este acontecimento. O vinho também era uma parte essencial da adoração do povo de Deus em ambos os Testamentos. No livro de Números, (28.7) vemos o vinho sendo usado como oferenda a Deus. “A libação, oferta derramada que a acompanha, deverá ser preparada com um litro de bebida fermentada para cada cordeiro. Esse vinho deverá ser derramado, como libação, no Lugar Santo, em veneração ao SENHOR”. Ver também (Êx 29.40). Observe que “a oferta de bebida consistia em vinho alcoólico” que haviam sido produzidas e trazidas pelo povo para adoração, e Deus aceitou. Pergunto: Se bebidas alcoólicas foram aceitas no culto a Deus, por que elas são impróprias para o uso humano quando consumidas moderadamente? Em Isaías (62.8,9), vemos o povo se alegrar das bençãos e promessas do Senhor, de tal maneira que eles comeram pão e beberam vinho no templo.

 

A lei de Deus permitia que o povo comprasse יָ֫יִן “yayin” (vinho) e שֵׁכָר “shekar” (bebida alcoólica) a fim de que o povo se alegrasse na presença do Senhor. “Lá poderás trocar a prata, o dinheiro, por tudo o que quiseres comer: carne de vaca, ovelha, carneiro, vinho, bebida fermentada, ou qualquer outro alimento que desejares. Então, juntamente com tua família comerás e te alegrarás ali, na presença de Yahweh, teu Deus”. (Dt 14.26).

 

No Novo Testamento, vemos o apóstolo “Paulo recomendando vinho” ao jovem presbítero Timóteo, com fins medicinais. “Por causa do teu estômago e das tuas frequentes enfermidades, não bebas somente água, mas também um pouco de vinho”. (1Tm 5.23). Em outras passagens do Antigo Testamento, a Bíblia também recomenda o uso do vinho com este mesmo propósito “ajudar os fracos e os doentes” (2Sm 16.2; Pv 31.6; Lc 10.34).

 

“É fundamental, pois, que o bispo seja irrepreensível,.. não dado ao vinho,...”. “Quanto aos diáconos, da mesma forma, devem ser honrados, de uma só palavra, não dados a muito vinho,...”. (1Tm 3.2,3,8). “Semelhantemente, ensina as mulheres maduras a serem reverentes quanto a seu estilo de vida, não caluniadoras, não viciadas em muito vinho,...”. (Tt 2.3). Vemos nessas passagens das Escrituras, um claro exemplo da recomendação moderada do vinho a liderança eclesiástica.

 

O próprio Senhor Jesus fabricou milagrosamente uma quantidade abundante de οἶνος oinos”, vinho fermentado para uma festa de casamento (Jo 2.6-9), e o mestre-sala disse que “aquele vinho era bom” (Jo 2.10). Jesus também bebeu vinho pelo menos em três ocasiões! Assim, veio João, que jejua e não bebe vinho, e dizem: ‘Este tem demônio’. Então chega o Filho do homem, comendo e bebendo, e dizem: ‘Eis aí um glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores!’ Todavia, a sabedoria é comprovada pelas obras que são seus frutos”. (Mt 11.18,19). Na celebração da Páscoa e da Ceia do Senhor, Ele também bebeu vinho com os seus discípulos (Lc 22.7-23; Mt 26.27-29). Posteriormente a igreja seguiu este mesmo exemplo (1Co 11.17-32).

 

É interessante notar que a Bíblia não fala em lugar algum de vinho não embriagante, pelo contrário, a Escritura fala do “vinho fermentado” (alcoólico). Alguns cristãos sinceros, piedosos e tementes a Deus, argumentam que, nos casos em que Jesus fez vinho (Jo 2.9) e bebeu vinho (Mt 11.19), isto se refere apenas a suco de uva não fermentado. No entanto, é preciso dizer que não há nada que fundamente ou justifique tal conclusão. Os “melhores” teólogos que levam a sério as Escrituras argumentam, de forma clara e consistente que “todo vinho mencionado na Bíblia é alcoólico e que nenhuma bebida não fermentada era chamada de vinho”. E, acredite, até mesmo as bênçãos da salvação e do cumprimento futuro do Reino de Deus são comparadas pela provisão abundante de vinho (Is 25.6-8; 55.1; Am 9.13,14).

 

Contudo, é digno mencionarmos que embora quase “todos” segundo a Escritura fizeram uso do vinho e da bebida forte, os nazireus (Nm 6.3), e João Batista (Lc 1.15) absteram-se dessas coisas. Há também o caso dos sacerdotes e levitas que somente durante o exercício formal de suas atribuições peculiares no templo foram proibidos de ingerir vinho e bebidas fermentadas (Lv 10.8,9; Ez 44.21), porém, em lugar algum a Escritura proíbe o uso moderado do vinho fermentado, ou das bebidas alcoólicas.

 

Todas as referências bíblicas que tratam da proibição quanto ao uso do vinho, como das bebidas alcoólicas tem a ver com o abuso sem moderação. “Não caminhes com os que se encharcam de vinho” (Pv 23.20).

 

Escutai, Lemuel! Não é prudente que os reis bebam muito vinho, tampouco aqueles que têm a responsabilidade de governar se entreguem também às outras formas de embriaguez; porquanto quando não estão sóbrios se esquecem do bom siso e das leis, e não são solidários aos direitos dos fracos e dos pobres. (Pv 31.4,5).

 

Para todos aqueles que gastam horas se encharcando de vinho, os que andam em busca de bebidas fortes e misturas alcoólicas! Não te entregues a contemplar a tintura avermelhada do vinho, quando cintila provocante no copo e escorre suavemente! No fim, ele ataca como a serpente e envenena como a víbora! Teus olhos verão coisas horríveis e tua mente entorpecida te fará dizer tolices. Serás como alguém que dorme no meio do mar agitado ou deita-se sobre as cordas de um alto mastro. E dirás: “Feriram-me, mas eu nada senti! Bateram em mim, contudo eu nada percebi! Quando despertarei para que possa voltar a beber”? (Pv 23.30-35).

 

Podemos notar que nem toda referência ao vinho na Bíblia é positiva. O povo de Deus é advertido pelas Escrituras contra os perigos da bebedice desenfreada que leva a embriaguez (Is 5.11; 28.1-8). “Não vos embriagueis com vinho” (Ef 5.18).

“Bom é não comer carne, nem beber vinho, nem alguma coisa que teu irmão tropece, ou se ofenda, ou se enfraqueça”. (Rm 14.21). Os proibidores argumentam que nesse texto Paulo está falando da abstinência total do vinho. Porém, não é isso que ele está tratando aqui. Segundo a Escritura não existe mal nenhum em comer carne e beber vinho. O pecado não consiste no mero ato físico de comer ou beber estas coisas. Todavia, não podemos negar de forma alguma que a Bíblia exige de nós que façamos todas as coisas com discernimento e, é exatamente disso que o apóstolo Paulo está tratando nessa passagem, pois, os cristãos “fortes” (Rm 15.1), são instruídos a abster-se provisoriamente do uso do vinho, ou de outras bebidas alcoólicas, quando houver uma séria possibilidade de “fazer escandalizar, ou tropeçar” (Rm 14.15), um “irmão fraco” (Rm 14.1).

 

Conclusão

 

Por tudo que aprendemos até aqui, creio que não é possível defender, ou sustentar com base na Escritura que “beber moderadamente vinho, ou outras bebidas alcoólicas” seja pecado porque, de fato não é. Você pode escolher abster-se do álcool, porém baseado em suas opiniões pessoais que vão além do que a Bíblia exige de nós. Pergunto: Se reprovamos algo que a Bíblia permite, a autoridade da própria Bíblia não é diminuída no pensamento cristão? Certamente sim, pois ao negar algo que a Escritura permite tornamos nosso testemunho contraditório. Porém, podemos seguramente afirmar que a Bíblia permite o consumo moderado de bebidas alcoólicas, pois, Ela mesma não se constrange em recomendar o uso do vinho aos santos ainda que em pequena quantidade. O vinho é dado por Deus e deve ser visto por nós como uma benção de alegria aos justos (Dt 14.26; Sl 104.14,15), quando usado de acordo com a Santa Escritura.

 

JESUS FAZ A DIFERENÇA.

 

 

 

Pastor Jose Junior
Enviado por Pastor Jose Junior em 24/02/2023
Reeditado em 16/08/2024
Código do texto: T7726624
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