Um momento necessário
Eu vos alimentei com leite, não com algo para comer, pois não éreis ainda bastante fortes. De fato, nem mesmo agora sois bastante fortes, pois ainda sois carnais. 1 Co 3:2
(...) Se quando eu vos tenho falado das coisas terrenas, ainda assim não me credes, como creríeis, se eu vos falasse das celestiais? Jo 3:1-12
Antes da UTI e outros cuidados hospitalares, é possível afirmar que a morte adiava menos, provocando a precipitação de lágrimas, emissárias da saudade, desespero ou do inútil protesto.
Ambiente acolhedor, a UTI, e com finalidade específica, apesar disso, em menor número são os que a adentram não se demorando em estadia, retornando à vida cá fora.
A intenção é – e será – sempre válida, não sendo permitido desferir críticas realistas pessimistas, aos cultores da sacratíssima esperança que acreditam na virada do jogo da vida. E por que não?
Não raras vezes utilizamo-la, da esperança, em muitas ocasiões no dia a dia.
Entre o absurdo e a lógica da ocorrência iminente, o barco de quem navega oscila, adiando ou salvando-se do naufrágio que o desânimo favorece; suficiente recorrer da anamnese, trazendo à superfície tantos episódios difíceis que foram vencidos mercê do desempenho e de uma força estranha a que os outros denominam simplesmente fé.
Guerreiros do bem, a luta faz parte intrinsecamente da existência humana.
Sem tempo de temer (a morte), atenta e forte deve ser a postura do homem.
Honrando e amando a própria vida, valorizando a vitória do adversário, sair do proscênio da existência somente na cessação definitiva do movimento ânima que nos diferencia do não ser ou ainda do que é e não pense.
Ninguém que haja nascido, destina-se à morte, esta que sempre será um acidente previsível, ou não, na vida de cada qual.
A vida, como um rio, continua, uma vez vencida a obstrução momentânea que lhe paralisou o fluxo caudaloso, tal a conclusão afirmativa respaldada em pesquisas parafísicas no seio das ciências psíquicas, tanto quanto das religiões.
Mesmo conhecido o desfecho da situação crítica, por antecipação, de um paciente UTI, não se pode jogar a toalha e provocar o brio do adversário vencedor, desvalorizado pela covardia e inapetência de quem (ele) há de vencer.
Casos raros, isolados, constam nas laudas dos anais da história médica, em que alguns pacientes, unanimemente desenganados, com o direito a eutanásia, não desligaram os aparelhos... e, após tempos de coma, abandonaram o leito, portal da morte, na UTI, lugar, afinal, de cuidados e acolhimento.
A não ser por AVE severo e letal ou parada cardiorrespiratória irreversível, é a UTI intercessão de domicílio hospitalar, no futuro, de muitos, é difícil a escapatória, a exclusão.
Observada a bioquímica na fisiologia do organismo humano, que garante inúmeras ocorrências favoráveis à saúde orgânica, é natural que por sua baixa produtividade associada a outros fatores, advenham complicações ameaçando o bem estar do organismo como um todo.
Concorrendo para a estadia demorada hospitalar, a proliferação indômita de agentes infecciosos quais bactérias morbígenas, em muitos casos, infelizmente, supera a reação proposta pela ciência médica - na aposta lançada de fármacos no propósito de empatar o jogo existente e até mesmo depois virar o placar, o que, na maioria das vezes, resulta apenas em boas intenções face a um quadro desolador e indicativo de decesso irreversível.
Mas neste hiato de expectativa, quanta beleza moral é registrada, formando a corrente de amor pela vida, da que é portador/proprietário o paciente acamado, em atonicidade!
Os seus acompanhantes familiares revelam, geralmente, a flor do cuidado, na estima inafiançável a seu ente querido, em rodadas de revezamento, fazendo de exíguos sessenta minutos uma eternidade, na apenas contemplação, pela impotência de intervenção, junto e à beira do leito, por vezes em silente rogativa ao Senhor da Vida, em prol da melhora ou cura do seu enfermo amado...
Nos bastidores da invisibilidade, providências não menos gravosas são alavancadas a fim do cumprimento dos desígnios divinos, sem necessariamente discordar, em justiça e verdade, com as consequências de atos livremente praticados pelo sujeito agente causador de seu infortúnio momentâneo.
Em que pese a não percepção, em zona consciente, de sua mobilidade extrafísica, enquanto domiciliado em UTI, não terá perdido impressões ou registros no arquivo ou mente psicossomática, para futuros, querendo, acessos.
Em muito influenciará o seu estado de espírito, o que tem sido ênfase ou objeto de motivação no seu atual programa existencial.
Comatosa ser-lhe-á a sua estadia na possibilidade extrassensorial, ou pelo contrário, dinâmica e proveitosa, facilitada pela fragilidade ou precariedade da matéria orgânica, afrouxando-lhe o cordão de prata, dando liberdade maior ao perispírito (*) pelo qual a alma vivencia referências do mundo imponderável ou sutil.
Situações excepcionais equivalem a verdadeira moratória ao paciente hospitalizado em estadia prolongada, quando ele vivencia experiências do lado de lá, adjetivadas - de quase morte, ou e.q.m.
Diz-se moratória porque lhe é dado acréscimo de sobrevivência, com retorno garantido à existência humana, uma vez que supere o quadro de internação
hospitalar, tendo ido e ultrapassado ao túmulo da própria morte, acorde e, premendo a sua à mão do facultativo, em sorriso otimista, deixe definitivamente as dependências de acesso, facilitado, ao outro mundo...
Por essa dilação ou prorrogação de estadia aqui, poderá, redimido, realizar pendências ou tomar atitudes em benefício de sua emoção, abrindo uma nova perspectiva por que possa visualizar novos aspectos da vida por ele despercebidos, e tornar-se ditoso, vivendo a sorrir, de bem com a vida e todos.
Um dos Lázaros redivivos, de que se tem notícia, em laudas comovedoras, por ele mesmo escritas, depoimento autêntico, diz respeito ao insigne neurocirurgião, o Dr. Eben Alexander III, que relata a sua e.q.m., cujo livro rendeu-lhe primeiro lugar na lista dos mais vendidos do The New York Times. (UMA PROVA DO CÉU. Editora Sextante).
Vitimado por meningite bacteriana, bactéria gram negativa no líquido cefalorraquidiano, E. coli, conseguira superar o coma ao sétimo dia.
"Minha experiência mostrou que a morte não é o fim da consciência e que a existência humana continua no além-túmulo. E, mais importante ainda, se perpetua sob o olhar de um Deus que nos ama e que se importa com cada um de nós."
Criando uma entidade (www.eternea.org) para fins específicos, considera que “A missão da Eternea é incentivar a pesquisa e os projetos que envolvam experiências espiritualmente transformadoras, assim como a relação entre a consciência e a realidade física. Trata-se de um esforço para colocar em prática as descobertas feitas a partir das EQMs e reunir ensinamentos de todos os outros tipos de experiências espirituais.”
A suas palavras, conferindo-lhe autoria, acrescente-se a finalidade para as criaturas humanas (em que pese marcadas pela doença, dor e tristeza) dos domicílios hospitalares, estes que podem adquirir um ressignificado nas suas existências.
Embora suprimindo o vocábulo acaso, dê-se ao nosocômio uma serventia não somente assistencial ao homem de carne, mas também momentos de reflexão, se aproveitados, ao indivíduo espiritual em seu trânsito breve, por estágio, na face da Terra.
(*) Na literatura universal encontram-se n sinônimos para perispírito. Eis alguns:
Corpo espiritual (Paulo em sua primeira epístola aos Coríntios, 15:44);
Mano-maya-kosha ( Índia védica) ;
Boadhas (no Zend-Aveta, dos persas);
Kha (ka) ou Bai (entre os sacerdotes egípcios);
Rouach (na Cabala);
Kama-rupa (Budismo);
Eidolon, okhema, ferouer (entre os gregos);
Khi (na tradição chinesa);
Corpo astral (entre os hermetistas, alquimistas, esoteristas, teosofistas);
Corpo sidérico (Paracelso);
Corpo fluídico (Leidniz – Rosacruz)
Aerossoma (neognósticos);
Somod (nas investigações de Baraduc);
Mediador plástico (Cudworth);
Metassoma (Bret);