Quinze anos sem Dom Aloísio
Padre Geovane Saraiva*
Neste dia 23 de dezembro, recordamos a partida para a casa do Pai, há quinze anos, de Dom Aloísio Cardeal Lorscheider. Ele, um franciscano, que descobriu a verdadeira face de Deus, imprescindível ao traçado de seus passos, a partir dessa realidade misteriosa, quando o afirma numa tônica poética quanto profética, com enorme sabedoria: “Sempre fiquei muito impressionado e atraído pelo amor quente e apaixonado que São Francisco dedica a Deus. Parece que no beijo do leproso ele entendeu, como Saulo no caminho de Damasco, a doação total de Deus a nós em seu Filho Jesus Cristo. Custou a Francisco não só descer do cavalo fogoso que no momento montava, mas muito mais do cavalo do orgulho e da vaidade com que ele queria conquistar o título de grande e nobre”.
Dom Aloísio, ao se tornar Arcebispo de Fortaleza (1973-1995), dentro do seu ideal franciscano, tinha bem claro as resoluções do Concílio Vaticano II, dizendo logo de início: “A comunidade eclesial não é feudo do bispo, mas ele é o servidor de uma Igreja que se entende a si mesma como sacramento do Reino, isto é, da presença da verdade e do amor infinito de Deus para com cada criatura humana”. Daí ele não compreender como algo natural e normal ter que conviver com a miséria e o acentuado empobrecimento do povo, que tinha como consequência o êxodo, o flagelo e a morte de muitos irmãos.
O povo de Deus no Brasil e, de modo particular, no Ceará (Arquidiocese de Fortaleza), passou a contar com o dom da profecia do Cardeal Lorscheider, para dizer que não era vontade de Deus a realidade aqui encontrada e, ao mesmo tempo, usou de todos os meios, com uma enorme vontade de transformar essa mesma realidade de pecado, marcando profundamente a caminhada da Igreja na Arquidiocese de Fortaleza. No dizer do Desembargador Fernando Ximenes: “Em pleno regime de exceção, a sociedade cearense logo sentiu os efeitos dessa guinada. As camadas desfavorecidas ou marginalizadas, os sem-terra, os sem-teto, os presos políticos, os presidiários comuns, os trabalhadores em greve – ganharam aliado de peso”.
Quando ele se tornou bispo emérito de Aparecida, veio a seguinte pergunta: o que o senhor vai fazer? Respondeu: “Sou um simples frade menor e vou fazer o que o meu provincial mandar, porque a obediência me torna livre”. Jamais podemos esquecer a chama luminosa de um coração amável e cheio de bondade, de uma pessoa humana, dotada de grandes virtudes e qualidades, de um “bispo completo”, segundo o grande teólogo Alberto Antoniazzi e nas palavras do Senador Tasso Jereissati: “do homem mais ilustre da nossa geração, no Ceará, com a sua vida de dedicação à causa dos excluídos”, do maior benfeitor e patrimônio do povo cearense, que partiu há oito anos, deixando-nos tristes e com enorme saudade.
Agradecidos pelo dom de sua vida, somos conscientes da sua importância na história recente da Igreja, de modo especial pelo seu compromisso com o Reino de Deus, sensibilidade pastoral, clareza diante dos desafios, sem jamais faltar-lhe a ternura do Bom Pastor, Nosso Senhor Jesus Cristo.
*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, jornalista, escritor, poeta e integrante da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).