FAÇAM ISSO EM MEMÓRIA DE MIM - A CERIMÔNIA DA SAUDADE
Jesus Cristo ensinava, pregava e curava. O ensino no ministério de Cristo foi central. A missão da Igreja é "ide, fazei discípulos, ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado" (Mt. 28: 19-20).
Jesus, o maior pedagogo de todos os tempos. Essa frase é recorrente. Ele usava métodos audiovisuais, ilustrava suas lições com as verdades da natureza e parábolas. Seu método aliava a teoria e a prática, andando com seus discípulos ele praticava atos que exigiam explicações ou, de forma assertiva, ensinava e aplicava tal ensino na prática.
Jesus tinha a perfeita concepção de que os símbolos calam fundo na alma humana, e, não foi por outra causa, que na hora derradeira ele usou dos símbolos para penetrar na mente e no coração de seus discípulos, o que é feito por dois mil anos.
Antes dos acontecimentos finais Ele levou seus discípulos para um salão apropriado. Ali estavam colocados o pão e o vinho. Eles iriam comemorar a última páscoa.
Na mesa estava o vinho Kosher (apropriado) para pessach (páscoa), não fermentado. Esse vinho, quando produzido, "não teve nenhum contato com pães, grãos ou produtos feitos com massa fermentada, sendo adequado para o consumo durante a Pessach, que é a Páscoa judaica, também conhecida como Festa da Libertação" (1).
O fermento na Bíblia Hebraica tinha a conotação do pecado. Quando Jesus diz "este é meu sangue" ele se referia a um sangue que seria derramado sem que houvesse pecado, um sangue puro para salvar o homem impuro.
O pão que ali seria servido era o pão ázimo, sem fermento, aquele mesmo pão que foi comido sem que tivesse tempo de ser fermentado quando os israelitas saíram do Egito. Outra vez sem fermento, quando Jesus diz "tomai, comei, isto é o meu corpo", Ele está dizendo, serei o alimento para vocês, sem pecado para salvar pecadores.
Antes que comessem, Jesus fez algo inusitado, abaixou-se, cingiu-se com uma toalha e começou a lavar os pés dos discípulos. Esse era um serviço para empregados, para servos. Jesus havia dito: "qualquer que entre vós quiser ser grande, será vosso serviçal" (Mc 10:43). Não havia meio-termo, o ensino era aplicado, antes que participassem do seu corpo e do seu sangue deveriam aprender a lição do serviço. Estabeleceu-se a cerimônia do lava-pés, que poucas denominações cristãs utilizam como parte integrante da Santa Ceia (v.g., menonitas e adventistas do sétimo dia).
Discussões sobre o significado e o conteúdo da cerimônia dividiram a cristandade. Os reformadores Lutero, Calvino e Zuinglio tinham opiniões divergentes. Enquanto o catolicismo romano acredita na transubstanciação os protestantes negaram tal entendimento e adotaram a consubstanciação.
Para mim, a frase que define a cerimônia da Santa Ceia, seja ela celebrada com ou sem o lava-pés, seja ela parte da eucaristia católica romana ou não, é: "Isto é o meu corpo, que é dado por vocês; façam isto em memória de mim." (1 Co 11: 24).
"Fazei isso em memória de Mim". A lembrança, o reencontro com Cristo, a reafirmação da fé, a certeza do perdão dos pecados e o início de mais uma etapa da vida, a purificação pelo sangue e o pão, o alimento espiritual, o sentir que Jesus Cristo é infundido em meu corpo e em minha mente, a certeza da parousia (a volta de Jesus), pois Ele diz nessa hora: "E digo-vos que, desde agora, não beberei deste fruto da vide, até aquele dia em que o beba novo convosco no reino de meu Pai" (Mt 26:29).
"Fazei isso em memória de Mim". A Santa Ceia é uma cerimônia da saudade! Ela nos desperta a saudade de Alguém muito falado em nossa família, Alguém a quem nunca vimos e não sentimos o Seu abraço, mas Alguém por nós amado, mesmo sem que O tenhamos tocado, ou visto, ou ouvido Sua voz. A saudade de Alguém que está perto, ainda que distante, do qual toda a família reunida aguarda Sua chegada.
A Santa Ceia só tem significado se pudermos realmente sentir saudades daquele que nunca vimos fisicamente, mas na certeza de que nós O veremos, porque toda a nossa família sempre falou dEle e sempre O aguardou. Saudades de algo que está no futuro, o maior evento da família humana.
(1) https://www.divinho.com.br/blog/vinhos-kosher/