Argumento(s) contra o agnosticismo
"Não é possível afirmar que deus, vida eterna e milagres existem ou não existem, por isso eu sou agnóstico"
Mas, além da absoluta ausência de evidência, também não existe qualquer base lógica de fatos da realidade que possam corroborar indiretamente para as suas existências, tal como existe para a possibilidade de vidas extraterrestres, que eu já argumentei em outros textos...
Pois para testar essa hipótese ou, afirmações extraordinárias, primeiro é preciso começar com as narrativas de cada religião, por exemplo, as do cristianismo. Então, e só por esse exemplo, que se aplica às outras narrativas, com exceção para certos aspectos do budismo e religiões orientais aparentadas, como o taoísmo, já é plenamente possível descartar que: mulheres virgens possam receber a visita de anjos (??), serem inseminadas artificialmente por um suposto criador do universo ou Deus e ter filhos semi-divinos que multiplicam peixes e transformam água em vinho; que seres vivos possam literalmente ressuscitar; que o planeta Terra é o centro do universo; que o mundo foi criado por Deus há poucos milhares de anos atrás e que os primeiros habitantes humanos eram um casal chamado Adão e Eva.
Você poderia dizer que é graças aos avanços das descobertas científicas que podemos descartar a maior parte dessas narrativas. Porém, mesmo se fosse em outra era de um passado distante, ainda seria possível no mínimo duvidar que fossem verdadeiras apenas pela aplicação do pensamento lógico-racional e/ou crítico, buscando por casos reais de ressurreição, por exemplo, ou então de não concordar com afirmações sem evidências ainda mais se forem extraordinárias.
A crença em um Deus que está em tudo e influencia tudo também não tem qualquer base lógica. É sempre preciso comprovar literalmente, mas às vezes o pensamento lógico-racional pode ser suficiente...
Resta a essência da crença religiosa: na existência de um criador absoluto e de dimensões metafísicas onde supostamente iremos depois da morte. Porém, o mesmo problema de lógica básica continua porque não existe nada que sustente a ideia de que seja impossível que Deus não exista, incluindo uma dimensão além do mundo físico em que estamos.
Afirmar que toda criação tem um criador é uma argumento extremamente limitado. Aliás, sequer dá para dizer que se trata de um argumento verdadeiro se mais parece ser uma afirmação redundante e sem qualquer base, como já comentado.
Uma questão meramente semântica??
Transformação, evolução, criação ou criador...
Criar não é exatamente o mesmo que evoluir e que não é exatamente o mesmo que transformar ainda que esses últimos estejam mais próximos.
A ideia de criação é a de algo que é modificado ou construído a partir de um controle de variáveis. Por isso, não dá para dizer que cada etapa de evolução da vida, por exemplo, foram criações sucessivas, nem mesmo sem supostas intervenções divinas.
Se nem a criação faz sentido, imagina um criador??
Mas, então, por que a evolução da vida parece tão perfeita??
Parece, mas só se for distante e superficialmente falando, porque todo processo evolutivo passa por muitas tentativas de erros e acertos até chegar a um resultado "final" ou de momento; muitas espécies já foram extintas; nenhuma evolução é totalmente "perfeita" até porque toda espécie está sempre precisando sobreviver ou se adaptar...
No início de uma trajetória evolutiva, há uma maior carga de aleatoriedade que tende a diminuir quanto mais uma tendência ou caminho se confirma. Por exemplo, no início da evolução humana, o aumento da inteligência dos nossos ancestrais não era totalmente certo, mas de acordo com que esse caminho foi se fortalecendo por seleção natural (e, depois, cultural), tornou-se mais e mais previsível. Tal como começar enchendo um balão. Quanto mais o enchemos, maior fica. Quanto mais se emprega uma força em uma direção, mais forte, concentrada ou desenvolvida ela se torna.
Outra explicação para a aparente precisão da evolução é que muito provavelmente as primeiras formas de vida surgiram a partir de uma seleção natural primordial em que apenas as versões mais adaptáveis ao meio primitivo do planeta Terra que sobreviveram ou conseguiram estabelecer um padrão (auto-replicativo) de reprodução assexuada. Então, todas as outras espécies que foram aparecendo, primariamente, apenas replicaram essa mesma estrutura muito básica de potencial de "encaixe" ou adaptação até porque a vida se originou de elementos do próprio meio (terrestre).
A visão deturpada do "design inteligente" quanto a essa suposta perfeição da evolução parece até que se concentra no início e no "fim" de uma trajetória evolutiva, desprezando totalmente o que acontece durante o seu processo, de erros, acertos, imperfeições e constante necessidade de manutenção.
Pois se uma espécie está em contínua evolução, isso também pode significar que seus estágios anteriores não foram suficientes para assegurar sua adaptação. Sim, porque quando uma espécie alcança o seu "óptimo adaptativo", se está muito bem adaptada ao seu meio, incluindo circunstâncias favoráveis, tal como a ausência de predadores, ela deixa ter a necessidade de continuar evoluindo. Isso explica espécies primitivas em ambientes predominantemente inóspitos que quase não evoluíram por milhões, se não bilhões de anos. Simplesmente, porque atingiram esse "óptimo".
O agnosticismo parece, à primeira vista, para mim, um caso de falácia de falsa simetria em que a crença e a descrença em deus são determinadas como rigorosamente iguais porque nenhuma das duas foi comprovada ainda. Mas, desprezando que o ônus da prova está especialmente para quem afirma a existência de algo, os argumentos a favor do ateísmo são, sem dúvidas, muitos mais sensatos que os argumentos, ou afirmações, a favor da crença religiosa, porque é basicamente a diferença entre afirmar com absoluta convicção, sem argumentar diretamente a favor, que Jesus existiu, foi morto, sepultado, ressuscitou no terceiro dia, subiu aos céus e está sentado à direita de Deus pai todo poderoso... e de afirmar que tudo isso é muitíssimo improvável de ser uma realidade, primariamente por causa de uma ausência absoluta de casos reais de ressurreição e da existência de seres divinos, só para começar...
Um agnóstico ateísta mais coerente pode afirmar que existe 0,001% de chance de que Deus e vida eterna sejam reais, ao eliminar grande parte das narrativas específicas das religiões por serem ainda mais obviamente improváveis e ausentes. Mas essa chance mínima só é possível de ser mantida por ele porque não existe evidência direta ou comprovação de ausência, e não apenas percepção indireta de ausência, de um criador, vida após à morte, etc...
A única real diferença entre a crença religiosa e, por exemplo, a crença (inexistente) em unicórnios e dragões é sua enorme popularidade, por ser uma baita chantagem emocional (ser filho de Deus e viver para sempre depois da morte versus nada disso ser possível ou factual), sua grande influência cultural e histórica e por se relacionar com questões existenciais, que são as mais profundas e pessoais para nós. Não fosse seu poder político, emocional e demográfico (ainda associado a uma maioria que se deixa convencer por suas narrativas por razões provavelmente mais intrínsecas, por predisposição), os argumentos a favor do ateísmo já teriam convencido a grande maioria ou se tornado hegemônicos, no mínimo delegando à crença religiosa uma influência tão inofensiva quanto a astrologia.
Portanto, o agnóstico iguala crença e descrença religiosa enquanto que o ateu reforça suas diferenças qualitativas de argumentos, que o primeiro aparenta ignorar.
O agnosticismo até parece uma versão mal estruturada do ateísmo...
E o ateísmo não tem que ser uma afirmação de absoluta certeza quanto à inexistência de deus e plano metafísico, não tem que ser uma crença na descrença, no sentido de fé, até porque está muito bem embasado, enquanto que a crença religiosa é o seu exato oposto e, portanto, inevitavelmente se baseia na fé. Mas justamente por fazer tanto sentido e a crença tão pouco que é perfeitamente possível afirmar com convicção que deus e metafísica são muito, muito improváveis de serem realidades, sem ter que considerá-las como igualmente possíveis de serem factuais.
O agnosticismo, portanto, é um ceticismo exagerado, em contraste ao ateísmo que é um ceticismo adequado.