Perguntas irrespondíveis

Abordar temas polêmicos sempre foi e sempre será espinhoso e, quando se trata de religião precisamos ser ainda mais cautelosos, porque ninguém ignora que se está andando sobre terreno movediço e que muitas serão as pessoas que irão discordar dos nossos argumentos. Porém, se há coisas que estão nos incomodando, não podemos nos calar. Precisamos falar e tentar nos fazer entender principalmente quando sentimos que muitas explicações que nos são dadas não são satisfatórias. Está se falando assim porque neste texto se falará sobre religião e serão feitas algumas racionalizações a respeito de explicações feitas por pessoas religiosas a respeito dos acontecimentos que afetam as nossas vidas. Tal texto não pretende agradar ou desagradar a ninguém, apenas refletir sobre muitas questões e vamos fazer todo o esforço possível para que seja escrito de forma racional e não passional pois as crenças religiosas sempre mexem com o nosso emocional, o que fomos ensinados a acreditar, nossa cultura e muitas outras coisas.

Para começar, falemos sobre um argumento muito usado pelos religiosos quando dizemos que pedimos algo a Deus e Ele não nos atendeu porque não seria de Sua vontade. Será tal argumento válido quando tal pessoa está em situação de sofrimento? Parece razoável que uma pessoa esteja sofrendo horrores e Deus não a socorra porque simplesmente não quer? Imaginemos que um filho ou filha está sofrendo, passando por alguma dificuldade e os pais, podendo resolver ou aliviar a situação, não o fazem pois não seria de sua vontade atender ao filho ou filha. Diríamos que são bons pais? Reflitamos bem sobre isso. Digamos que uma criança ou adolescente está sofrendo bullying na escola e os pais, sabendo o que esse filho está passando, nada façam porque não é de sua vontade. O que pensaríamos de tais pais? O que falar então de um Deus que dizemos que é perfeito e dotado de amor incondicional, sempre pronto a socorrer seus filhos ? Devemos pensar sobre isso e tirar nós mesmos nossas próprias conclusões, deixando claro que não se pretende ofender ninguém, apenas refletir.

A questão da vontade de Deus também precisa ser considerada quando pensamos a respeito do destino das pessoas. Imaginemos o caso de uma moça que se sentia frustrada por não ter conseguido casar. Ela ouviu de uma pessoa: “Amada, se for da vontade de Deus que você fique solteira, você tem que aceitar.” Então, façamo-nos uma pergunta: Por que Deus determinaria que umas pessoas podem casar e outras têm que ficar sozinhas, frustradas por não terem encontrado alguém? Considerando as pessoas que têm casamentos infelizes, podemos também dizer que se elas encontraram maus cônjuges, foi porque Deus assim quis? Este argumento ainda bate de frente com o argumento do livre arbítrio, que é muito convenientemente usado quando os religiosos querem dizer que Deus não tem culpa nenhuma pelo que acontece de ruim no mundo e na vida das pessoas. Essa mesma moça sonhava ter a independência financeira para sair de junto do pai, um narcisista perverso. E ouvia muitos de evangélicos que o plano dela podia não ser o plano de Deus para a vida dela. Então, façamos outra pergunta: que Deus é esse que interfere assim em algo que só diz respeito à própria pessoa e não interfere quando um maluco entra atirando em alunos e professores em uma escola, matando vários inocentes ou quando um pedófilo resolve abusar de uma criança? Há resposta para essa pergunta?

Uma outra questão a ser levantada é sobre o batido argumento de que Deus tem um tempo certo para tudo. Imaginemos duas pessoas se preparando para concursos públicos. Quem conseguirá passar mais rápido? Uma pessoa que tem toda a assistência, podendo se dedicar vinte e quatro horas por dia aos estudos ou outra que não tem tanto tempo assim e, muitas vezes, não tem material adequado? Então, Deus faz acepção de pessoas? Abençoa logo uns e demora em abençoar outros? Pensemos no caso de uns norte-americanos que passaram quarenta anos na prisão por um crime que não cometeram. Deus só quis libertá-los depois deles terem perdido todas as suas vidas na prisão? E pensemos também no Brasil e num país como a Dinamarca(de maioria ateia). No Brasil, há muitas pessoas lutando para sair da situação de desemprego e muitas, com certeza, oram muito pedindo a Deus para conseguir um emprego. E muitas dessas pessoas que estão lutando para arrumar emprego certamente ouviram, pelo menos uma vez, que conseguirão se empregar no tempo determinado por Deus. Vamos então perguntar: por que, em países como a Dinamarca e Noruega, essa questão de tempo de Deus é tão irrelevante, já que ninguém precisa orar nem esperar pelo tempo certo de Deus para conseguir o que quer e/ou precisa?

Falemos na tão propalada onisciência divina. Pensemos no rei Davi. Ninguém precisa ter lido a Bíblia para saber que Davi foi escolhido para ser rei de Israel e foi ungido pelo profeta Samuel a mando do Deus Javé. Tempos depois, Davi cometeu o pecado de deitar com Betsabé, mulher de um dos seus oficiais e, para não ter problema, planejou a morte dele. Como castigo, Deus matou a criança fruto do adultério. Quem ler a Bíblia pode notar que Davi era um homem cheio de defeitos. Faz sentido um Deus onisciente ter mandado ungir um homem como Davi? Não teria sido melhor nunca tê-lo ungido até para evitar a morte de um inocente? Aliás, faz sentido um Deus onisciente ter mandado Abraão sacrificar Isaac ou ter testado Jó? E quanto à história do fruto proibido? Por que um Deus onisciente colocou a árvore da ciência do bem e do mal no meio do jardim do Éden? Ele sabia ou não que Adão e Eva comeriam do tal fruto, trazendo o pecado ao mundo? Um outro ponto a declarar: se Deus é onisciente, Ele não saberia que Dalila entregaria Sansão aos filisteus? Por que Deus não alertou Sansão?

Outras perguntas irrespondíveis: por que Deus endureceu o coração do faraó em vez de ter feito o faraó se compadecer da situação dos hebreus no Egito? Por que Deus achou necessário matar todos os primogênitos do Egito para libertar os hebreus? Nós ainda podemos nos perguntar por que não constam, fora da Bíblia, sinais de que houve escravidão no Egito nem de todas as coisas maravilhosas mencionadas na Bíblia como a abertura do Mar Vermelho. E por que não há restos das muralhas de Jericó, da torre de Babel, do Templo de Salomão? Outros aspectos que causam dúvidas é o fato de muitas mitologias, mais antigas do que as escrituras bíblicas, terem dilúvios e trindades sagradas, o que insinua que a Santíssima Trindade Pai, Filho e Espírito Santo não é original mas recriação de outras mitologias.

Devemos lembrar que Jesus disse que, quem tivesse fé, faria obras ainda maiores do que as Dele e hoje não vemos ninguém fazer coisas como multiplicar alimentos, andar sobre as águas, transformar água em vinho, ressuscitar um morto ou curar doenças. Verdade que aparecem muitos supostos milagres mas nunca tiveram sua veracidade comprovada a ponto da própria Igreja Católica ver muitos desses milagres com reserva. E, falando na Igreja Católica, perguntemo-nos por que Nossa Senhora só aparece em países de maioria católica e (muito convenientemente) para gente devota e ignorante. Vale mencionar que, no caso da cidade de Fátima, muitos padres e ex- padres dizem que tudo não passa e nunca passou de uma farsa e que o que houve foi manipulação.

Com certeza, um texto desta natureza desagradará a muitos. Porém, ele não foi escrito com o intuito de agradar e sim de lançar questionamentos. Se sentimos que algo não foi devidamente explicado e dá margem a dúvidas, devemos usar a nossa capacidade de pensar para fazer perguntas e não aceitar nenhum dogma como uma verdade absoluta. Caso haja algo que faça você ter dúvidas, não tenha vergonha de assumir suas dúvidas. Exponha-as, principalmente porque há muitas outras pessoas que pensam como você.