Reforma necessária !
A Reforma necessária!
Acabo de reler o inteligente artigo do confrade do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros Hermildo Rodrigues sobre o movimento religioso do século 16 (Revista XXVII do IHGMC), que ilumina bastante o momento presente em que as religiões são utilizadas como massa de manobra e às vezes até em proveito próprio de alguns poucos. Lutero, Calvino e Marx se debruçaram com muito empenho neste tema chamado: RELIGIÂO. Que significa religar com Deus.
Segundo Rodrigues “Dá-se o nome de “Reforma” ao grande movimento religioso do século XVI, que dividiu a igreja cristã em duas partes: o protestantismo e o Romanismo. Até aquela data havia uma só igreja Católica Apostólica Romana, cheia de erros e inovações, tinha-se desviado bastante dos ensinos bíblicos. É preciso lembrar que a igreja cristã primitiva teve de sustentar uma luta tremenda para fazer o seu caminho através do mundo pagão. Infelizmente, porém, exercendo sobre as grandes massas pagãs as influências salutares de Cristo, deixou-se, por sua vez, influenciar-se por seus costumes, admitindo em seu seio muitas práticas que não condiziam com os ensinos bíblicos.
O imperador Constantino no século IV, estabeleceu o Cristianismo como a religião oficial de todo o império romano, quando a partir daí, a igreja cristã experimentou, lenta, mas progressiva corrupção na doutrina, no governo, e na disciplina. Uma reforma urgia na “cabeça” e nos “membros”. Vozes diversas levantaram-se em diferentes pontos, todas abafadas ou contidas nos limites sociais, geográficos e culturais onde surgiram. Enfrentar uma igreja gigante, manipuladora dos poderes temporal e espiritual, constituía tarefa quase impossível. Porém na plenitude dos tempos históricos, no amanhecer da Renascença, quando os ventos renovadores agitavam as consciências, Deus chamou um homem destemido, cultural e psicologicamente preparado para desencadear a REFORMA. E foi assim que o monge Martinho Lutero, insatisfeito com os desmandos de sua igreja e revoltado com a venda de indulgências por Tetzel, cujos iníquos lucros serviam par a construção da Basílica de São Pedro em Roma, na noite de 31 de outubro de 1517, afixou na porta da sua igreja, em Wittemberg, Alemanha, as famosas 95 teses, desafiando o clero de modo geral, os legados papais e os promotores das indulgências a um debate público dos cruciantes problemas teológicos, eclesiológicos, disciplinares e morais da igreja.”
A luz do evangelho e o eco do verbo de Deus cruzaram os céus e abalaram os alicerces do medievalismo religioso, despontando após Lutero e João Calvino, o teólogo-mor Zwinglio, o destemido e outros, firmando os quatro primados da Reforma. Só a bíblia, última palavra em matéria de fé; só a graça, pela qual somos salvos; só o Cristo, único mediador entre Deus e a humanidade; só a fé, pela qual o cristão é justificado. Apesar de Max Weber afirmar que o capitalismo é filho do protestantismo, porque nos países que lhe assimilaram as doutrinas e a ética tornaram-se os mais ricos prósperos do mundo, do que é verdade histórica incontestável, contudo a REFORMA, nos lembra Rodrigues “é ainda atual e atualizante, colocando o homem sem barreiras e obstáculos diante de Deus. O movimento da REFORMA, permitiu a criação de todas as igrejas cristãs não católicas do mundo ocidental. E nos fez e faz entender que a vontade de nos encontrarmos e vivenciar a presença de Deus, na maioria das vezes, independe de uma religião oficial ou de um líder, que muito das vezes, também, quer direcionar o pastoreio rumo a interesses menores. Uma igreja cristã crítica, moderna e democrática, que olhe para o futuro, reavaliando os erros do passado, é a verdadeira igreja que todos nós homens de boa fé desejamos. E este desejo se constrói a cada ato. A cada decisão baseada na fé, na esperança e na caridade; com fundamento no espírito santo de Deus. Uma igreja Santa e Pecadora. Santa porque ungida pelo espírito salvador e pecadora porque composta de nós, simples mortais.
Gustavo Mameluque. Jornalista. Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros. Colunista do montesclaros.com. Correspondente do L’ Osservatore Romano para o Brasil.
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