Sem fé a vida perde o encanto
Pe. Geovane Saraiva*
A afirmação de Santo Agostinho “Meu coração está inquieto, Senhor, enquanto não repousar em ti” requer uma fé causadora de entusiasmo, energia, agrado, serenidade, tranquilidade e paz. Agora, com o início do Advento, que se convença pelo olhar de Maria, ela como primogênita da Cruz redentora, a primeira que de todo o coração, com todo o seu ser, abraçou a Cruz de seu Filho, do modo mais completo e elevado, aprendendo, evidentemente, com ela: “Maria, nossa mãe, ajude-nos a conhecer sempre melhor a voz de Jesus e a segui-la, para andar no caminho da vida!” (Papa Francisco).
A fé, no seu sentido mais profundo e mais rico, é o abandono total das pessoas em Deus, na entrega do seu destino, no misterioso destino de Deus. Maria é presença singular neste Advento, na sua ação salvífica e reconciliadora, em quem Deus encontrou abrigo e se expandiu, na sua sublime e esplendorosa liberdade, num não a todo e qualquer obstáculo. Ela, Maria de Nazaré, é distanciada das imperfeições, sem nenhum equívoco, lacuna ou falha, como na sua profética palavra: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (cf. Lc 1, 38). Antevemos o reinado de Cristo pelo amor, sendo Ele a nossa verdadeira e duradoura paz.
Como Maria, que se possa dizer com ânimo e força: “Feliz o homem que encontrou a sabedoria e encarnou o entendimento, porque a sabedoria vale mais do que a prata e dá mais lucro do que o ouro” (Sab 3, 1). Essa sabedoria é capaz de se afastar do pecado original. A doutrina cristã pretende explicar a origem da imperfeição humana, do sofrimento e da existência do mal através da queda da criatura humana, no pecado de Adão. Que não nos esqueçamos jamais da nossa humana peregrinação terrestre, a de que de Deus viemos, para Deus existimos e também para Deus devemos voltar.
Cabe aos seres humanos se voltarem para o pecado original, na incapacidade de, com as próprias forças, manifestar sinais do amor, ao perceber seu próprio fechamento, aquele das pessoas sobre si mesmas, na impossibilidade, sobretudo, de se constatar um relacionamento adequadamente com os três grandes eixos, sobre os quais incide e recai a existência humana: convívio com o mundo, com o outro e com Deus. Em Maria, porém, o ontem e o amanhã são o eterno hoje, em previsão da obra redentora de Jesus Cristo (cf. Leonardo Boff, O Rosto Materno de Deus, p. 141).
Pelo mesmo olhar de Maria, que se compreenda que todos nascem, envolvidos pelo pecado do mundo, sendo humanamente trágico seu destino. Mas a peregrinação humana pela fé quer nos assegurar: “Quem crê em mim, jamais terá sede; quem crê em mim, jamais terá fome; quem crê em mim, passou da morte para a vida”. A fé é o maior tesouro para a criatura humana, como na palavra de Jesus à samaritana: “Se conhecesses o dom de Deus...(Jo 4, 10s). Convença-se de não prevalecer seu “não” à vida, convicto de que sem fé a vida humana perde seu encanto.
*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, jornalista, escritor, poeta e integrante da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).