Julgamento temerário

Já que do modo como julgarmos nós seremos julgados, e com a medida com que medirmos nos medirão a nós, conforme disse Jesus, então devemos tomar cuidado para não fazer julgamento intempestivo, nos condenando a um julgamento igual. Mas quando isso pode acontecer?

No meio religioso eu tenho ouvido alguns casos da espécie. Vamos ponderar alguns.

Recentemente ouvi de uma pessoa com quem dialoguei sobre conceitos religiosos, que Elias, um profeta que existiu ao tempo do rei Acabe, rei de Israel, cometeu pecado por matar os profetas de Baal, coisa que não consta na bíblia que Deus tenha mandado Elias fazer.

O fato de não estar registrado que Deus tenha mandado Elias fazer isso, não quer dizer que Ele não tenha mandado ou concordado com Elias. Ora, Elias era de tal santidade que foi arrebatado para o céu sem passar pela morte. Então como querer condenar a alguém, fazendo um julgamento que não cabe, só para justificar outro texto bíblico que diz que não há um justo sequer, se essa pessoa já está isenta de culpa pelo tribunal de Deus? Eu já analisei o texto que trata sobre o tema, no texto que eu produzi e intitulei “Interpretando o Salmo 53”.

Ora, na Bíblia também não consta que Deus tenha mandado Elias dizer que não choveria sobre Israel por três anos e meio. Mas Elias falou e isso aconteceu.

Também ouvi dizer que Jó pecou, sendo arrogante e tendo feito outras coisas mais que não convém falar. Mas interessante que Deus disse de Jó que este era justo, não tendo outro igual a ele na Terra. E apesar das provas pelas quais Jó passou, ainda assim ele se manteve firme e não pecou contra Deus em tudo o que falou para os seus amigos. E disso Deus deu testemunho dele, o que não aconteceu com os seus amigos que o censuraram, os quais foram reprovados por Deus, que mandou que fossem a Jó para que este oferecesse sacrifício por eles a Deus.

Outro julgamento temerário que ouço falar, é de Ló, o sobrinho de Abraão, retirado de Sodoma por Deus, antes da destruição daquele lugar. Condenam Ló pelo fato de ele ter sido estuprado por suas filhas, as quais o embebedaram para isso. Se é assim então também condenam a Deus, já que este não interviu no caso, poupando a Ló. Alguém afirmou que é impossível alguém não perceber que está sendo usado sexualmente por outro. Isso é porque quem faz essa afirmação não conhece a funcionalidade orgânica de uma pessoa naquela situação.

De Noé, dizem que era beberrão. E que foi injusto em amaldiçoar o seu neto, filho do seu filho que viu a nudez do pai e zombou. Como disse Salomão, o vinho é escarnecedor e a bebida forte, alvoçoradora. O texto bíblico diz que Noé bebeu vinho, não diz que ele era bebum. Além do que, mesmo o vinho que não seja de elevado teor alcoólico pode embebedar, principalmente quem não tenha o hábito de beber frequentemente. Até caldo de cana ou mel de abelha ou outro qualquer fruto ou bebida que seja de elevado teor de açúcar pode embebedar. O excesso de açúcar nessas coisas, causam tontura, enxaqueca, etc, devido o pâncreas não conseguir produzir a insulina suficiente para processar todo o açúcar ingerido.

Jacó é outro de quem dizem que era ladrão e enganador. Mas, apesar disso, Deus se manifestou em sonhos com ele, o abençoou e até se humanizou para medir forças com Jacó. Este era íntegro, pois repunha no rebanho do seu sogro o furtado e o extraviado. O caso havido com ele e seu pai no caso do guisado que Isaque pediu para Esaú lhe servir, não foi intenção dele, mas de sua mãe, que fez isso por amar a Jacó, e querer o melhor para ele, a ponto de dizer que a maldição que por desventura isso produzisse, que viesse sobre ela. Jacó foi escolhido por Deus desde o ventre de sua mãe.

Até de Jesus fizeram julgamento temerário, dizendo que ele era glutão e beberrão. E isso dizem por causa de um texto bíblico mal interpretado por esses juízes de plantão, os quais julgam o que não sabem nem entendem.

De Zaqueu, dizem que era ladrão, pelo fato de ser coletor de impostos. O fato de Zaqueu ter dito a Jesus que “se ele tivesse defraudado alguém, que ele devolveria quadruplicado”, não quer dizer que ele fazia isso. Dele disse Jesus que era filho de Abraão, o que nos leva a concluir que era piedoso e temente a Deus, não gatuno ou malversador do erário público, do qual era fiel depositário ou para o qual era comissionado.

E o que dizer de Abraão, que teve um filho com a serva da sua esposa? Não veem que a iniciativa da relação com a serva foi de Sara. Abraão apenas obedeceu ao pedido dela. Isso teve um objetivo e trouxe também uma consequência. O objetivo, era a símile de Agar como os filhos da sujeição, o povo judeu, enquanto o filho da esposa, o filho da promessa. De Abraão também o condenam pelo fato de ter dito que Sara era sua irmã, omitindo que também era sua esposa, fato que levou dois reis a tomarem Sara para o harém deles. Foram eles Abimeleque e Faraó. Há até quem afirme que Sara foi adúltera por isso. Julgam o que não sabem nem entendem.

Por essa razão também serão julgados com maior rigor, pois julgaram segundo os seus próprios entendimentos. E fizeram julgamento posterior a justificação feita pelo próprio Deus.

Guarulhos-Sp, 30/05/2022

Oli Prestes/Missionário