POR QUE SANTO AGOSTINHO, BISPO DE HIPONA, MANIPULOU ASPECTOS DO PENSAMENTO DE PLOTINO?

 

Para chegarmos a uma rasa conclusão da pergunta acima é nos necessário, primeiramente, saber um pouco sobre a Escola de Alexandria, essa, era um grande centro de desenvolvimento das Ciências e da cultura em especial da Filosofia, fundada por Amônio Sacas, 175 a 242, que era um estivador grego, culto, estudioso e importante filósofo que se ocupava e preocupava-se em desenvolver uma grande síntese do pensamento de Platão, motivo que o fez se tornar um  importante vulto na história da construção do pensamento filosófico.  Influenciado pelo platonismo Sacas desenvolveu a ideia de que a alma é una e pertence ao corpo desenvolvendo fundamental unidade entre o mesmo. Sua ideia tornou-se no mínimo interessante a ponto de Grandes discípulos seguiram seu pensamento: Orígenes, Longino, Herênio e Plotino.   Infelizmente não deixou nada escrito, entretanto, posteriormente Plotino resolveu desenvolver uma exuberante compilação de sua doutrina, motivo pelo qual entrou na história da Filosofia como grande sistematizador, tornando-se famoso pela contribuição ao neoplatonismo um movimento filosófico de importância para o mundo ocidental pelo seguinte motivo: Primeiro a recuperação do pensamento de Platão, o que serviu de base para reconstituição do fundamento epistemológico para o Cristianismo por meio de Santo Agostinho. Plotino foi indispensável nesse processo histórico reconstrutivo platônico.  Considerado neoplatônico acreditava na existência da alma, mas não na atual concepção da mesma formulada posteriormente por Agostinho, negando absolutamente o corpo, a velha acepção platônica da alma.

 

Plotino diferentemente defendia a tese que o mal não tinha existência no mundo, era presente apenas na ausência do bem. O mal um ato necessariamente humano resultado das condições históricas do homem na sua vida real. Entretanto, o caminho para libertação do referido, teria de ser desenvolvido pela reflexão, necessariamente por meio da Filosofia no uso permanente da contemplação, o caminho epistemológico do conhecimento. O mal era, portanto, produto da ignorância humana, não entendido  necessariamente como pecado do corpo, conceito alterado por Agostinho. O neoplatonismo foi o último desenvolvimento da Filosofia de Platão, melhor dizendo da Filosofia antiga, desenvolvido por Plotino.  Esse fato não ocorreu exatamente na Grécia. Atenas havia perdido sua referência de produção cultural do mundo. O novo centro estava no Egito, cidade de Alexandria. Era, pois, uma grande cidade onde se   encontravam os maiores sábios do mundo. Havia povos com influências culturais diversas, entre eles: egípcios, gregos, judeus e romanos. Em referência a esse aspecto, os neoplatônicos foram influenciados por várias culturas e Filosofias, além do ceticismo e do materialismo desenvolvidos pelos epicuristas. Plotino formulou o seu próprio trabalho. Ele nasceu na cidade de Lícope, ano 204, entretanto, sua ascendência é grega. Durante muito tempo estudou com Amônio Sacas, cidade de Alexandria, transformando- se no seu principal seguidor. Posteriormente acompanhou o exército do imperador Gordiano III, 224 a 244, contra os persas. Foi desastrosa essa expedição, porém de fundamental importância para a Filosofia, pois Plotino teve acesso ao pensamento persa e indiano. Retornando mais tarde para Roma, funda  em seguida sua escola permanecendo mais de 25 anos até seu falecimento no ano 270.

 

A importância de todo esse processo histórico é que Plotino fora influenciado pelo pensamento indiano, reformulando o platonismo numa perspectiva nova do conceito da alma e sua relação com o corpo, inclusive alterando também o conceito indiano. Seu trabalho base como instrumento epistemológico serviu ao Cristianismo na elaboração do fundamento da ressurreição, destinando o paganismo diverso para o interior da fé cristã. Ao chegar a Roma, foi apoiado pelo imperador Galieno, anos 218 a 268, obtendo apoio de diversas pessoas consideradas de destaque em sua época, indivíduos da alta sociedade financiaram o desenvolvimento de sua academia. Sua obra compreende 54 tratados, agrupados estes em Enéada, sendo que cada parte sofre divisões de estudos: da moral, da física, do destino e da providência, da alma, da inteligência e, por fim, tratam do ser e do uno.

 

A doutrina de Plotino fundamenta-se em três hipóstases ou três realidades eternas: o uno, a inteligência e a alma. É interessante saber que o uno de Plotino não é Deus, na prática ele não tinha fé. O uno sob sua visão é a fonte principal que oferece vida ao ser e ao pensamento que resulta da própria existência, sendo de certa forma o que significava para Aristóteles o conceito de substância. Com efeito, não existe a separação da alma com o corpo. Para o autor a alma sem o corpo não seria possível, uma vez que o corpo é a fonte da mesma, manipulação forçada por Agostinho. Uma vez que o pensamento judeu não procedia da mesma realidade grega, separar a alma do corpo como fez propositadamente Platão consistia em uma heresia para o pensamento Judeu, sendo que biblicamente a ressurreição é da carne, a alma separada uma invenção indo europeia, herdada do pensamento indiano. No entanto, o uno é uma realidade material de tal ordem que não podemos afirmar a seu respeito, nem a vida, a essência, nada é superior a fonte absoluta o que se denomina de uno. Plotino refere-se à substância de todas as coisas.

 

O conceito etimológico de Sacas como se o uno fosse Deus foi uma invenção de Agostinho com o propósito de defender o erro como se fosse verdade, manipulando o conceito, sabendo do erro a serviço do Cristianismo.  O Uno, no ponto de vista da cosmologia de Alexandria, significa simplesmente o universo. Plotino define o uno como causa de tudo, de todas as formas da natureza ou essência, o uno basta-se por si mesmo.  Para ele a inteligência e como qualquer forma de matéria é derivada do uno. A alma, principio da vida, nasce do uno e retorna para o mesmo, na reconstituição da grande e única realidade, o corpo como átomo da natureza e,  do mesmo modo, a alma.

 

Quando Plotino retrabalhou a Filosofia platônica já fazia cinco séculos de sua morte. Considerava fiéis alguns aspectos das ideias de Platão, entretanto as mesmas havia sofrido influências do movimento aristotélico que contrariava os fundamentos centrais  da Filosofia de Platão. Igualmente o neoplatonismo foi influenciado pelas ideias do estoicismo a respeito da moral e da ética e, por fim as ideias de Epicuro sem contar outros conceitos como influências indianas, persas e egípcias. Na verdade, o neoplatonismo não representa exatamente o que pensava Platão, do mesmo modo a escola Patrística que formulou as ideias a respeito de Deus e da alma, fundamentadas em Plotino platonizado em parte, mas também Plotino foi modificado. As ideias da escola de Sacas e Plotino como fundamentos epistemológicos para o Cristianismo constituíram  adulterações de conceitos pela  escola Patrística. Plotino nunca acreditou em Deus, muito menos na alma da forma que foi apresentada por Santo Agostinho, realidade que se separa do corpo e vai para o paraíso ou inferno, conforme a velha tradição. Entretanto, o conceito de inferno significa herança egípcia herdada pelo pensamento judaico. Na verdade tudo foi um grande mimetismo nas formulações culturais com interesses ideológicos.

 

OBS: Para formular esse artigo conforme a descrição estudei e comparei diversas escolas, em diferentes tempos históricos e influências ideológicas, não sendo de cunho simplório tais comparações. Estudei a escola de Platão, Aristóteles e a Alexandria, o pensamento de Sacas e como Plotino reelaborou o conceito da alma, sua relação com o corpo e o uno compreendendo as diversidades etimológicas. Finalmente, a escola Patrística, de modo especial Agostinho e, como o Cristianismo se desenvolveu por uma acepção da alma manipulada propositadamente por ele em referência a Plotino.

 

Autor: Jeovan Rangel