A REENCARNAÇÃO NA DOUTRINA DA CABALA- PARALELOS COM A FÍSICA QUÀNTICA
A CABALA E A TEORIA DA REENCARNAÇÃO - A FÍSICA QUÂNTICA EXPLICA.
“Porque a terra estará cheia da sabedoria do Senhor, como as águas enchem o mar”. Isaias:11:9
Ein Sof[1] é perfeito. Como diz o profeta Isaias, sua Sabedoria preenche todo o espaço cósmico. Por isso se diz que não há vazios no universo, pois que ele é preenchido pela Essência criadora de Ein Sof. Porque não podemos ver do que é feito a eletricidade não quer dizer que ela não exista. Podemos detectá-la e medi-la pelos resultados que ela projeta no mundo real. Da mesma forma, a essência do Ser Sem Nome, não pode ser conhecida porque ela não se apresenta aos nossos sentidos físicos, mas apenas pode ser detectada pelos nossos canais espirituais.
O que os nossos sentidos podem captar em toda a realidade cósmica é uma parcela insignificante do que ele contém. É como o filósofo Wittgeinstein disse: “os limites do mundo são o limite da nossa linguagem.” Isso porque os nossos sentidos só conseguem se expressar através do sistema de linguagem que o nosso organismo desenvolveu. Mas o mundo é muito mais do que sabemos dele. Assim, o nosso conhecimento da realidade acaba sendo apenas um modelo muito incompleto da totalidade universal.
A realidade infinita existe e pode ser provada embora não possa ser descrita e definida. Quer dizer: toda definição da realidade infinita seria incompleta, finalística, restritiva e não existente, porque não poderia ser abarcada pelos nossos sentidos. Por isso se diz que qualquer definição da divindade seria apostasia (Rabi Kook).
A nossa ideia da realidade deve ser dinâmica e desenvolvimentista. Com esse conceito em mente poderemos acompanhar a evolução do cosmo. Poderemos entender amanhã o que não conhecemos hoje. O cosmo inteiro está em desenvolvimento, o que o faz escapar da conformidade das definições. Isso porque toda realidade aspira atingir um estado de conhecimento cujo objetivo é sempre o desconhecido.
Essa, aliás, é a função das nossas faculdades intelectuais. O que já sabemos não ativa o nosso intelecto, mas sim o que não sabemos. Toda a aventura humana tem essa finalidade: não apenas sobreviver, mas viver sempre melhor; não apenas conhecer, mas avançar no conhecimento; não apenas saber, mas desenvolver sabedoria.
As descobertas mais recentes da física quântica têm nos ensinado muitas coisas novas. Ela mostra que existe uma diferença essencial entre a descrição de um corpo (material) feita pela física clássica e a física atômica. Na física clássica os objetos são descritos pelas suas propriedades físicas, como peso, extensão, temperatura, volume, etc. Na física quântica essas propriedades são tratadas como informações sistêmicas do estado em que se encontra o objeto. Na física clássica o mundo é descrito como um conjunto de coisas materiais, que são compostas por partículas de energia. O cosmo inteiro é composto por essas partículas, inclusive os nossos organismos, que constitui um sistema. Na física quântica, coisas e sistemas são partes de uma diferente realidade. Essa realidade apresenta fenômenos que contradizem o senso comum. Um deles é o fenômeno da não localidade.
No mundo das realidades materiais todo objeto ocupa um determinado lugar no espaço. E não pode estar em dois lugares ao mesmo tempo. Essa limitação não existe no universo das realidades quânticas. Porque nele não há uma “existência física” no sentido em que nós as temos no mundo material. As partículas de energia (os quantas) não podem ser pesados, nem medidos, nem movidos, porque eles simplesmente “não existem”. São como espíritos, que não podem ser detectados pelos nossos sentidos, mas exercem uma influência no mundo real.
No mundo real não é possível mover um objeto sem tocarmos nele. Da mesma forma um objeto não pode influenciar outro à distância. Quer dizer: no mundo físico, a influência de um objeto sobre outro só pode acontecer num sistema onde há relação entre eles, ou seja, se quisermos que um objeto influencie outro que está separado dele é preciso que seja introduzido entre eles um meio de comunicação. Esse é o principio que orienta todas as relações no mundo material. Para movermos qualquer objeto é preciso tocar nele; se quisermos influenciar qualquer objeto que está distante de nós precisamos de um meio (um médium). Esse, inclusive, é o princípio que orienta a prática do espiritismo. Não é possível a comunicação entre o mundo material e o espiritual sem a presença de um médium. Essa também é a principal característica da mecânica newtoniana: a necessidade de localização e um meio de comunicação (uma lei natural) para que o universo possa funcionar.
Na teoria quântica a necessidade de localização e a presença de um meio de comunicação entre dois objetos não é necessária. Os pesquisadores da intimidade atômica descobriram que uma partícula pode afetar outra independente da sua localização e sem intermediação de um meio. Duas partículas próximas uma da outra podem se comunicar. E isso ocorre mesmo que estejam distantes. Quer dizer, o espaço não é condicionante para essa interação. Elas agem como um sistema e não como indivíduos dentro dele. Quando uma mudança ocorre em uma, a outra “sente” a mudança, a despeito de qual seja distância entre elas. Esse fenômeno é chamado de EPR- iniciais dos nomes dos cientistas que descobriram esse fenômeno: Einstein, Podolsky e Rosen. Esse fenômeno foi confirmado por cientistas franceses recentemente e hoje é um dos fundamentos dos estudos da física quântica.
Esse fenômeno é chamado de entrelaçamento quântico. Tanto o ensinamento do espiritismo quanto as crenças cabalistas e gnósticas acreditam que esse fenômeno também aconteça no mundo espiritual, e que ele esteja afeito às propriedades da nossa alma. Esse fenômeno teria sido descrito por filósofos como Teilhard de Chardin e o médico suíço Carl Gustav Jung, ao defender a ideia de uma noosfera[2].
Voltaremos a esse assunto em outro artigo. Por ora queremos apenas lembrar que o entrelaçamento cósmico é um dos fundamentos da teoria defendida pela Cabala. Nessa teoria, nossas almas são vistas como partículas de energia que saem de um Centro Único de emissão e são postas no mundo, onde adquirem massa e constituem o universo das criaturas vivas. De algum modo o fenômeno EPR é uma realidade que influencia todas as almas presentes, passadas e futuras, entrelaçando seus destinos numa rede que algumas tradições religiosas chamam de Carma e a Cabala dá o sugestivo nome de gilgou neshamot. Gilgul neshamot é o termo hebraico que trata do tema da reencarnação no misticismo esotérico hebraico. Envolve o conceito de reencarnação e processos mais complexos da dinâmica espiritual em que as almas estão envolvidas. Nesse processo as almas devem percorrer ciclos de existência através de múltiplas encarnações, que estão ligadas a diferentes corpos humanos ao longo do tempo. A escolha do corpo ao qual uma alma se associa depende de uma tarefa específica que ela deverá cumprir no mundo físico. Mas o seu desempenho também dependerá dos níveis espirituais alcançados pelas mentes das pessoas em que ela encarnou antes. Quer dizer, a alma carrega “informação” de um corpo para outro e seu desempenho, ao final, é sistemático e só no conjunto do resultado deve ser considerado. Na sutileza dessas especulações é que se encontram os paralelos com as descobertas da física quântica no tocante ao comportamento das partículas atômicas. .[3]
[1] Ein Sof (AinSoph) é o “ser sem nome” da tradição cabalística e da filosofia chinesa do taoísmo. Refere-se à Essência Primeira, a Energia que deu origem ao cosmo.
[2] Noosfera é o termo usado por Teilhard de Chardin para designar o conjunto de todas as reflexões produzidas pela humanidade, em todos os tempos, que, na sua visão, formaria uma espécie de “atmosfera cobrindo a terra”. Jung trabalha com esse mesmo conceito chamando a esse fenômeno de Mente Coletiva da Humanidade.
[3]O conceito do guilgul neshamot foi desenvolvido pelo famoso rabino Isaac Luria no século XVI, e constitui um dos mais interessantes ensinamentos da cabala.