O ESPÍRITO DE SAMUEL E O REI SAUL

“Depois disto Samuel morreu e apareceu ao rei (Saul), e predisse-lhe o fim da sua vida e levantou a sua voz de debaixo da terra, profetizando, para destruir a impiedade do povo.” (Eclesiástico 46:23)

O Livro Eclesiástico do latim Eclesiasticus (não confundir com o Eclesiastes), encontra-se no Antigo Testamento da Bíblia Católica Romana e foi escrito por Jesus Ben Sirac, natural de Jerusalém. Redigido em língua hebraica no século II antes de Cristo, foi traduzido posteriormente para o Grego pelo neto do autor.

No versículo em foco, Ben Sirac faz um resumo sobre a morte do profeta Samuel e a sua manifestação espiritual ao rei Saul. Os pormenores desta comunicação mediúnica encontram-se narrados no primeiro livro de Samuel. [1]

Este fato atestado por dois livros da Bíblia torna evidente a veracidade das comunicações de além-túmulo nas paginas bíblicas. Bem Sirac declara que foi realmente Samuel que apareceu a Saul: “Samuel morreu e apareceu ao rei”. O redator de 1Samuel também revela que era mesmo o profeta quem surgiu (28:12) dizendo: “ vendo, pois, a mulher a Samuel [2], gritou em alta voz”.

Nenhum dos autores deixa dúvidas de que foi o Profeta Samuel, em espírito, quem se comunico com Saul através da pitonisa.

Naquela época os judeus acreditavam que os espíritos dos mortos, sejam eles bons ou maus, iam para um mundo espiritual subterrâneo chamado Xeol, além disso, todos aos povos do oriente médio, bem como os Egípcios, tinham crenças semelhantes. Os gregos chamavam esse mundo espiritual de Hades, palavra que várias vezes é citada também na Bíblia, segundo a mitologia grega havia no Hades um compartimento denominado de campos Elísios, que era o lugar onde ficavam os espíritos dos homens bons. Tanto o Xeol como o Hades é traduzido errôneamente nas Bíblias por inferno ou simplesmente sepultura, o que não condiz com o pensamento original de morada espiritual dos mortos.

Assim sendo, não é estranho que o texto fale que Samuel se levantou de debaixo da terra, pois essa era a crença da época.

As perseguições contra os adivinhos e feiticeiros e outros mercenários da mediunidade, tinham o objetivo de preservar o culto monoteísta, pois os povos que eram vizinhos dos hebreus tinham por hábito divinizar e cultuar os mortos. Assim, era contra essa prática que Moisés proibiu a comunicação com os espíritos dos mortos, isto é, nos moldes como essa comunicação era exercida pelos idólatras.

Todavia, nada impedia que os Judeus acreditassem que os espíritos dos mortos pudessem se comunicar. Foi assim, que o próprio Saul um perseguidor implacável, recorreu a uma pitonisa a fim de evocar o espírito de Samuel. E este se comunicou e confirmou uma profecia que predissera quando encarnado:

“então disse Samuel: porque, pois, a mim me perguntas, visto que o senhor te desamparou e se fez teu inimigo, ele te dissera: tirou o reino da tua mão e o deu ao teu companheiro Davi”. [3]

E mesmo desencarnado profetizou novamente dizendo:

“O Senhor entregará também a Israel contigo nas mãos dos filisteus, e amanhã tu e teus filhos estareis comigo [4]; e o acampamento de Israel o Senhor entregará nas mãos dos Filisteus”.

Realmente tudo realizou-se como ele havia previsto [5]. Todavia, o autor do primeiro livro de Crônicas (1Crônicas) contraditoriamente coloca a consulta com a pitonisa de En-Dor como uma das causas para a morte de Saul e da transferência do reino para as mãos de Davi [6]. O que não concorda com os textos anteriores, visto que a decisão de tornar Davi rei em lugar de Saul já havia sido decidida antes da morte do profeta Samuel [7] e quem predisse que Saul e seus filhos iriam morrer foi o próprio espírito do profeta, comprovando mais uma vez a sua identidade, pois o cumprimento de uma profecia distingue e torna autêntica a mensagem de um verdadeiro profeta de Deus [8]. Desse modo o autor de 1Crônicas exprimiu apenas uma opinião pessoal.

A comunicação com o plano espiritual é uma realidade que sempre esteve presente em todas as épocas e nenhum povo foi exceção. O Espiritismo como a terceira revelação da Lei de Deus, vem levantar o véu que encobria essas verdades, envoltas em misticismo e mistério, e mostrar pela simplicidade de uma doutrina racional e livre de segredos, de dogmas e superstições, a continuidade da vida e o auxilio mútuo das duas humanidades.

Através do estudo das obras de Kardec, pode-se de maneira segura conhecer essa realidade.

Referências:

[1] 1Samuel 25:1;28:1-25

[2] o grifo é nosso

[3] 1Samuel 15:28

[4] no Xeol

[5] 1Samuel 31:1-7; 1 Crônicas 10: 1-6

[6] 1Crônicas 10:13-14

[7] 1Samuel 15: 26,27; 16:1-13

[8] Deuteronômio 18:2; Jeremias 28:8; 1 Reis 22:24-28; Ezequiel 33:33