AS FRUTAS DA IMORTALIDADE E O JARDIM DO ÉDEN
Segundo o Livro de Gênesis Deus após a criação do primeiro casal, condicionou a sua imortalidade ao consumo dos frutos da árvore da vida (Gênesis 2:9). Depois da queda, Adão e Eva já expulsos do jardim do éden ficaram privados do consumo desse vegetal importante para a sua longevidade física e consequentemente os seus dias de vida foram limitados (Gênesis 2:22-24).
Verdade seja dita, parece estranho demais que o Eterno houvesse imposto como requisito para ser imortal, o consumo de um fruto. Entretanto, quando se investiga as origens mitológicas do Gênesis a compreensão desse texto fica muito mais clara.
Nos Mitos mesopotâmicos de origem, a principal fonte de onde os textos bíblicos foram adaptados, haviam também determinados alimentos que proporcionavam a imortalidade para quem os consumisse. Até os próprios deuses se utilizavam dessas iguarias para permanecerem jovens e eternos. Adapa por exemplo, rejeitou o pão e a água da vida eterna quando iria se apresentar perante o deus Anu.
Gilgamesh outro herói mesopotâmico foi orientado a procurar a árvore da vida que ficava no jardim dos deuses, guardada por uma mulher chamada Siduri-Sabitu. É interessante que a maioria dos povos da antiguidade tinham árvores sagradas e até divinizadas. Gilgamesh em outro momento também mergulhou no mar para colher um tipo de vegetal que poderia proporcionar a eterna juventude mas, no caminho de volta pra casa, uma cobra lhe rouba a planta e a imortalidade.
Na mitologia grega a ambrosia um manjar consumido avidamente pelos deuses, poderia proporcionar a imortalidade aos humanos, mas haviam também maçãs douradas da imortalidade. Para os nórdicos as maçãs também eram os frutos que tornavam um ser imortal, já nos mitos chineses os pêssegos tinham esse papel.
Assim, compreende-se perfeitamente que para a mente das pessoas da antiguidade a imortalidade física era uma prerrogativa dada pelos deuses ou por Deus para determinados homens e que estava condicionada a determinados alimentos especiais. Esse simbolismo expressa a preocupação da humanidade com relação a morte biológica, tentando explicar o porquê da morte existir no mundo e se haviam meios físicos para driblar o inevitável.
Até os dias atuais procuramos por panaceias que possam viabilizar uma longevidade saudável para o nosso corpo, o que é totalmente válido e possível até determinado ponto, com o aumento da expectativa de vida proporcionado pelos avanços da ciência. Mas, nessa procura esquecemos que o inexorável um dia vai acontecer e deixamos de nos preparar moralmente para essa viagem chamada desencarne. Às vezes olvidamos que somos realmente imortais, não fisicamente, mas, como seres espirituais, não lembramos que do outro lado da vida colheremos exatamente aquilo que plantamos, seja de bom ou de ruim.
Então, buscar uma longevidade física é saudável e valioso, porém a Doutrina Espírita também nos recorda e exalta sobre a necessidade da nossa saúde moral, como espíritos imortais que todos nos somos:
“Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas más inclinações.” Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo cap. XVII, item 4