COMO LER E PREGAR EFÉSIOS “A nova humanidade em Cristo”

PREGAÇÃO: CADA PREGADOR É UMA EDIÇÃO LIMITADA DE UM SÓ EXEMPLAR

O título acima é de um artigo de Warren W. Wiersbe, do livro A ARTE E O OFÍCIO DA PREGAÇÃO BÍBLICA, onde ele nos fala que houve uma época que, mesmo sendo um pregador do interior com um mínimo de treinamento acadêmico, ainda assim estava ministrando a uma multidão de universitários. Enquanto que o amigo pastor que o havia convidado, e escrevia comentários e lia mais livros em um mês do que ele em um ano, ainda assim a sua congregação era primariamente operária, pobre e sem profissionais liberais, iletrada. O que não fazia o menor sentido.

“Eu nunca teria mandado um rústico Amós para a corte opulenta do rei; eu teria me dado uma calma igreja do interior em algum lugar. E eu nunca teria comissionado Saulo de Tarso aquele "hebreu de hebreus" para ser um missionário aos gentios; eu o deixaria encarregado do evangelismo de judeus em Jerusalém. Tudo isso me leva ao ponto desse artigo: Se Deus chamou você para pregar, então quem você é, o que você é e onde você está são aspectos que também precisam fazer parte do plano de Deus. Você não prega apesar disso, mas por causa disso.

Por que é, então, que muitos pregadores não gostam de pregar? Por que alguns se ocupam com questões secundárias se deveriam estar estudando e meditando? Por que outros rastejam do púlpito depois de pronunciar o sermão, dominados por um sentimento de fracasso e culpa?

Wiersbe tem uma teoria: “Eu acho que posso sugerir uma resposta: Eles estão pregando apesar de si mesmos em vez de pregarem por causa de si mesmos. Eles ou se excluem de sua pregação ou lutam consigo mesmos durante sua preparação e proclamação; isso os deixa sem energia ou entusiasmo para a tarefa. Em vez de agradecerem a Deus o que têm, reclamam sobre o que não têm; e isso não os deixa em condições de anunciar a Palavra de Deus.”

Dito de outra maneira, são pessoas que não compreenderam que o poder não está nelas, a pregação não parte dela, o dom não é dela, mas tudo vem de Deus. O nosso papel como pregador é ler, aprender e estudar, para que o Espírito Santo tenha base para nos fazer lembrar. “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e VOS FARÁ LEMBRAR DE TUDO quanto vos tenho dito.” João 14.26

Warren W. Wiersbe nos conta: “Uma pesquisa feita pela revista Christianity Today/GaLlup mostrou que os ministros acreditam que pregar é a prioridade número um de seu ministério, mas também é a coisa de que eles se sentem menos capazes de fazer bem. O que causa essa atitude insegura com respeito à pregação?”

Eu já pensei muito sobre isso e cheguei a algumas conclusões. Uma das principais é que muitos não tem certeza que estão pregando o que Deus quer que ele pregue. Imagine o culto de hoje, quem vai assistir o culto, e com que demandas chega ao culto? Nós não sabemos, nem em que situações espirituais, ou necessidades físicas, irão chegar ao culto. Mas e sobre o culto de amanhã, ou da semana que vem, ou de daqui um mês, onde fomos convidados a pregar. Como saber de antemão quem vai estar na igreja daqui a um mês? Não dá pra saber. E como vamos saber então o que pregar, se nem sei se estarei vivo na ocasião? Eu não sei, nem quem vai, ou deixará de ir e nem em quais demandas chegará à igreja. Pra incrementar um pouco mais, pensemos que essa mensagem ainda deverá falar com a maior parte dos ouvintes, senão todos, de uma vez. Como saber qual é a palavra que vai falar com todo mundo, naquele dia, naquela hora? Não sabemos, mas Deus sabe. Deus sabe quem vai estar em todos os cultos, daqui até a volta de Cristo, e com quais demandas, quais necessidades. Deus sabe qual palavra melhor se encaixa em toda situação. A questão pra mim é de fácil resolução. Devemos orar e estudar a Bíblia, conhecer a nossa comunidade, para que a gente tenha a percepção espiritual exata do que Deus quer que se pregue nesse, ou naquele culto. Sabendo o que Deus quer que a gente pregue, a insegurança cai por terra. Sabendo, direcionados, dirigidos por Deus, o que pregar, não pregaremos inseguros. Se orarmos o suficiente até termos a revelação do que pregar, nós vamos pregar exatamente o que está no coração de Deus. E apesar de podendo não ser exatos na mensagem, iremos errar menos.

ANÁLISE DO TEXTO: A NOVA HUMANIDADE EM CRISTO

11Portanto, lembrem-se de que anteriormente vocês eram gentios por nascimento e chamados incircuncisão pelos que se chamam circuncisão, feita no corpo por mãos humanas, e que, 12naquela época, vocês estavam sem Cristo, separados da comunidade de Israel, sendo estrangeiros quanto às alianças da promessa, sem esperança e sem Deus no mundo. 13Mas agora, em Cristo Jesus, vocês, que antes estavam longe, foram aproximados mediante o sangue de Cristo.

14Pois ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um e destruiu a barreira, o muro de inimizade, 15anulando em seu corpo a Lei dos mandamentos expressa em ordenanças. O objetivo dele era criar em si mesmo, dos dois, um novo homem, fazendo a paz, 16e reconciliar com Deus os dois em um corpo, por meio da cruz, pela qual ele destruiu a inimizade. 17Ele veio e anunciou paz a vocês que estavam longe e paz aos que estavam perto, 18pois por meio dele tanto nós como vocês temos acesso ao Pai, por um só Espírito.

19Portanto, vocês já não são estrangeiros nem forasteiros, mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus, 20edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, tendo Jesus Cristo como pedra angular, 21no qual todo o edifício é ajustado e cresce para tornar-se um santuário santo no Senhor. 22Nele vocês também estão sendo edificados juntos, para se tornarem morada de Deus por seu Espírito. Efésios 2.11-22

ALIENADOS

John Stott, no livro “A mensagem de Efésios”, interpreta que a tônica, o cerne, o coração da compreensão desse texto de Efésios 2.11-22, é alienação. Alienado é quem não tem interesse nem capacidade de compreender a realidade que o cerca, especialmente em relação à política e à realidade mundial.

Ao a Bíblia falar da alienação humana, descreve duas outras alienações, mais profundas do que a alienação política e a econômica. Uma delas é a alienação de Deus, nosso Criador, e a outra alienação é a de nós mesmos em relação a nosso próximo. Nada é mais desumano do que este colapso no relacionamento fundamental entre os homens. É então que nos tornamos estranhos num mundo em que deveríamos sentir-nos à vontade, e ficamos sendo estrangeiros ao invés de cidadãos. A carta aos Efésios refere-se a essas duas formas de alienação. (4:18 “alheios à vida de Deus” 2:12 “separados da comunidade de Israel”)

Ora, esta dupla alienação, ou melhor, sua substituição pela reconciliação, é o tema de Efésios 2.11-22 que nos mostra que os seres humanos são retratados como estando alienados uns dos outros e em especial, os gentios são descritos como estando “separados da comunidade de Israel”.

ALIENADOS EM RELAÇÃO AO PRÓXIMO. – A partir da Queda, ou a entrada do pecado no mundo, em Genesis 3, houve uma separação, um rompimento, entre o ser-humano. O ser-humano afasta-se do próximo, a ponto de alienar-se, não se importar, com o outro. A alienação é uma relação de falta de relação. Vivemos numa sociedade em que moramos vinte anos num local e não conhecemos o vizinho. Na igreja não conhecemos a pessoa que nos cumprimenta. E não conhecer é não se importar, o que não deixa de ser uma forma de egoísmo.

Na igreja, a nova comunidade de Deus, o Espírito Santo gera espiritualmente uma ligação especial, superior, onde somos considerados irmãos e sentimos profundamente essa ligação. Conforme a bíblia nos ensina, somos sim, responsáveis pelos nossos irmãos. Na igreja o próximo é problema nosso.

ALIENADOS EM RELAÇÃO À COMUNIDADE DE ISRAEL. - É quase impossível para nós, no séc. XXI, imaginarmo-nos de volta àqueles dias em que a humanidade era profundamente dividida entre judeus e gentios. A Bíblia começa com uma declaração clara da unidade da raça humana. Depois da queda, no entanto, e depois do dilúvio, segue a história das origens da divisão e separação humana. Pode parecer que o próprio Deus contribuiu para esse processo quando escolheu Israel dentre as nações para ser o seu povo santo ou “separado”. Devemos, no entanto, lembrar que, ao chamar Abraão, Deus prometeu, através da posteridade de Abraão, abençoar todas as famílias da terra e que, ao escolher Israel, pretendia que esta nação se tornasse luz para as nações. A tragédia é que Israel se esqueceu da sua vocação, interpretou mal o seu privilégio, achando-se o favorito de Deus, e acabou desprezando, e até mesmo detestando os pagãos, tratando-os como “cachorros”.

William Barclay nos ajuda a sentir a alienação entre as duas comunidades, e a hostilidade profundamente arraigada entre elas, especialmente do lado judaico. Ele escreve: “O judeu tinha desprezo imenso pelo gentio. Os gentios, diziam os judeus, foram criados por Deus para serem combustível para o fogo do inferno. Deus, diziam eles, ama somente a Israel dentre todas as nações que fez... Não era nem sequer lícito prestar ajuda a uma mãe gentia no parto, porque isto seria apenas trazer outro gentio para o mundo. Até a vinda de Cristo, os gentios eram um objeto de desprezo para os judeus. A barreira entre eles era total. Se um rapaz judeu se casasse com uma moça gentia, ou uma moça judia se casasse com um rapaz gentio, era realizado o enterro simbólico da moça ou do rapaz judeu. Semelhante contato com um gentio era equivalente à morte.”

11-13 – Depois dessa explicação, fica mais fácil compreender o texto. Paulo diz aos Efésios que antes eles eram gentios por nascimento, ou alienados. Naquela época, antes de aceitar a Cristo, estávamos sem Cristo, separados de Israel e estrangeiros em relação às alianças da promessa, sem esperança e sem Deus no mundo. Essa situação é o pior cenário para um ser-humano. Porém agora em Cristo, vocês eu antes estavam longe, forma aproximados mediante o sangue, que é o sacrifício da Cruz de Cristo.

14-18 - Lado a lado com a destruição dessas duas inimizades, Jesus conseguiu criar, de fato, uma nova sociedade, uma nova humanidade, em que a alienação cedeu lugar à reconciliação, e a hostilidade à paz.

Esse texto de Efésios nos comprova que a nova sociedade é a igreja, que reuniu o judeu e o gentio, o povo escolhido originalmente, que deveria ter evangelizado o mundo, mas achando-se especial, não o fez, desprezando os outros povos, que denominaram de gentios, o que era quase um palavrão. A nova sociedade salvaé a igreja, que reuniu todos os povos. Isso nos fala claramente que em Apocalipse, não haverá a salvação de Israel e dos gentios, habitando dois povos diferentes na eternidade. Todos os povos, todas as pessoas, para serem salvas tem que se tornar igreja, senão não será salva.

19-22 – Esses versículos trazem uma novidade na Bíblia, vamos compreender. Portanto, através da Cruz, vocês não são mais estrangeiros, mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus. A novidade vem agora. Somos edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, tendo Jesus como pedra angular.

À medida que desenvolve sua figura de linguagem, ele refere-se ao fundamento e à pedra angular do edifício, à estrutura como um todo, e suas pedras individuais, sua coesão e seu crescimento, sua função presente e (pelo menos implicitamente) seu destino futuro. Visto que tanto os apóstolos quanto os profetas eram grupos com um papel pedagógico, parece claro que o que constitui o fundamento da igreja não é a pessoa deles nem o seu ofício, mas, sim, a sua instrução. Além disso, devemos pensar neles como sendo educadores inspirados, órgãos da revelação divina, portadores desta autoridade. Ou seja, não devemos excluir nem a palavra inspirada dos profetas e nem a palavra inspirada dos apóstolos. Apóstolos e profetas, incluem o ensino do Antigo Testamento e do Novo.

Mas a ordem invertida das palavras (não “profetas e apóstolos” mas, sim, “apóstolos e profetas”) sugere que provavelmente haja referência a profetas do Novo Testamento. Em termos práticos, isto quer dizer que a igreja está edificada sobre as Escrituras do Novo Testamento.

OS RESSUSCITADOS SÃO EDIFICADOS SOBRE NOVAS LEIS

Como vimos na primeira parte de Efésios 2 (o estudo anterior, Ef. 2.1-10), o novo nascimento, ou a igreja, está em um outro nível, com novas leis do Espírito. Não nos vale mais as leis antigas, pois estamos sobre novas leis. Chegamos a um outro patamar, um outro nível e precisamos entender o que comporta nesse nível. A nossa lei, é a palavra inspirada do Novo Testamento, fundada nos apóstolos e profetas do Novo Testamento, tendo como base a pedra angular que é Cristo. A palavra da igreja é o Novo Testamento. Isso significa eu os nossos relacionamentos devem ser dirigidos pela nova lei do Espírito em nós, que é o Novo Testamento. As nossas finanças estão sob nova lei. As relações estão sob nova direção. A igreja não é e nem está no Antigo Testamento. A igreja é o novo homem, a nova natureza, a nova humanidade. Aparentemente não compreendemos isso, ao tentar voltar a festas religiosas judaicas, a roupas e peças judaicas, a querer ter um templo físico, ou querer obedecer à religiosidade do Antigo Testamento. Nós somos superiores a isso. Vivemos o ministério do Espírito, tendo acesso a níveis espirituais que não haviam no Antigo Testamento.

Amém

Fique na paz.

pslarios
Enviado por pslarios em 28/03/2022
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