Jesus Cristo, um alienígena?

Um trecho da Bíblia, do Evangelho de João, diz: “Na casa de meu Pai há muitas moradas”. Os espíritas interpretam esse trecho como a revelação de que não estamos sós no mundo, há outros planetas habitados além do nosso. Os discípulos de Allan Kardec vão ainda mais longe, acreditam que a população da Terra é composta de seres oriundos de muitos planetas diferentes, que aqui reencarnam esquecidos de seu passado, com a missão de evoluir e contribuir para a evolução da humanidade. A vida na Terra, um planeta no atrasado estágio de “expiação e provas”, seria uma escola implacável, para aprendermos a reconhecer e superar nossos defeitos mais arraigados.

A coexistência entre nós de paradoxos tão absurdos parece confirmar que realmente estejamos vivendo uma expiação e prova numa escola severa, mas ao mesmo tempo generosa. Ela deixa que nossa selvageria faça a guerra e cometa atrocidades, mas ao mesmo tempo nos enternece com laivos de amizade, solidariedade, amor, beleza e poesia. Parece que estamos sujeitos à escolha, o livre arbítrio manifesta-se. O plantio é livre, a colheita dos resultados é obrigatória.

Mas, voltando às muitas moradas da casa do Pai, o imaginário humano é pleno de manifestações de que acreditamos ter companhia neste imenso universo. Gosto particularmente das ficções O dia em que a Terra parou (livro de Harry Bates, depois transformado em filme) e Contato (livro de Carl Sagan, depois também levado para as telas). Há inúmeras outras ficções, assim classificadas visto que até agora supomos que nunca tivemos uma prova indubitável da existência de alienígenas.

O exame da imensidão do universo conduz às conclusões que os astrônomos não cansam de anunciar: não é sensato que só a Terra tenha propiciado a origem e evolução da vida. Tal conclusão ganha força quando lembramos que o big-bang iniciou o universo que conhecemos há mais de quatorze bilhões de anos, enquanto a Terra tem somente pouco mais de quatro bilhões. Uma diferença de dez bilhões, mais que o dobro da idade de nosso planeta. Quantas civilizações não poderiam ter evoluído antes mesmo da Terra existir?

Elucubrando sobre o trecho da Bíblia e as interpretações dos espíritas, pode-se especular que os nossos messias tenham sido seres enviados de mundos mais evoluídos, com a missão de fazer prosperar a humanidade. E a população da Terra seja uma mistura de seres vindos de mundos em diversos estágios evolutivos: podemos ter por aqui desde bárbaros de planetas “primitivos” até os virtuosos dos planetas regenerados. Assim, Jesus Cristo poderia ter sido um ser vindo de um “planeta de regeneração” dos espíritas. A mando de um Pai, este talvez um ser iluminado de um mundo celestial inimaginavelmente evoluído. Nós humanos temos dificuldade de compreender racionalmente quem seja este Pai. Menos difícil é enxergar sua criação, o planeta em que vivemos e os incontáveis milagres que aqui testemunhamos, principalmente o milagre da vida. E ainda nem bem conhecemos nosso planeta e o potencial humano, mal suspeitamos dos milagres celestiais do universo, que ainda estão além da nossa ciência.

Quem seria o Espírito Santo dos católicos? Talvez auxiliares de Jesus, vindos do mesmo mundo que ele, seres que ainda não extinguiram de vez a vaidade e seus desdobramentos, mas que já a reconhecem e enfrentam-na com galhardia.

Que utilidade poderiam ter estas elucubrações? Talvez refletindo sobre nosso lugar no universo, ainda que sem nenhuma certeza, nos seja revelada a infantilidade dos desígnios desta nossa desorientada civilização, aficionada do consumismo, das fraudes e da guerra.