Desde os tempos bíblicos podemos ver evidente a inconstância humana. Esse amor utilitarista que se critica nos relacionamentos contemporâneos está por toda a bíblia quando se trata do homem para com Deus. Desde a libertação do Egito, onde logo em seguida faz-se um bezerro de ouro, desde os conflitos no deserto, ou os tantos reis que pecaram contra o senhor, ou aqueles que negaram Jesus, até os conflitos relatados no novo testamento. Vez após outra vemos os homens se aproximando de Deus no desespero, no encantamento por seu poder, ou em alguma circunstância especial, para pouco tempo depois deixá-lo por outros ídolos.
Ao olharmos essas atitudes nas perspectivas dos nossos dias, podemos ingenuamente pensar que somos diferentes, que não somos idólatras e que amamos a Deus de todo nosso coração. Mas quantos de nós não nos apegamos intensamente com Deus diante de uma adversidade, fazemos vários compromissos com Ele, intensificamos nossos devocionais para que, nem tendo passado uma semana da benção recebida (ou não recebida) voltarmos à antiga mornidão dos nossos dias?
Há um tempo atrás li uma frase, que, embora não lembre o autor, me chamou muito a atenção: “Se a adversidade nos leva a buscar a Deus, ela é, na verdade, uma ocasião para a graça.” Eu fiquei encantada com a ideia porque é óbvio que aquele que pede a cura de uma doença, a salvação de seu casamento, um emprego para sustentar sua família, entre outras coisas, e as recebe é deveras alguém abençoado. Entretanto, em meio a uma dificuldade pessoal eu percebi um aspecto muito especial do amor de Deus: a dor da dificuldade faz com que nos voltemos à verdadeira benção de modo que, recebendo ou não aquilo que pedimos seremos imensamente abençoados pois desligamos nossa atenção de todas as coisas, mesmo que por pouquíssimo tempo, e voltamos nossa atenção para a verdadeira e a maior bênção de todas: ter um relacionamento com Deus.
Desde a cruz, temos a graça de ter livre acesso ao pai. Podemos amá-lo, servi-lo e viver próximos Dele. E essa é a completude que nosso coração tanto deseja. Entretanto, deixamos nossos dias, nossos corações, nosso tempo, nossos sonhos e expectativas serem engolidos por tantas outras coisas, que inconscientemente colocamos nosso senso de completude e felicidade nelas. C.S. Lewis definiu isso muito bem: “somos criaturas divididas, correndo atrás de álcool, sexo e ambições; desprezando a alegria infinita que se nos oferece, como uma criança ignorante que prefere continuar fazendo seus bolinhos de areia numa favela, porque não consegue imaginar o que significa um convite para passar as férias na praia.”
Desde que me dei conta disso, meu pedido frequente a Deus é de que Ele me ensine a enxergar os ídolos do meu coração. Aqueles que rapidamente me fazem esquecer da infinita alegria de estar na presença Dele. Assim, agradeço por cada adversidade, pois elas elas me levaram a entender que tendo ou não a bênção, o livramento, ou o que quer que eu milagrosamente espere da parte de Deus, o maior presente de todos é estar perto Dele e aprender a amá-lo cada vez mais.