COMO LER E PREGAR OS EVANGELHOS

Iniciamos a nossa conversa sobre como LER E PREGAR OS EVANGELHOS, definindo o que queremos dizer com evangelhos. O Dr. Martin Lloyd Jones (1899-1981) no fala da necessidade na sua época:

“A apresentação do evangelho é assunto sempre importante, pelas consequências eternas que dependem da nossa atitude para com o evangelho. Para mim não há necessidade de argumentar que é especialmente importante nos dias atuais por duas razões: a apostasia geral, o fracasso da parte das igrejas em não apresentarem o evangelho de Jesus do modo como deveria ser apresentado; e a consequente impiedade e o consumado materialismo que crescentemente, caracterizam a vida do povo. Também é um assunto de urgente importância, em face da natureza dos tempos pelos quais estamos passando. A vida é sempre incerta, mas é excepcionalmente incerta hoje.”

Ao continuar a ler o texto do Dr. Jones, notamos que ele usa a palavra evangelhos, como sinônimo de Bíblia. Então quando ele fala na necessidade de pregar os evangelhos, ele está falando da necessidade de expor a Bíblia inteira. É interessante que os motivos dele de pregar, ainda são os mesmos motivos nossos. Mas aqui, quando falo de COMO LER E PREGAR OS EVANGELHOS, eu quero dizer mesmo os evangelhos, os primeiros livros do Novo Testamento: Mateus, Marcos, Lucas e João.

De que falam os evangelhos? Eles são a apresentação do ministério de Jesus. Então o foco dos evangelhos é apresentar Jesus. Mas um erro muito comum ocorre nas nossas igrejas nas suas pregações: num texto onde tem Jesus, os pregadores têm falado sobre o que ele fez, com o foco naquele que recebe a palavra, a cura, ou o milagre e acabamos a mensagem sem saber quem é Jesus. Pessoas que acham que têm pregado a Cristo, sinto dizer, dessa maneira estão trazendo uma ignorância absoluta sobre Cristo.

Os evangelhos registram mais de 30 milagres de Jesus. Vamos pensar em alguns.

1 - Transformação da água em vinho: João 2:1-11.

Procure ler algum estudo na Internet, ouça algum áudio, ou assista um vídeo de pregação e observe que as pessoas falam sobre tudo nessa mensagem, menos sobre Jesus, quem realizou o milagre. Sabemos que numa festa, um casamento, acabou o vinho e estando ali a mãe de Jesus com ele e alguns discípulos iniciais, ela pede para ele fazer alguma coisa. Jesus transforma então água em vinho.

Sabemos muita coisa a respeito de Maria, mãe de Jesus, dos primeiros discípulos, das pessoas que estavam no casamento, dos noivos, do mestre-sala, dos serventes, mas nada sabemos sobre Jesus. Da forma que pregam não se acrescenta nada a Jesus e acabamos a mensagem sem saber quem era Jesus. Só sabemos que ele fez algo, mas sobre ele, da forma que estão pregando, nada se sabe.

A grande pergunta nesse texto e em qualquer texto dos evangelhos aonde Cristo aparece é: O que Jesus está fazendo, nas entrelinhas e não apenas literalmente. Aqui ele transformou água em vinho, por que o vinho acabou e naquele tempo, acabar o vinho, que era talvez a única coisa que tinham para beber, lembre-se que a água era difícil e insalubre, sendo o fruto da vinha era bebido até por crianças. Acabar o vinho naquele momento era acabar a festa e um péssimo presságio, para um casamento que se iniciava. Entretanto, nas entrelinhas, vamos descobrir alguma faceta de Cristo, através do que ele estava fazendo. Vamos descortinar a Cristo não apenas no ato literal, mas no ato simbólico, espiritual, que está por detrás do milagre, ou da cura.

O primeiro milagre de Jesus, que é a transformação da água em vinho, denota a vontade de Deus de trocar de noiva, desprezando a nação idólatra e pecadora de Israel, pela nova noiva: a igreja. Então o que devemos ler nesse texto sobre Jesus é a história de um noivo escolhendo outra noiva, uma noiva mais perfeita e desprezando a antiga noiva.

2 - A figueira seca: Mateus 21:18-22; Marcos 11:12-14,20-25.

Na semana da crucificação, Jesus viu uma figueira com folhas fora da época. As folhas significavam que ela deveria ter frutos, mas chegando próximo, Jesus notou que ela não os tinha e amaldiçoou a figueira que no dia seguinte estava seca, morta. Numa leitura apressada e errada, Jesus estava com fome e como a figueira não tinha frutos ele ficou com raiva, uma emoção humana compreensível, e amaldiçoou a árvore. Nas entrelinhas, porém, Jesus mostrava que aquela figueira que deveria ter frutos, era Israel, que aparentava ter frutos, pois mostrava folhas fora da época, e que eram apenas uma ilusão, uma roupagem, pois não tinha fruto algum. Nessa passagem, Jesus mostrou que Israel estava morto espiritualmente e não agradava a Deus. Havendo o Antigo Testamento e as Leis de Deus, se eles estivessem praticando as Leis, algum fruto, por menor que seja, eles teriam, mas a folhagem só mostra que eles tinham aparência de quem está vivo, mas estavam mortos.

Se no primeiro milagre vimos um noivo escolhendo outra noiva, aqui um Legislador cobra a observância das Leis; um líder cobra o serviço dos seus comandados; um pastor cobra o ministério dos seus discípulos. A idéia é a de que não interessa os seus motivos, se está na obra, tem que ter frutos.

3 - Cura de um leproso: Mateus 8:1-4; Marcos 1:40-42; Lucas 5:12-13.

Certo dia Jesus foi parado por um leproso, que de joelhos lhe disse que se Jesus quisesse poderia purificar o homem. É interessante a palavra purificar, como sinônimo de curar. Ele queria cura, mas pediu purificação. Jesus então liberou uma palavra e o homem foi curado. Esse milagre mostra que Jesus tinha poder e santidade para realizar milagres. Mas nas entrelinhas o que significa esse milagre? Significa que Israel está doente, leproso. A lepra era sinônimo de pecado e só quem poderia libertar uma nação inteira do pecado era o Messias. Jesus então demonstra que era o Cristo, o Salvador, o Messias, o filho de Davi esperado, o novo e definitivo Rei de Israel.

Dizendo de outra maneira, todo ato de Jesus era profético. Jesus operava na direção de Deus, através do Espírito Santo. Todo ato de Jesus tinha segundas intenções espirituais. Nenhum ato de Jesus mostrado nos evangelhos são apenas o aparente.

COMO DEVEMOS ENTÃO LER E PREGAR OS EVANGELHOS?

Ler ou pregar, sem dizer o que Cristo está fazendo nas entrelinhas, ou espiritualmente, é errar completamente o alvo. Mas temos visto as pessoas analisando, por exemplo, na transformação da água em vinho, o tipo de água, ou o tipo de vinho, ou se o mestre–sala era assim ou assado, ou ainda se a irmã Maria fez correto ou não e Jesus, que é o principal assunto, fica totalmente de fora. Prega-se o literal, da forma mais rasa possível, esquecendo-se totalmente da teologia, que é o alvo principal planejado por Deus.

Devemos ler os evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João, observando qual é o movimento que Deus está fazendo através de Jesus. Como é que o Espírito Santo está direcionando Jesus?

Vamos ver mais um exemplo: Jesus Cura a Mão Ressequida (Mateus 12.9-13; Marcos 3.1-5; Lucas 6.6-10). Nesse milagre, um homem tinha um problema na sua mão e provavelmente o problema era na mão de trabalho. Se ele fosse destro, o problema estava na mão direita e se fosse canhoto o problema era na mão esquerda. E Jesus curar esse homem, prova que o seu problema era de origem espiritual, mais do que material, ou que o espiritual suplanta o material. Lendo o texto de forma rasa, Jesus curou um homem que tinha um problema na sua mão e pronto. Mas deveríamos ler o texto tentando compreender o que Deus está fazendo através de Jesus e o que isso tem a ver com o plano de Deus de salvação e o que tem a ver com Israel. A mão de trabalho estava ruim e Jesus curou o trabalho, a maneira, a situação de prosperidade. Israel estava vivendo uma época de profunda desigualdade social e pobreza para a sua população. Deus estava através de Jesus acenando com prosperidade para toda a nação, através da cura de um simples homem que tinha um problema na sua mão.

Ler e pregar os evangelhos sem observar essas coisas é deixar o melhor escondido. O pregador, professor, ou mesmo se lermos de forma devocional, para nós, no particular, devemos compreender essas coisas.

Quer ver mais um texto com profundo significado? Quando Jesus foi preso, enquanto levava a cruz, seu sangue pingou nas ruas de Jerusalém, a capital do mundo. Se observarmos de forma rasa o assunto, vamos dizer: Coitado de Jesus, bateram nele, o machucaram. Mas se compreendermos a parte espiritual, vamos observar que Deus tinha amaldiçoado o trabalho do homem, no Jardim do Eden, onde o homem trabalharia com o suor do rosto e qualquer tipo de trabalho traria suor, que quer dizer que qualquer tipo de trabalho tem alguma espécie de situação problemática. O sangue de Cristo derramado no chão da capital do mundo estava acabando com a maldição no trabalho. Haveria, desde então, prosperidade no mundo, irradiada a partir de Israel.

Como lemos então os evangelhos? A partir da visão de Deus, do olhar divino. Lemos os evangelhos a partir do que Deus está fazendo, de cima para baixo e não de baixo para cima.

Amém.

Fique na paz.