O pecado original e a expulsão do paraíso
Como o pecado original é considerado por muitos o causador das desgraças da humanidade falar sobre ele é mexer num vespeiro.
Digo vespeiro porque além do tema envolver o sofrimento, a morte, o batismo, o livre arbítrio e a salvação, nem os teólogos explicam em que consistiu o tal pecado.
Em outras palavras, a rigor, ninguém sabe que pecado foi esse e se sabem estão proibidos de falar ou têm medo que o povo saiba da verdade.
Uns acham que o pecado foi a desobediência a Deus, outros, mais afoitos, dizem que o pecado foi o Adão ter comido a fruta da Eva.
De qualquer forma, não se pode negar que o pecado envolveu um homem e uma mulher, ou seja, um macho e uma fêmea e isso está explicito no relato do Gênesis que a Eva ofereceu a sua fruta para o Adão comer.
Segundo a teologia cristã, antes do cometimento do pecado por Adão e Eva o homem era imortal, não tinha doença, nem cansaço, não precisava trabalhar, não precisava de roupas, nem de casa e não tinha o que fazer.
Mas o pecado contaminou toda a humanidade que além de perder a ligação com Deus, ainda trouxe a morte, as doenças e o trabalho.
Tudo começou quando o teólogo católico Santo Agostinho 354/430 fez sua interpretação pessoal da passagem do Gênesis e criou o dogma do pecado original.
Isso quer dizer que o pecado original é uma invenção da igreja latina que passou esse entendimento para os evangélicos.
Dizemos que é uma invenção porque nem os próprios judeus, que escreveram a bíblia, nem os muçulmanos e nem os ortodoxos acreditam no pecado original.
Além disso, desde a sua invenção o dogma do pecado original, com as suas implicâncias, sempre foram questionadas por membros da própria igreja, principalmente pelos padres e bispos orientais.
No entanto, a mais importante contestação do pecado original foi levantada por um contemporâneo e irmão de fé de Agostinho, o monge, filósofo e escritor irlandês de nome Pelágio e foi seguida por santos como são João Crisóstomo, São João Cassiano e outros.
Pelágio afirmava que o pecado original é uma farsa e que se Adão e Eva comeram o fruto proibido foi porque quiseram, logo, se houve algum pecado a culpa é somente deles e não da humanidade.
Disse ainda que é impossível a alma trazer consigo algo que não é culpa sua.
Essa doutrina, denominada pelagianismo, embora considerada heresia e severamente combatida pela igreja latina, foi seguida por muitos e é ponto de fé nas igrejas ortodoxas.
A controvérsia levantada por Pelágio suscitou outros questionamentos como: Se o sofrimento e a morte foram um castigo para a humanidade pela desobediência no Éden, por que os animais também sofrem e morrem?
Segundo a teologia romana, o homem nasce com o pecado original, mas pode se livrar dele pelo batismo. Mas aí surge a pergunta, e as crianças e pessoas que morrem sem ser batizadas?
Por outro lado, se o batismo livra o homem do pecado original, e se a morte teve origem nesse pecado, depois de batizado e livre do pecado, o homem deveria voltar a ser imortal.
Seguindo a linha de interpretação de que o batismo é para livrar o homem do pecado original, e se Jesus foi batizado por João Batista, será que Jesus também nasceu com o pecado original?
Entende-se que, depois de batizado e livre do pecado o homem estaria salvo. No entanto de acordo com os teólogos cristãos o batismo não salva ninguém, a salvação não vem pelo batismo visto que a salvação depende de mais outras condições, como fé, graça e obras. Então por que batizar?
Mas, péra aí, e a expulsão do paraíso como é que fica? Calma, calma, assim como a história da maçã, a história da saída de Adão e Eva do paraíso é pura fantasia.
Na verdade, Adão e Eva, enquanto “inocentes” recebiam no paraíso, todos os cuidados indispensáveis ao seu desenvolvimento e sobrevivência.
Depois que a Eva e o Adão descobriram o sexo, Deus o chamou e disse: Adão, tu já és um homem feito, já me provastes que, com tua mulher, podes reproduzir a humanidade, sabes distinguir o bem do mal, mas agora terás que trabalhar.
Para isso, dou-te a terra com tudo que nela há, para que dela tires o teu sustento. Toma a tua mulher e povoes a terra.
Daqui a diante, tens a liberdade de fazeres o que quiseres, porém não esqueça que a semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória, ou seja, tu e a tua descendência colhereis o que plantarem, se plantarem rosas colherão rosas, se plantarem espinhos é isso que irão colher.
Assim, a mal interpretada expulsão do paraíso, nada mais foi que a doação do “livre arbítrio”, mesmo porque a partir da sentença “comerás o pão com o suor do teu rosto” estava decretado que Deus, já não era mais o condutor do destino do homem, o qual assumiu a responsabilidade de responder pelos seus atos e pelas suas consequências.