Esperança, ao sair das cinzas
Pe. Geovane Saraiva*
Diante da escuridão dos corações humanos, armados, querendo rechaçar a luz ou mesmo dominá-la, que resplandeça a esperança no Sol da justiça, a partir do apóstolo Paulo, ao se encontrar com a luz do Senhor, que se apoderou dele no luminoso caminho para Damasco (cf. At 9, 3). Pela fé, todos os crentes podem perceber em seus corações a luz a fluir e emanar de Cristo. Paulo compara essa iluminação à do primeiro dia da criação, mas em Jesus de Nazaré, filho de Maria e do carpinteiro José, cogitando, evidentemente, desmanchar a montanha da falta de esperança, do orgulho, do egoísmo que está dentro de nós, contrapondo os dois reinos, o da luz e o das trevas, com suas respectivas armas e ações, para recomendar sempre a permanência da luz genuína e verdadeira (cf. Rm 13, 11).
A bela imagem de Cristo Salvador, apresentada como o cumprimento das prometidas profecias como luz do Senhor ao mundo, realiza-se na profecia de Isaías (cf. Mt 4, 16), e também em Zacarias, imagem essa anunciada como o Sol que do alto ilumina (cf. Lc 1, 78). Só mesmo no amparo de tão visível simbologia, de paz, justiça e da afável ternura, indo ao interior do coração das pessoas, querendo entrar na frágil existência humana. Ele, o Sol nascente, quer que plantemos boas sementes no mundo, aquelas compreendidas em profundidade por Dom Helder Câmara.
Os olhos dos homens estão obscurecidos pelo egoísmo violento do ódio, pelo pecado, pelos estímulos mundanos que os envolvem. Cristo veio para aclarar e acrisolar o horizonte do homem e abrir-lhe o caminho da salvação, por isso sua ação é um confronto com as trevas que cercam o homem e o mundo (cf. Jo 12, 46). Devemos plantar boas sementes neste Natal, mas quais sementes? Sementes de paz, amor e compreensão, do não ao egoísmo, de um ambiente leve, com bons e construtivos olhares, e de um coração fértil, grande e largo. Numa palavra: sementes de esperança.
São João, no seu Evangelho, apresenta Cristo como a luz que ilumina todos os homens (cf. Jo 1, 9). Ele coloca na própria boca de Cristo as palavras: "Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas" (cf. Jo 8, 12). Neste tempo de Advento e Natal, inspirados na profecia do nosso Isaías, ou Zacarias, brasileiro, Dom Helder Câmara, que possamos aprender com nossa boa gente da Parquelândia, sem esquecer das crianças da Infância e Adolescência Missionária e do Projeto Dom Helder, Arte e Missão de nossa Paróquia de Santo Afonso, "meninos e adolescentes maluquinhos da Auristela", saindo das cinzas neste tempo de pandemia.
Que o bom Deus, que faz arder e brilhar os corações da nossa gente, na condição de pessoas de fé como filhos da luz (cf. Lc 16, 8), nos inspire a olhar para a árvore de Natal, indo além do razoável, no desejo de se chegar ao essencial, ao menino pobre da manjedoura, no mesmo questionamento: "Quais sementes desejo espalhar pela terra? Sementes de paz, amor, compreensão e esperança. Há tanto desespero, desengano, decepção, frustração e desesperança! Sementes de esperança, sem dúvida, chegariam em boa hora". Assim seja!
*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, jornalista, escritor, poeta e integrante da academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).