O clamor de Deus no Advento
Pe. Geovane saraiva*
O nascimento de uma criança, sobretudo de um filho homem, era para os israelitas um motivo de júbilo e alegria. O Primogênito ou Unigênito do Pai quer nascer, num clima auspicioso e promissor, em cada criatura humana, revestido da força do alto, convidando-nos neste tempo do Advento a nos voltarmos para o mistério de Deus, o mais elevado, que nos fala através de sua palavra salvífica, a qual quer revelar os caminhos divinos, exortando-nos a uma permanente vigilância.
O Natal é a grande festa da solidariedade de Deus para com a humanidade, já que vem um Salvador, no desejo de nos livrar do pecado e da morte. A Igreja também fala neste tempo concreto da história sobre a importância do serviço humanitário e solidário, vivamente presente entre os fiéis, seguidores de Jesus de Nazaré, sendo sua razão de ser no dom maior, unidos ao Papa Francisco: “No mundo atual, onde milhões de crianças e famílias vivem em condições desumanas, o dinheiro gasto e as fortunas obtidas no fabrico, manutenção e venda de armas, cada vez mais destrutivas, são um atentado contínuo que brada ao céu”.
Que na nossa preparação para o Natal do Senhor, ocasião para bem interiorizarmos a encarnação da salvação no mundo, em que estamos inseridos, deixemo-nos guiar pela luz do Salvador, que, segundo Santo Afonso Maria de Ligório, desceu das estrelas. Aquela criança, como as demais, depois de nascer na humilde manjedoura, foi envolvida em faixas (cf. Lc 2, 7). Oxalá, saibamos ouvir a voz de Deus, de não fechar o nosso coração, para que, no exemplo do mistério maior neste Advento, no nosso diálogo ou no encontro do céu com a terra, mas abismado, no desejo de que seja sempre mais reentrante e estreitado.
Caminhamos, na penumbra da fé, ao encontro da procedente “troca de dons entre o céu e a terra”, dentro de um ambiente nem sempre favorável, mas compreendido, no aviso divino, sempre renovado por mim, mas que nosso propósito didático chegue aos bons assimiladores, no recado de Dom Helder Câmara: “Quando houver contraste entre a tua alegria e um céu cinzento, ou entre a tua tristeza e um céu em festa, bendiz o desencontro, que é um aviso divino de que o mundo não começa e nem acaba em ti”.
Pasmados pelo mistério do Natal do Senhor, que nossas estradas sejam iluminadas, tendo, diante dos olhos e do coração, na mais cristalina compreensão, aquela máxima do profeta Isaías: “Acontecerá, nos últimos tempos, que o monte da casa do Senhor estará estabelecido no ponto mais elevado das montanhas e reinará nas colinas” (Is 2, 2). Assim seja!
*Pároco de Santo Afonso, blogueiro, jornalista, escritor, poeta e integrante da academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).