Manifestação divina numa folha de papel
O desenhista, o desenho
e a folha
Imagine que o mundo material é uma folha de papel, e que o "meio" imaterial, concerne tudo o que existe além desta folha.
Continue o raciocínio imaginando que além da folha (meio imaterial) existe um desenhista. Neste exemplo o desenhista é análogo ao criador/Deus cristão.
O desenhista tem total poder sobre a folha, pode rasgá-la, pode desenhar sobre ela, pode dobrá-la, amassá-la etc... Contudo, há certas coisas que o desenhista não pode fazer. Ele não pode, por exemplo, se materializar na folha, nem pode também, se tornar o seu próprio desenho. Mas isso não tira a sua potência sobre a sua obra, pois, não é o desenhista que está limitado à folha, é a folha que está limitada ao desenhista. Por mais que o criador seja onipotente, se sua criação também não o for, esta não conseguirá conceber os limites da onipotência do seu criador.
Materialidade e
imaterialidade
Trazendo esse problema para a nossa realidade, nós estamos na folha (material) . Por conseguinte, estamos limitados às manifestações sobre a folha, e não conseguimos conceber nada do que está para além dessa folha (imaterial). Seguindo esta lógica, a única forma do desenhista se manifestar/comunicar conosco, é por meio de um desenho. Não adianta acenar "de fora", não conseguiríamos perceber. Porque qualquer mudança que ele faça sobre nós, a partir da imaterialidade, terá efeitos materiais. Os desenhos, por exemplo, não conseguiriam, neste contexto, enxergar a caneta deslizando sobre a folha para formar traços de tinta. Veriam apenas os traços se formando "sozinhos", afinal, a caneta não faz parte da folha, por tanto, é imaterial, logo, não pode ser percebida pelos desenhos, que são estritamente materiais.
Por essa analogia, podemos perceber uma lógica válida, a princípio, no ato de que uma evidência científica material, não invalidaria uma potencialidade supostamente imaterial, que não faz parte do meio senciente da matéria.
No exemplo da folha, uma evidência científica seria a análoga descrição do traço se formando na folha. Porém, essa descrição não corresponde à totalidade do fenômeno, pois, como bem dito, por "trás" do traço, há uma caneta, invisível aos "olhos" dos desenhos.
A trindade:
Autor, influência e personagem
Ainda sob a ótica deste argumento, é também possível tratar do problema da trindade cristã: "Pai, filho e espírito santo''.
Mas antes eu irei recapitular o argumento principal: "O desenho está preso no mundo material, que é a folha de papel. O desenhista existe fora da folha, por tanto, ele é um ser imaterial. Se ele é um ser imaterial, não pode se materializar na folha".
Até esse ponto eu creio que eu tenha sido claro e objetivo nas explicações, então irei prosseguir.
O desenhista apesar de não poder materializar-se na folha (mundo da sua criação) tem a capacidade de manifestar-se nela, de outras formas. Uma dessas formas seria a criação de um personagem de si mesmo, que manifeste sua natureza de desenhista no desenho. Essa é, portanto, a analogia que elucida a divisão entre pai e filho, descrita na bíblia.
O filho (jesus) seria a manifestação do pai na forma natural. Os dois são a mesma "pessoa" em condições diferentes. Pois um é um personagem do outro, apesar de que, cada qual, tanto o pai (desenhista), quanto o filho (desenho) guardam particularidades diferentes, advindas das distintas formas de manifestação, numa mesma vontade.
O desenho e o desenhista, representam uma mesma pessoa, com uma mesma vontade, em corpos distintos. Tal como a representação de Jesus e Deus, numa perspectiva de autor e personagem. O espírito santo seria a influência exercida por Deus, em nós. No exemplo do desenho, o espírito santo seria a influência do desenhista nos seus personagens (desenhos). Essa influência por si, é também outro "corpo", pois transcende o desenhista e o próprio desenho, sendo o resultado do traço na folha, análogo ao impulso divino que supostamente movimenta os fiéis da religião cristã.
Novamente, recapitulando: "A maneira de o desenhista (Deus), manifestar-se na folha (mundo material), dar-se-ia na forma de desenho, configurando um personagem de si mesmo, no seu próprio mundo. Este sim, com corpo material, representando sua vontade divina naquele mundo. E o espírito santo, seria a influência/inspiração do desenhista, na forma de movimento dos personagens. Movimento este, que pode ser interpretado na analogia, como interferência direta do desenhista na folha, a partir das ferramentas naturais, seja por meio de um traço que modifique algum personagem ou direcionamento na história de algum deles.
A inspiração divina, por tanto, pode ser um ato direto de Deus, movido a partir de um corpo natural, ou mesmo um impulso intencional da mente humana, que surge de súbito, segundo os fiéis, como a própria vontade de Deus "materializada" neles.