Diálogo ecumênico entre as igrejas cristãs: Um desejo do Cristo e um desafio para a Igreja!
Aqueles que lutaram pela sã doutrina durante a história cristã, deixaram por meio da fé católica e sua tradição, o mais precioso legado de nosso Salvador. Observe que o termo “católica” não se refere ao romano catolicismo, isoladamente, mais a todas as Igrejas que se deixaram orientar pelas decisões dos Concílios Ecumênicos, incluindo-se aí as igrejas católicas ocidentais, ortodoxas e evangélicas tradicionais.
Concílios ecumênicos foram as reuniões dos bispos que representando a totalidade dos fiéis das igrejas, debateram à luz da Bíblia e da tradição, e decidiram através da democracia do voto, sobre os conceitos referentes a correta doutrina, que pela amplitude de alcance foi chamada de católica, que quer dizer universal, “para todos”.
Sendo assim, não há dúvidas de que no primeiro milênio, principalmente os cristãos ortodoxos foram os principais protagonistas na defesa da fé, a função original do bispo ainda estava preservada e os concílios ainda tinham a merecida posição de maior autoridade sobre o destino da Igreja e em matéria de fé.
Infelizmente, a interferência simbolizada na “invenção” de um bispo universal, intitulado “papa” em 1073, dificultou o diálogo na igreja total. A geografia dos concílios mudou a essência dos debates e as igrejas nacionais sofreram o golpe da italianização da fé católica universal, já que estes concentraram pautas de do interesse de uma só instituição em prejuízo da igreja total.
Neste sentido, o bispo Dom Carlos, fundador jurídico da Igreja Católica Brasileira em 1945 e transmissor da sucessão apostólica na ICAB, muito lutou pelo retorno da Igreja aos primórdios da fé cristã e, por isso, fez dos concílios do 1º Milênio, a chamada fé niceno-constantinopiltana, uma das bases da doutrina icabense, tal como os seus fiéis professam. Foram estes ideais que levaram Dom Carlos a se tornar precussor do diálogo ecumênico no Brasil, visto que se aproximou de evangélicos, espíritas e das religiões de matriz africana.
No bojo destas perspectivas de realidades, são louváveis as iniciativas protestantes. Devemos considerar que o ponto crucial para os ideais de unidade é Nosso Jesus que orou pela unidade do Corpo Místico da Igreja. “Não rogo somente por eles, mas pelo que, por meio da sua palavra, crerão em mim, a fim de que todos sejam um. Como tu, pai, estás em mim e eu em ti, que eles estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviastes" (Jo 17,21).
Em nossa atualidade, as esperanças de um diálogo ecumênico fraterno parece ainda tímido, se considerarmos que o Conselho Mundial de Igrejas/CMI (outra iniciativa evangélica), reúne apenas 340 denominações cristãs num mosaico bastante fragmentado com quase 34 mil igrejas. Fundado em 1948, o CMI talvez seja o espaço mais democrático já existente, tendo em vista que se propõe a não ter vínculo de parcialidade com nenhuma das igrejas membros e destina-se a trazer a uma só mesa de diálogo todas as grandes famílias cristãs: ortodoxa, católica, anglicana e protestante!
É válido citar as palavras de Tertuliano destacando a fraternidade que deviria ser conservada nas relações entre as igrejas. Dizia ele: “As nossas numerosas Igrejas reputam-se todas a mesma Igreja, a
primeira de todas fundada pelos Apóstolos e mãe de todas as demais. São todas apostólicas e, juntas, não vêm a ser mais que uma só, pela comunicação da Paz, pelo mútuo tratamento de
irmãos, pelos vínculos de hospitalidade que unem a todos os fiéis”.