Israel Protegido pelo Espírito

O Espírito Santo não somente lidava com Moisés e o povo de Israel, mas também com os inimigos deles. Para alcançar as planícies de Moabe, no lado do Jordão defronte a Jerico, os israelitas contornaram aquele país. Em seguida, avançaram para o norte e alcançaram grandes vitórias sobre o povo de Gileade e Basã, no lado leste do rio Jordão. O rei Balaque tinha medo de também ser derrotado (Números 22.2,3). Estava enganado, é claro; o passo seguinte seria Israel atravessar o Jordão para a Terra Prometida; mas Balaque não sabia disso. Reconhecia, isso sim, que Israel ganhava as vitórias, não por números ou equipamentos superiores. Forçosamente, era aquilo que Israel declarava: o Deus deles estava com eles.

Balaque resolveu, então, que a única maneira de parar com Israel seria virar o Deus deles contra eles. Por isso, enviou mensageiros em todas as direções, a procura de alguém que tivesse comunhão com Jeová. Finalmente, perto do rio Eufrates, não muito longe de onde moravam os parentes de Abraão, descobriram um profeta chamado Balaão (2 Pedro 2.15; Judas 11; Apocalipse 2.14), também conhecido por adivinho (Josué 13.22). Este era realmente um pagão, um conselheiro que usava vários meios para invocar espíritos, descobrir presságios, ou fazer encantações, tudo por dinheiro. Dalguma maneira, ouvira falar do poder de Jeová e, segundo parece, acrescentara o seu nome à lista dele.

Talvez pareça estranho que Deus usasse semelhante homem. Mas Jeová protegia o seu povo de um inimigo que os israelitas não conheciam, e seu propósito foi o de usar seu Espírito Santo para isso.

O pensamento de Balaque era o de pagar Balaão para obrigar Deus a amaldiçoar Israel, em vez de abençoá-lo. A Bíblia mostra que o Senhor lidou com Balaão de forma diferente. Primeiro, Ele demonstrou que um animal irracional tinha mais senso espiritual do que Balaão (Números 22.21-35). Segundo, Deus deu a ele um susto tão grande, que o mesmo nada diria diante do rei Balaque, senão o que o Senhor determinasse. Balaão cobiçava tanto o dinheiro que teria dito a Balaque tudo quanto este quisesse ouvir, se o preço fosse convidativo. Agora, porém, Deus podia contar com ele.

Balaão ainda pensava que podia persuadir Deus a amaldiçoar a Israel. Sua atitude paga é demonstrada pela sua maneira de abordar o problema. Mandou que fossem oferecidos sete sacrifícios no cume de uma montanha que dava vista para o arraial de Israel.

Então, experimentou seus encantamentos (presságios). Mas a palavra de Deus era de bênção para Israel, e não de maldição. Balaão passou, então, para outra montanha, e ofereceu mais sete sacrifícios. Os pagãos tinham a idéia de que os deuses precisavam de sacrifícios. Achavam, portanto, que

se oferecessem o sacrifício certo no lugar certo, forçariam qualquer deus a fazer tudo quanto queriam. No conceito de Balaão, nada podia haver de errado com os sacrifícios. Sete era um número perfeito, e touros e carneiros eram os sacrifícios mais caros que se podia oferecer. Desse modo, ele chegou à conclusão que o local é que estava errado. Experimentaria outra montanha, portanto.

Novamente, Deus deu uma palavra de bênção. Experimentaram uma terceira montanha, e mais sete sacrifícios. Desta vez, porém, Balaão abriu mão dos seus encantamentos, olhou para o arraial de Israel, e o Espírito de Deus veio sobre ele. O Espírito fez mais do que colocar uma palavra em sua boca (assim como em Números 23.5,16). Dessa vez, a totalidade do seu ser fora afetada. Mediante o Espírito Santo, o Senhor revelou-se a ele, e a visão do Onipotente fê-lo prostrar-se diante de Jeová em reverente temor. (Note, no entanto, que a expressão "em êxtase" é grifada na Versão Corrigida, o que significa que não consta do texto hebraico. De fato, não se trata de êxtase ou frenesi aqui. Os olhos de Balaão permaneceram abertos. Tinha consciência daquilo que ocorria ao seu redor.) Enquanto permaneceu prostrado diante do Senhor, seus olhos abriram-se de uma maneira diferente. Via as lindas tendas de Israel espraiando-se como pomares e jardins prósperos, tendo a vitória e a força como sua porção. Concluindo, ele repetiu para Israel a promessa que originalmente fora dada a Abraão em Gênesis 12.3: "Benditos os que te abençoarem, e malditos os que te amaldiçoarem" (Nm 24.9).

Com isso, Balaque ficou muito zangado e ordenou que Balaão voltasse para casa, sem a recompensa prometida. Mas Balaão, ainda prostrado diante do Senhor, pronunciou mais uma profecia. Já não tentava manipular a Deus nem controlar os seus propósitos.

Simplesmente, viu o futuro distante e declarou: "Uma estrela procederá de Jacó, e um cetro subirá de Israel" (Nm 24.17). A maioria dos escritores entende que esta profecia refere-se ao Messias. Levando em conta o contexto, no entanto, alguns há que entendem ser "estrela" e "cerro" substantivos coletivos que se referem a Israel e ao período em que os israelitas se levantariam e conquistariam Moabe.(19) Ainda é possível, porém, nos determos na ênfase que Balaão deu ao futuro distante, e entender que Moabe tipifica os inimigos de Deus que serão vencidos por Cristo. De qualquer forma, fica claro que Balaão, nessa única ocasião,rendeu-se ao Espírito Santo. Infelizmente, essa rendição era apenas temporária. Sua cobiça pelo dinheiro foi forte demais para ele. Posteriormente, vendeu seus serviços aos midianitas

e morreu, lutando contra Israel (Números 31.8).