Uma verdadeira pessoa de Deus

Uma prova do preconceito contra os ateus e agnósticos é o fato de que as pessoas infelizmente ainda tendem a associar o caráter à crença em divindades. Se apontamos pessoas que têm religião e um péssimo caráter, logo sairão com a desculpa de que a pessoa não é um verdadeiro homem ou mulher de Deus. E aqui, no Brasil, caso apontemos católicos, evangélicos, espíritas ou pessoas de qualquer outro credo com o péssimo caráter, logo se sairão com a justificativa de que não é uma verdadeira pessoa de Deus. Entretanto, tal justificativa não passa de mera falácia. Se ter uma crença religiosa realmente influísse no caráter, não veríamos pastores desonestos, padres pedófilos ou tantas pessoas que nunca perdem uma missa ou culto com mau caráter.

Dizer que um crente de mau caráter não é um verdadeiro crente não passa de mera falácia. Alguns a comparam à falácia do escocês verdadeiro, em que alguém diz que escoceses não tomam mingau com açúcar e se outra pessoa diz que conhece um escocês que toma mingau com açúcar, logo ouvirá que é porque não é um verdadeiro escocês. Da mesma forma, imaginemos um médico que, em vez de tentar salvar os pacientes, aplicasse logo uma injeção letal. Ele não continua sendo médico? A gente dirá que ele não é um médico de verdade? Claro que não. Afinal, ele frequentou faculdade, fez residência e tudo o mais que é necessário para ser médico. Só poderemos dizer que ele não é um médico de verdade se o seu diploma for falso.

Então, não podemos usar a desculpa de que um cristão com caráter duvidoso não é um verdadeiro cristão ou é apenas um religioso de estatística. Precisamos ser realistas. Caso religião influísse de fato na formação do caráter, não encontraríamos tantos religiosos maledicentes, fofoqueiros e que, inclusive, acham-se superiores por ter uma crença e não perder uma missa ou culto. Tanto há ateus de bom ou mau caráter quanto religiosos de bom ou mau caráter. E se bastasse ensinar princípios religiosos para frear tanto a libido quanto impulsos criminosos, as prisões no Brasil não viveriam lotadas nem teríamos padres pedófilos e desonestos. Lembremos que na Suécia, onde quase todos são ateus, as prisões são vazias. Claro que isso não prova que os ateus são melhores pessoas do que os religiosos. Prova apenas que precisamos desvincular caráter de crença em divindades.