A apatia e a frieza de coração, mata a alma pois nos afasta do amor que é Deus.
Ora, havia um homem rico, e vestia-se de púrpura e de linho finíssimo, e vivia todos os dias regalada e esplendidamente. Havia também um certo mendigo, chamado Lázaro, que jazia cheio de chagas à porta daquele. E desejava alimentar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico; e os próprios cães vinham lamber as suas chagas. (Lucas 16:19-21). Estes versículos fazem parte de uma parábola que Jesus usa para exortar a viva misericórdia que deve ser a fonte de vida de todos os seres humanos.
Primeiro, falaremos sobre o homem rico, a quem se chama usualmente Dives, ou seja, "rico", em latim. No grego plousios (πλουσιος), em qualquer idioma antigo a frase adiciona algo para descrever o luxo em que vivia. Vestia-se de púrpura e linho fino. Estas vestimentas custavam a soma equivalente a vários anos de trabalho de uma pessoa comum.
Aqui também vemos algo interessante de todas as parábolas contadas até esta é a única que cita um antropônimo, o nome de um personagem. Lázaro a forma latina de Eleazar, que significa Deus é minha ajuda. Era um mendigo. Estava coberto de chagas ulceradas. Estava tão fraco que nem sequer podia afastar os cães da rua, animais sujos, que o importunavam. Lázaro é a imagem da mais abjeta pobreza.
Como poderemos ver lendo os versículos adiante, finda a vida do rico e do Lázaro e, no outro mundo as posições se mostram invertidas, e vemos Lázaro na glória e o rico na tortura. E aqui cabe uma pergunta: “Qual foi o pecado do rico?” Não tinha ordenado que Lázaro fosse posto para fora. Não tinha objetado a que Lázaro tomasse o pão que se atirava de sua mesa. Não lhe tinha dado de chutes ao passar. E não vemos aqui citações dos pecados que muitos de nós afirma não cometer.
O pecado do rico tinha sido não prestar atenção a Lázaro, tê-lo aceitado como parte de uma paisagem comum, ter pensado que era perfeitamente natural e inevitável que Lázaro estivesse tendido na dor e a fome enquanto ele nadava na opulência. Aqui entendemos que não foi o que o rico fez que o condenou, mas sim o que ele não fez, foi o que o levou a fria distancia de Deus.
O pecado do rico é o que os clérigos e os crentes das mais diversas religiões cometem hoje. Pois muitos de nós ao nos depararmos com o sofrimento alheio, seja este moral, físico ou social, pensamos conosco; não tenho nada a ver. E assim segue a humanidade buscando ensinamentos e espíritos de luz, mas com o coração fechado para a mais rica iluminação, e a mais cara evolução que é a compaixão com a dor alheia.
E a parábola finda dizendo:Porém Abraão lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite. (Luc 16:31). Ou seja, o Pai nos deu a vida e nos ensinou a vivê-la deixando a Torah e todos os ensinamentos que contêm a bíblia, mas muitos buscam desculpas para não amar. Porque em qualquer lugar que olhemos, há tristeza que consolar, necessidade que suprir, dor que remediar.
E se isso não nos mover à compaixão e a ação, a mecanicidade não nos mudará. É uma terrível advertência ao recordar que o pecado do rico foi, não que ele fizesse coisas más, mas sim não ter feito nada. Que o amor de Cristo Jesus seja sempre o árbitro de nossos corações.
(Molivars).