APOCALIPSE (cap 21 E 22)
INTRODUÇÃO
O NOVO CÉU E A NOVA TERRA (21.1—22.5)
Não somente o livro de Apocalipse, como também toda a Bíblia tem apontado para esse momento. Desde que Adão e Eva perderam seu lugar no Paraíso e que o pecado passou a reinar sobre a terra (Rm 5.12-21), o plano divino tem se organizado para o momento em que o pecado será finalmente erradicado e o propósito original de Deus, ao criar a humanidade, se concretizará. Isso implica em restauração do homem e restauração do universo.
Em cada fase do livro de Apocalipse, desde as tribulações terrenas das sete igrejas, passando pelos três conjuntos de sete juízos e pela destruição da grande prostituta/grande Babilônia, até chegar aos eventos finais dessa era (retorno de Cristo/milênio/julgamento final), o objetivo tem sido o “novo céu e nova terra” A perfeição da Jerusalém celestial é posta em contraste direto com as imperfeições das sete cidades nos capítulos 2—3.
As pessoas cujos nomes não estavam escritos no livro da vida foram lan¬çadas no lago de fogo. Aqueles cujos nomes estavam escritos no livro da vida tornaram-se a noiva de Cristo e os habitantes da Nova Jerusalém (21.9,10). Em lPedro 1.12, somos informados de que “os anjos desejam examinar tais coisas”, isto é, o desenrolar do plano da salvação de Deus na vida e no sofrimento dos santos. O interesse dos anjos é ainda mais acentuado com relação a esse acontecimento, visto que implica a cessação do sofrimento dos santos (21.4,27; 22.3-5).
Moisés não poderia olhar para a face de Deus e continuar vivo (Ex 33.20), e Deus mediou sua presença em favor de Israel por meio da shekiná (termo que vem do hebraico shãkan, habitar), a coluna de fogo e a nuvem durante o Exodo, e a presença de Deus acima da arca no lugar santíssimo. Esse local era tão sagrado que ninguém podia nele entrar senão o sumo sacerdote, e somente uma vez por ano, no Dia da Expiação, quando ele representava a Nação. Na Nova Jerusalém, “o tabernáculo (= shekiná) de Deus está entre os homens” (Ap 21.3), o cumprimento de todos os anseios dos santos ao longo dos séculos.
Essa é uma das razões para o destino final dos santos ser uma cidade: “Uma cidade é a realização da comunidade humana, a interdependência vivida de forma concreta, como a natureza essencial da vida humana [...] pois a cidade como um todo é a comunidade dos crentes, o templo em que Deus habita”.Somos um, juntos, uns com os outros e com Deus.
Apocalipse 21-22 apresenta três momentos. No primeiro temos a vinda da cidade santa, de Deus, que só ocorrerá quando houver um novo céu e uma nova terra. Esse universo corrompido não estão prontos para receber a Deus. No segundo momento a cidade santa é vista como um lugar santíssimo eterno (lembre-se do Tabernáculo), e por fim é descrita como um novo Jardim do Éden.
Ao longo de toda a passagem, João extrai material do AT, especialmente de Isaías e de Ezequiel, para mostrar como os profetas se prepararam para esse dia. Assim como as cenas correspondentes do AT, essa seção também vê o céu como uma realidade terrena. A cidade santa desce do céu para a terra, e o novo Éden está também, ao que tudo indica, na “nova terra”. Uma vez mais, é difícil saber quão literalmente deve ser interpretada essa visão. Não somos informados
sobre como o novo céu e a nova terra se interrelacionam nem como devemos nos relacionar com essas duas realidades. Como em tantos outros casos no livro, precisaremos aguardar. Todavia, algo que verdadeiramente sabemos é que a Nova Jerusalém é a realidade que cumpre, de forma definitiva, as esperanças do povo de Deus e que recompensa os santos por tudo aquilo que suportaram. Essa passagem também pretende motivar os leitores a uma fidelidade maior no presente, sabendo o que está em jogo. Seremos “vencedores” ou “covardes” (21.7,8)? A resposta a tal pergunta determinará se faremos parte da Nova Jerusalém. Definitivamente a Bíblia encerra dizendo que o homem vai morar na terra, agora habitada por Deus.
PRIMEIRA PARTE
O ADVENTO DO NOVO CÉU E DA NOVA TERRA (21.1-8)
[21,1-4] Quando o novo céu e a nova terra estiverem em seus lugares, a cidade celestial poderá descer. O universo precisa ser preparado para a entrada de Deus nele. Se Deus entrar no universo com o pecado ainda nele, a santidade de Deus destrói tudo.
Alguns versículos chaves são:
1. (2 Pedro 3:9-13) O dia do Senhor (Tribulação) vai purificar pelo fogo o universo.
2. (Romanos 8:18-26) - a natureza geme, pedindo restauração desse universo, nós gememos, esperando um novo corpo que não seja pecador, e o Espírito geme por nós, pois não sabemos como pedir.
3. (Isaías 65.17-66.24) – Deus promete novos céu e nova terra e novas relações eternas com seu povo que não mais sofrerá.
A nova relação que existe entre Deus e os homens é apresentada como céu novo e terra nova. O mar já não existe, porque os antigos o consideravam moradia dos poderes do mal. A Nova Jerusalém é a cidade que Deus vai construir como dom (vem do céu) para os homens. É a Esposa do Cordeiro, o novo Adão que esposa a nova Eva. Realiza-se a Aliança de Deus com toda a humanidade. Ela se tornou a Tenda (Ex 25,8), na qual Deus está presente. Doravante tudo é vida e realização plena. [5-8] Deus promete a renovação de tudo, pois ele é o Senhor da história, a fonte
e o fim da vida. Ele dá a vida a quem a desejar. Quem for perseverante entrará para a realidade da Aliança: tornar-se-á filho, participando da realidade do próprio Cristo. O fato de conhecer o fim, porém, não dispensa a conversão.
NOTA:
Em Apocalipse, o fato da vinda de Cristo tem o duplo sentido de salvar o seu povo que está à beira da destruição, assim como trazer julgamento por causa do pecado. A promessa de vida melhor, viver com Deus no Céu, não sofrer mais, não morrer, não sentir dor ou ter doenças, assim como vida de prosperidade está na vinda e permanência da Nova Jerusalém, nova habitação de Deus ede Cristo, na terra, com os homens. Muitos pensam que a solução é ir para o Céu, para fugir desse universo corrompido, mas a Bíblia nos diz que a vontade de Deus é renovar esse universo, para morada eterna de Deus com o homem.
B. A NOVA JERUSALÉM COMO O LUGAR SANTÍSSIMO (21.9-27)
[9-11] João apresenta agora a nova humanidade como cidade perfeita e deslumbrante. Esta imagem mostra a beleza e santidade da Aliança com Deus. A humanidade é a esposa, o reverso da prostituta. João a apresenta com traços da antiga Babilônia histórica: quadrada, atravessada por uma avenida ao longo do rio, e com jardins. Sugere, assim, que a Jerusalém celeste é a Babilônia, prostituta purificada e transformada pelo Evangelho. Agora, ela reflete a glória de Deus, que nela está presente.
[12-17] As formas e medidas são perfeitas: muralhas com cento e quarenta e quatro côvados (doze x doze), doze portas com os nomes das doze tribos, doze alicerces com os nomes dos doze apóstolos. Ela é quadrada e cúbica, como o Santo dos santos no Templo. Sua perfeição é inimaginável (doze mil). Ela é uma cidade universal, aberta para toda a humanidade (portas voltadas para os quatro pontos cardeais).
[11.18-21] O brilho do ouro e das pedras preciosas mostra que a cidade é imagem do brilho de Deus (4,3). É a humanidade plenamente realizada, à imagem e semelhança do Criador.
[22-23] Deus está presente nessa humanidade. Não é preciso mais nenhum meio para ligá-la com Deus: nem Templo, nem liturgia, nem sacerdócio. É o momento do face-a-face. Consequentemente, também não existem outras mediações: política, economia, propaganda, comércio etc. A comunhão total com Deus leva à comunhão total dos homens entre si.
[24-27] A nova humanidade é lugar de partilha e de reunião fraterna. As nações repartem suas riquezas para o bem comum. Mas a realização da nova humanidade supõe uma conversão agora, no presente da história: deixar os ídolos para ser inscrito no livro do Cordeiro. A noite não existe, porque os antigos a consideravam moradia do mal.
C. A NOVA JERUSALÉM COMO O ÚLTIMO ÉDEN (22.1-5)
[22,1-5:] A cidade por dentro é um novo paraíso. Ela é governada por Deus e por Jesus, em aliança com os homens. A nova humanidade recebe a vida de Deus, o Espírito (rio de água viva). Todos têm acesso à plena realização (árvores da vida que dão fruto sempre), pois já não há proibição (maldição: Gn 3,22-24). Doravante, há um só culto dos homens a Deus e a Jesus Cristo: todos pertencem definitivamente a Deus, e com ele reinarão para sempre.
D. O DIÁLOGO FINAL (22.6-21)
[6-21] O final do Apocalipse é um diálogo entre João, o Anjo e Jesus com a assembléia cristã, onde se faz a leitura do livro: uma reunião litúrgica, onde se explica, se medita e se aplica a mensagem.
7: A vinda de Jesus é progressiva e se manifesta através do testemunho daqueles que continuam o que ele fez: manifestar a verdade, revelar o amor do Pai e provocar a conversão. É assim que a constante vinda de Jesus destrói o mundo injusto, para construir o mundo novo.
[10-11] O conteúdo do livro é urgente, e os cristãos não devem permanecer passivos, pois o testemunho deles leva os homens a uma decisão. O projeto de Deus vai realizar-se, e já não é possível viver uma vida de pecado.
O epílogo consiste em uma série de declarações, muitas delas anônimas, nas quais é difícil determinar quem está falando. Além disso, a ordem parece aleatória, com quatro declarações de Jesus na primeira pessoa (22.7, 12,13, 16, 20) intercaladas com material que tanto adverte os injustos (22.11a, 15,18,19) quanto encoraja a viver fielmente (22.7b,9b,llb,14,17). Nesse material é inserido também o que muitos estudiosos consideram os dois principais temas: a autenticidade da profecia (22.6,8,16,18,19) e a proximidade do retorno de Cristo (22.7,10,12,20). A acredita-se que eles procedem de João, mas foram transmitidos de forma desconexa. Portanto, ele reconstrói o epílogo com três locutores (os colchetes incluem as passagens em discussão): Deus (21.6b-8), Jesus (22.6,7,10[l l], 12,13,16,18a [l 8,19]) ejoão (22.8,9,20,21).
Fica claro que João desenvolve esse epílogo como um paralelo intencional do prólogo e um resumo dos temas do livro todo. Além disso, várias imagens refletem as advertências e as promessas dadas às sete igrejas nos capítulos 2—3, assim que o epílogo é direcionado especificamente à situação dessas igrejas.
RESUMO
Nós temos duas situações em Apocalipse 21 e 22. Numa delas temos o diálogo truncado e estranho do final do livro, onde só o compreendemos de duas formas. Na primeira falam ao mesmo tempo três pessoas: Deus, Jesus e João. Num segundo momento se acrescentam além de Deus, Jesus e João, a Igreja e um anjo – cinco pessoas. Nesse diálogo final temos os grandes temas de Apocalipse: Arrependimento, julgamento, a vinda de Cristo eminente, a restauração da Terra.
Se no diálogo tentamos decifrar, talvez os versículos mais difíceis da Bíblia, no cap. 21 e 22, com a vinda do novo céu e nova terra, devemos complicar o assunto, para compreendê-lo, pois eles parecem fáceis a primeira vista e poderemos perder o ensinamento.
Esperamos a vinda da Nova Jerusalém, que traz Deus à terra e Deus estando na terra refaz um novo Jardim do Éden. Mas Deus não pode vir ao universo corrompido, pois se ele vier, a sua santidade destrói tudo o que foi tocado pelo pecado. Deus não pode instituir o seu Tabernáculo entre os homens, enquanto o universo está corrompido, enquanto a nova terra e novo céu foram reconstituídos. Isso nos fala também que não é possível Jesus voltar antes da Tribulação e instituir a cidade santa, o Céu, antes de o universo estar preparado para receber Deus.
Há uma ordem. O pecado precisa ser julgado, os elementos passarão pelo fogo (pela aflição), para serem purificados. O universo depois de purificado do pecado, expurgado o pecado, então Deus pode vir à terra e morar com os homens e instituir o novo tempo de Jardim,não antes.
BIBLIOGRAFIA:
Comentário de Apocalipse – Grant R Osborne
Bíblia Sagrada Edição Pastoral
Amém
Fica na paz