Eu sempre quis ler a história do Dr. Jekyll e do Mr. Hyde, por isso posterguei bastante essa leitura, pois queria que ela acontecesse no momento certo. Eu tenho essa mania com livros que julgo serem bons.
Convencido de que esse momento havia chegado, iniciei a leitura. Devo dizer que não me decepcionei, pelo contrário, minhas expectativas conseguiram ser superadas. Robert Louis Stevenson cria uma metáfora extremamente bem trabalhada para discorrer sobre um dos assuntos mais debatidos da história: a natureza humana.
Todas as religiões e filosofias da vida (ou pelo menos as religiões e filosofias sérias) sabem que há algo de errado com o homem. Não somos bons como gostaríamos. Frequentemente nos vemos cometendo atos reprováveis ou cultivando pensamentos que nos envergonhariam se viessem a público. Sabendo disso, Stevenson demonstra de forma brilhante a intensa batalha que existe dentro de cada ser humano: fazer o que se tem vontade ou reprimir os impulsos violentos que suplicam para ser libertos?
A personagem Henry Jekyll, com toda a sua complexidade real e, melhor ainda, humana, é o retrato de cada um de nós. Nossos dilemas, angústias e impulsos são muito bem caracterizados na vida desse médico que, apesar de nunca ter feito nada que o reprovasse perante a sociedade, alimentava dentro de si o desejo de ser senhor da própria vida e fazer o que quisesse, independentemente dos problemas que isso acarretaria para outras pessoas.
No fim, vemos que não dá para brincar com a maldade que permeia a nossa idiossincrasia. É aquela história infantil que sempre ouvimos de nossas mães: "quem brinca com fogo sempre se queima".
É muito fácil fazer um paralelo entre essa história e a fé cristã. Paulo nos deixou muito bem explicado a problemática das duas naturezas humanas: o velho Adão e Cristo, que guerreiam internamente para dominar o ser. Lutero também disse algo que nos ajuda a ilustrar essa celeuma: "Eu achava que o velho homem (Adão) havia morrido no meu batismo, mas descobri que o miserável sabia nadar".
Enfim, de fato é um clássico que merece ser lido e relido. A sua data de publicação não o torna ultrapassado, pelo contrário, surpreende ainda mais pela atualidade do assunto abordado. Vivemos em uma época que prega que todos somos bons e que não há maldade alguma em nós. Livros como esse servem para esfregar na nossa cara a nossa malignidade e nos deixar alertas para que não cedamos a nós mesmos. Que nos esforcemos para que os nossos Mrs. Hydes não vençam as batalhas.
Abra a Porta e Jessé Lima
Enviado por Abra a Porta em 25/06/2021
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