Expulsos do Paraíso
🦋O mito compreendido em seus conteúdos simbólicos, traz mais de nós mesmos, quando acolhido a partir não só do conhecimento, mas vivido, sentido e constatado em nossa realidade, ganha outro teor ou outra compreensão.
🦋Refletindo e estudando sobre o mito de Adão e Eva e mais especificamente, a expulsão do Paraíso, podemos pensar que o Paraíso é o estado de infância da Consciência ou talvez, o útero onde ainda está sendo gerada a Consciência.
🦋Sentindo ou pensando dessa forma, pode-se dizer que quando Adão e Eva (nós) comem do fruto proibido, é quando a consciência nasce. Eles atendem ao convite da serpente (instintos primordiais) e dessa forma acabam por serem expulsos do Paraíso (útero divino, indiscriminação inconsciente ou inconsciência). Ou seja, Adão e Eva saem da indiscriminação infantil ou inconsciente em que se encontravam, para iniciar uma jornada onde conseguem ver e compreender melhor o mundo em que vivem. Saem desse estágio que é um estágio da própria humanidade para o próximo estágio onde a Consciência é presente.
🦋Esse nascer e renascer da Consciência é algo que marca um estágio da humanidade, mas também é algo que nos marca em nossa jornada pessoal/individual, enquanto seres dotados de consciência. A consciência enquanto criação, como fruto da natureza/Deus não é imutável ou inerte, ela é dotada de movimento constante e contínuo. Assim como "o Criador" cria incessantemente, assim ele se manifesta em nós, enquanto consciência, criando e re-criando incessantemente, ou seja, expandindo-se ou ampliando-se. Sendo assim, a Consciência em nós, tem por natureza, ampliar-se. E acrescento que é a voz do divino em nós.
🦋Portanto, essa ampliação ou movimento da consciência ocorre a todo momento, se observarmos bem. E podemos observar isso quando estamos alinhados conosco mesmos, acolhendo ou reencontrando o que somos enquanto, unicidade.
🦋A todo instante, diante das experiências que empreendemos na vida estamos nos conscientizando mais e mais sobre nós mesmos e ao mesmo tempo, fazendo escolhas que dizem mais e mais sobre o que realmente somos. Portanto, é na travessia que reconhecemos quem somos, é no processo ou no movimento da vida que podemos nos sentir e nos realizar. Não é algo a atingir ou chegar, já é e em processo e quanto mais ampla essa Consciência, mais essa voz Sábia em nós torna-se nítida.
🦋E é por isso, que digo que a todo momento estamos sendo expulsos mais um pouco desse estado de pré-consciência(criação) ou inconsciência(integração) sobre nós mesmos, ou seja, estamos sendo expulsos do Paraíso. Portanto, sermos expulsos do Paraíso é algo positivo, se pensarmos no que diz respeito à Consciência e a possibilidade de trazer em nós essa voz Sábia. Não há como contrariarmos tudo isso, pois, isso é algo da nossa natureza ou da natureza da criação, a qual, pertencemos.
🦋A religião distorceu muito a compreensão dessa história contida no Gêneses da Bíblia, imprimindo-lhe um olhar patriarcal a algo que não diz respeito ao raciocínio linear, mas sim simbólico. A questão aqui, não é provar nada, é bom avisar, mas sim trazer um olhar simbólico e portanto psicológico sobre algo que nos permeia já a muito tempo e para os tempos atuais, considero um meio significativo para reflexão e reencontro conosco mesmos.
🦋Quando mordemos a maçã, ou seja, atendemos ao convite desse aspecto em nós, aparentemente primitivo, a serpente - aspecto este instintivo, feminino, considero-o como nosso faro, intuição ou sentir - mas que em si, contém certa sabedoria (sim, é ambíguo mesmo), é aí que nascemos, enquanto consciência. E isso não é só lá nos tempos antigos, é agora e a todo momento. Temos, todos, em nós esses instintos que nos sopram constantemente, certos saberes, mas que nem sempre lhe damos ouvidos. Nossas intuições ou sentires, ficam subjugados às nossas ideias e crenças muitas vezes e nisso, nos limitamos em nossa ampliação.
🦋Todas as vezes que nos deparamos com essa "serpente", dentro de nós, de certo a mesma nos coloca em xeque diante de alguma crença muito arraigada ou antiga dentro. Podendo ser uma crença que não é apenas nossa, mas diz de nossa ancestralidade, inclusive. Por isso, muitas vezes, também, não damos ouvidos e não é incomum acreditarmos que é uma voz maléfica querendo nos tirar do caminho "certo". Sim, essa voz terá esse caráter, aparentemente maligno porque ela nos defronta com certos aspectos muito básicos de nossas jornadas. E desconstruir isso ou ainda ver que aquilo que acreditamos durante tanto tempo, pode ser visto e compreendido de outra forma, não é algo que gostamos muito, egoicamente falando. Por isso, a serpente foi ensinada como o demônio ou Lilith, como serpente, foi e é considerada como o demônio. Isto, pois, sentimos o desconforto da quebra de crenças e ideias preconcebidas, e dessa forma, teremos que nos desapegar disso e nos ensinam que o desconforto não é algo divino, que a vida para ser divina precisa gerar prazer, alegria, utilidade centrada no indivíduo. Contudo, vivendo, enxergamos que a vida não é só isso e que o desprazer e a tristeza, também são divinos que nossas escolhas implicam na vida de outras pessoas e tudo isso, faz parte do nosso amadurecimento e crescimento.
🦋Quando atendemos a este instinto sábio em nós, a serpente, nos veremos nus (tiramos as nossas vestes/crenças e veremos as nossas vergonhas/imaturidades), assim como conta a história de Adão e Eva. Diante da visão, ou da consciência, enxergamos nossas mais íntimas crenças, emoções, atitudes que nos trouxeram até o momento. Veremos não apenas aquilo que gostamos em nós e queremos manter, mas veremos também aquilo que estamos mantendo e está sendo pernicioso a nós e ao outro - nossas "vergonhas" - aquilo que imaturamente (na inconsciência) nos trouxe até aqui (nossas feridas, nossas maldades, nossas sombras). Isto é estar nu - ver tudo o que somos, luz e sombra. Isto, é o despertar espiritual que tantos falam por aí. Isto, é acordar para si mesmo que acontece constante e continuamente, ora mais, ora menos, mas sempre ampliando.
🦋E diante disso, da visão sobre nós mesmos, vamos querer nos cobrir, vamos construir e fazer roupas para nos vestir e tapar nossas vergonhas - isso é um ato ou condição natural de nós seres humanos, faz parte, é instinto de proteção e preservação. Quando assim o fazemos é também aí que precisamos da consciência, para que estas roupas não encubra, de tal forma, que sufoque a nossa nudez nos impedindo totalmente, de vê-la e cuidar da mesma. É aí que entra a negação, a rejeição ou a negligência conosco. Construímos crenças e mais crenças, alimentadas por inúmeros comportamentos que são essas roupas que nos sufocam em nossa intimidade ou nossa alma nua. E esse sufoco é visto ou sentido através daquilo e de como negamos, rejeitamos ou negligenciamos em nós - nossas vergonhas. Usamos de manipulações as mais diversas para não ver a nós mesmos, tememos o que vamos ver porque não queremos nos sentir pequenos ou errados. E sendo assim nos protegemos, mas eis que diante da Consciência sabemos, agora, que é ali a voz divina e nisso, não há morte ou não há aniquilação de nada. Quem se sente pequeno e errado, é justamente quem precisa ceder para tornar-se Consciência, o ego.
🦋Precisamos aceitar (consciência) que essas "vergonhas", também somos nós. Que estes aspectos pertencem a um estado de "pré-consciência" ou inconsciência, portanto, são apenas aspectos que estão por nascer ou renascer. Tememos e nos envergonhamos, mas também já temos, atualmente, um pouco mais de consciência para nos encorajarmos a ir mais longe do que já fomos em nós mesmos. Já não podemos mais sufocar tudo isso dentro de nós.
🦋Sendo assim, podemos também afirmar que Paraíso ou essa inconsciência, é todo esse arcabouço que tapamos com nossas vestes. Lá estão todos os aspectos que querem e precisam renascer à luz da consciência, mas se não usamos roupas adequadas, com a leveza que nos cabe para ir até lá e resgatarmos esses aspectos, estaremos deixando eles a mercê de sua própria sorte. E eles naturalmente, irão encontrar uma forma de vir a tona e renascer. E é aí que digo que os mesmos cairão em mãos malignas e retornam a nós, com um sentido maléfico ou com uma energia tão poderosa, devido a repressão, que os mesmos irrompem em nossas vidas de forma destrutiva. Ou seja, rasgará a roupa, ferirá a pele e nisso, vamos tentando costurar os buracos e reforçar os remendos, num conflito atroz. Sim, esse é nosso estado atual, e talvez natural de um neurótico, contudo, nesse momento, eis que tudo isso, precisa ser revisto e encontrarmos meios de fazermos roupas menos sufocantes a nós mesmos. Por isso que digo que precisamos rever todos os nossos conceitos e crenças, senti-los vivamente em nossas vidas (perdão pela redundância) e então, fazer nascer esse novo ser à nós e ao mundo.
🦋Rever estas vestes, implica rever certas características egoicas que participam ativamente para que continuemos remendando o que já não é possível remendar. Uma delas é a manipulação egoica de usar sempre de subterfúgios para continuarmos a manter certas posturas que apenas agrada ou dá prazer a nós mesmo, custe o que custar; num sentido hedonista mesmo - independente de qualquer coisa ou quem quer que esteja envolvido na situação, o importante é "que eu tenha prazer ou me agrade", por exemplo. E isto nos denuncia em outras questões egoicas a serem acolhidas em nós: que é ver a vida, as pessoas ou tudo que experienciamos apenas pelo olhar da "utilidade" ou o quanto me é útil aquilo ou aquele - "se é útil eu aceito, se não é útil eu descarto". Será que a vida nos concede inúmeras experiências apenas para isso, para nos servir de utilidade? Não somos nós que servimos a esta Vida? Não somos nós também crias ou criação da Vida? E sendo assim não é a Vida maior do que pensamos ser, pois, não é ela a Mãe de todos nós?
🦋Os conceitos, crenças e ideias são nossas vestes que refletem nossos comportamentos e consequentemente, diante do outro, das nossas relações ou convivência. E essas vestes atuais já não dão mais conta da nossa nudez que está aí estampada para todos verem, individual e coletivamente, falando. Essas roupas é que precisam ser recriadas - condutas e comportamentos, precisam ser novos, realmente, para um convivência também renovada. Estamos sendo expulsos de nossos confortáveis Paraísos de antes - ideias e conceitos tão certos, já não nos servem mais, para o agora. Aliás, eles já foram, não estão mais aí, estamos, realmente nus e nos debatendo diante da nossa nudez.
🦋É preciso repensar sim sobre Deus, sobre a mulher, sobre o homem, sobre o dinheiro, sobre a política, sobre as nossas relações de um modo geral ou sobre tudo que é básico para uma existência menos destrutiva, não só individualmente, mas também coletivamente. Estas vestes, ruíram. Não estamos mais no Paraíso, estamos expostos e nos expondo em nossas vergonhas de maneiras as mais diversas e muitas vezes, sem sequer nos darmos conta.
🦋Essa inconsciência é o que traz todo o conteúdo destrutivo dos tempos atuais, é também a consciência que nos chama para criarmos novas posturas, condutas, vestes para os novos tempos, mas de dentro para fora, vivido - não há como ser de outra forma.
🦋Os aspectos destrutivos também fazem parte da natureza, é também dentro de cada um de nós, mas eis que temos a Consciência para que deles façamos o que é preciso fazer. Lembrando: a Consciência é a voz do divino em nós, portanto, somente através da Consciência é possível lidar com esses aspectos - só Deus pode com o Diabo.
🦋Para saber como lidar com esses aspectos destrutivos, só nos cabe ouvir a voz desse que nos convida a morder a maçã, saber deles em nós, aceitarmos que não somos tão bonzinhos assim e aí sim, abandonar os velhos "hábitos" e então, buscar na abundância da Vida os recursos para caminharmos de forma mais construtiva, criativa e renascer. Só... (risos). Como se isso fosse pouco ou como se isso não fosse o que muitos já se conscientizaram por aí. Mas, muitos ainda permanecem esperando o retorno de uma vida que não voltará mais, outros permanecem agarrados a velhas vestes rotas, outros tentando ou gastando energia em remendos inúteis, outros ainda colaborando com a destrutividade através de suas posturas imaturas, de forma inconsciente. Enfim... é hora de ver e rever a nossa nudez, é hora de sair do Paraíso e renascer. Onde é o seu Paraíso intocável e que teme tocar? Sintamos!
🌹Kátia de Souza - 19/06/2021___✍
Reflexões de estudos sobre Mitos de Criação e os tempos atuais.
Na imagem: arte de Andrea Mantegna
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