COMPAIXÃO

É, essa é uma palavra que nunca me soou inteira por dentro. Esvaziada por um pensamento religioso, sempre esteve encostada nas paredes desse quarto interno esperando sua vez de mostrar-se a mim, de forma mais plena. Hoje ela se atreve a se mostrar com maior clareza e sem os apelos de uma "piedade" que esconde sua arrogância em palavras vazias da real bondade.

Foi preciso e é preciso olhar de perto a arrogância real, o ego inflado de desejos e ilusões idealizadas - amores impossíveis, condutas permeadas de fantasias, pirotecnia da mente.

Foi e é preciso olhar para si, reconhecer a si em sua "verdade" que se move a medida que você realmente e com vontade se toca, quer ver.

Foi e é preciso abaixar a fronte e dizer "não sei". Foi e é preciso saber-se em primeiros passos, em iniciais sínteses, no pouco que se pode alcançar.

Foi e é preciso retornar a você mesmo para a partir desse olhar, compreendendo a si, ver o quanto o que pensava ser, não é e o quanto de engano foi e é lançado sobre você a todo instante. É vendo os enganos lançados e em si guardada a verdade, a ciência de saber-se que nasce a compaixão e eu disse: "nasce". É aí que a compaixão dá a cara a tapa ou te estapeia te fazendo acordar que sempre é você o caminho; é aí que a compaixão mostra o pezinho do que talvez você pode provar com maior inteireza mais tarde.

Não, não vem tudo de uma vez. Muitas ilusões e crenças que nos colocam inflados diante da vida, não nos permite ver a compaixão, pois, a mesma está ligada ao querer enxergar a si mesmo com verdade assumida e a isso manter-se fiel. É como se a mesma nascesse primeiramente, em você mesmo quando você percebe todos os enganos que você cometeu com você se deixando para trás, se traindo.

Compaixão é amor e amor, não se aporta em terreno caótico ou barulhento, ela é daquelas paragens silenciosas e adora um segredo. Cuidemos daquilo que não sabemos, mas o não saber sobre nós porque ele é a porta para muito do que nos enganamos por aí quando ditamos definições sem nossa presença.

Compaixão, nesse momento para mim, está no nível da compreensão daquilo ou daquele que é desconhecido ou desconhece toda uma realidade e mesmo assim age sobre ela como se a soubesse. Compreender a inconsciência presente em nossas experiências. E compreender está longe de passividade ou "não-ação" sobre a situação, mas está longe sim, da reação sobre as ações advindas da inconsciência. Compreender é trazer o entendimento para dentro, junto a alma e diante disso, resta-nos apenas ser e deixar que se expresse aquilo que integrado em si, é tão natural.

(Kátia de Souza - 13/11/2020)

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