Páscoa, a ressurreição do Salvador

Religião! Ópio do povo ou farol a orientar os espíritos? Espírito! Aquele nosso lado imaterial que transcende a nossa animalidade, ou, ao contrário, o “espírito de porco”, igualmente imaterial, mas que realça tudo que temos de mais abjeto?

Já afirmaram várias celebridades ao longo do tempo, não confundir religião com igreja. Religião, vinda dos verbos relegere (respeitar) ou religare (religar), deveria então ligar respeitosamente, unir os seres humanos. A igreja, ao contrário, nos separa, muitas vezes levando-nos a guerras fratricidas. A religião é uma só. As igrejas são inúmeras. E o que é este sentimento que liga com respeito os seres humanos? Talvez aquele vislumbre que nos revela que existe incipiente dentro de cada um de nós a centelha de um ser divino, luminoso, que nos ultrapassa? Talvez a consciência da fragilidade humana, e da decorrente necessidade de crer em uma realidade outra, melhor que a que vivemos, que nos traga algum conforto, esperança, resignação?

A igreja com mais adeptos no planeta é o Cristianismo. Ele está presente em todos os continentes, em praticamente todos os países. Seu Messias, Jesus Cristo, seria o filho de Deus encarnado, que desceu dos céus para nos ensinar e nos salvar. O que ele veio nos ensinar? Tudo o que dele é dito afirma que foi a humildade, a generosidade, a compaixão, o amor. Mas também nos ensinou firmeza de caráter. Ele chicoteou os vendilhões do templo, compreendeu e perdoou Judas, aceitou o julgamento a que foi submetido, deixou-se martirizar pelos seus algozes, entendeu que seu sacrifício teria a força de uma milenar e planetária evocação. As autoridades romanas lavaram as mãos, e o que o povo fez com Jesus Cristo? Condenou-o à crucificação.

Dois mil anos depois, na Páscoa os cristãos comemoram a ressurreição de Cristo. Ele teria ressuscitado, talvez uma mensagem que traduza nossa esperança de que nem tudo se resuma à vida que temos aqui no planeta Terra. Hoje a Páscoa parece celebrar sobretudo a reafirmação na fé da mensagem de amor que o Cristo trouxe à humanidade.

É então uma data especial para refletirmos sobre o que conseguimos aprender daqueles ensinamentos, passados estes dois mil anos. Como anda a religião, como anda o Cristianismo? Tenho comigo que Cristo, assim como os verdadeiros mentores de todas as demais igrejas, não ensinava a fé cega, esta incapaz inclusive de enxergar as próprias profanações cotidianas que cometemos contra a religião. Não é só o adepto que anda apegando-se aos bens materiais, à soberba, à jactância, à adoração de falsos messias. As próprias igrejas têm reeditado as práticas da Idade Média, inventando novas formas de indulgência que exploram a fé irracional e enriquecem falsos religiosos.

Cristo veio ensinar humildade, generosidade, compaixão, verdade, justiça, firmeza de caráter, para a necessária transformação da humanidade. Não veio ensinar a fé cega, mas sim a fé refletida. A fé cega conduz ao erro, à adoração de falsos messias. Cristo falava de paz, amor, respeito, solidariedade. E não de armas, violência, agressões, tortura, mentiras, obscenidades, hipocrisias.

Que na Páscoa os ensinamentos de Cristo renasçam no espírito dos cristãos.