O AMOR É DOM?
Existe um erro bastante comum, devido a uma má interpretação da Bíblia, que diz que o amor é um dom de Deus, assim como o são os dons de poder do Espírito: dons da palavra, dons de revelação e dons de milagres.
Paulo fala: “Têm todos dons de curar? Falam todos em línguas? Todos interpretam? Entretanto, busquem com dedicação os melhores dons. Passo agora a mostrar-lhes um caminho ainda mais excelente.” (1 Coríntios 12:30,31) E depois disso ele usa todo o capítulo 13 para falar do amor. Presume-se erroneamente que o amor é então um dom.
Mas o que é um dom? Um dom é uma capacitação espiritual para se fazer a obra. O dom é uma ferramenta para fazer a obra, o dom não salva. Existem dois tipos de dons: Primeiro os dons de poder: Palavra, revelação e milagres (1 Corintios 12.8-10), Segundo os dons do ministério: Apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres. (Efésios 4:11).
Os dons de poder iniciam com a palavra. Os dons da palavra são a base de todos os outros dons. O dom é uma capacitação especial de Deus. No caso da palavra de sabedoria, esse é um dom que é praticamente a capacitação de estudar e interpretar o texto bíblico. A pessoa com esse dom é capacitada com uma interpretação que é superior a outros, vamos dizer assim. Quem tem esse dom da palavra de sabedoria que é um dom de interpretação, também sabe interpretar as pessoas e as intenções da pessoas muito bem. A palavra de sabedoria funciona, como funciona a palavra de conhecimento, que é uma revelação no espírito do pregador, a pessoa tem uma revelação do que vai pregar, do que vai ensinar, do que vai dizer e passa a estudar o assunto revelado por Deus. O dom vem de repente, se manifesta e você sabe que pode operar naquele dom. Por exemplo o dom e cura. Você sente quando está com fé suficiente para profetizar a cura. Você sabe.
O dom é então uma capacitação de Deus. Mas com essa explicação não podemos dizer que o amor é um dom. Aliás Galatas 5.22-23 diz que o amor é fruto do Espírito Santo e não dom. O amor não é uma capacitação especial dada por Deus para certo momento. Deus até pode te encher de amor pelas pessoas, mas dizer que amor é dom é forçar a Bíblia a dizer o que ela não diz. O amor não é dom, é fruto do Espírito.
OS QUATRO TIPOS DE AMOR
Temos basicamente 4 (quatro) palavras gregas para se traduzir como AMOR. São elas: Eros (físico, sexual), 2. Storge (familiar), 3. Philia (amizade) e 4. Ágape (amor incondicional).
1. EROS (físico, sexual) Eros é o “deus grego do amor”, também conhecido como o “deus do caos” cupido (amor em latim) A primeira palavra grega é “Eros”. Aparece com freqüência na literatura grega secular. Eros é o amor totalmente humano, carnal, voltado para o sexo. Daí veio a palavra: ERÓTICO. Esse tipo de amor pode até incluir algum sentimento verdadeiro; mas sempre com interesse próprio, com expectativa de satisfação pessoal. Eros é basicamente atração física; desejo sexual. O Eros apresenta-se como amor pelo outro, mas é amor por si próprio (exemplo: eu amo você porque você me dá prazer, porque você me faz feliz). É o AMOR entre os sexos; sempre há um predominante físico, e sempre envolve o amor sexual. Eros representa a parte consciente do amor que uma pessoa sente por outra. Esta palavra não aparece no NT em nenhum lugar, pois ela passou a ser ligada com a concupiscência da carne mais do que com o amor. É a sensualidade que leva a atração física e depois às relações sexuais. Algumas traduções o descrevem como "o amor do corpo". “Eros” como alguém já disse, é o amor ainda sem conversão.
2. PHILIA-philos-Fileo (amizade) É o AMOR mais nobre para o GREGO SECULAR. Descreve um relacionamento caloroso, íntimo e tenro com o outro. Inclui o lado físico, pois “philein” que pode significar beijar ou acariciar, mas philía, como todas as coisas humanas podem alterar-se, pode diminuir e seu calor esfriar. Em Aristóteles – “amar é regozijar-se”. A palavra “philia” é rotineiramente traduzida por amizade. Philia é o amor da troca (50% dado 50% recebido), a alegria de amar. Expressões usadas: metade da laranja; gostamos das mesmas coisas, meu parceiro me completa, meu parceiro pensa como eu; fazemos muitas coisas juntos; gostamos das mesmas coisas, sou feliz porque é bom para mim. Em TEXTOS ANTIGOS, a philia denota um tipo de amor humano. É a alegria de amar global, usado como amor entre a família, entre amigos, um desejo ou a apreciação de uma atividade, bem como entre amantes. Phileo - Também usados no Novo Testamento, é uma resposta humana a algo que é bom e delicioso. Também conhecida como "amor fraternal". Relaciona com a alma, mais do que com o corpo. Lida com a personalidade humana, o intelecto, as emoções e a vontade. Envolve compartilhamento mútuo. Em português, a palavra mais próxima é “amizade”. A forma nominal é usada apenas uma vez no Novo Testamento (Tiago 4.4), mas o verbo “amar”, no sentido de “gostar”, e o adjetivo “amável” são usados muitas vezes. Este é o grau de afeição que Pedro disse ter por Jesus quando este lhe perguntou, “Simão, filho de João, tu me amas?”. O pescador respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que te amo”. No original grego, o sentido é: “Sim, Senhor, tu sabes que gosto de ti, que sou teu amigo” (João 21. 15-16
A philos de Philia (φιλία), amizade no GREGO MODERNO, um amor virtuoso desapaixonado; conceito desenvolvido por Aristóteles. Inclui a lealdade aos amigos, à família, e à comunidade; e requer a virtude, a igualdade e a familiaridade. Aristóteles escreve: “O prazer do amante é contemplar a sua amada, o prazer da amada é receber as atenções do seu amante, mas quando murchar a beleza da amada, a amizade (philia) às vezes murcha também, visto que o amante já não acha prazer na visão da sua amada, e a amada não recebe atenção do amante”.
3. STORGE (amor familiar) No GREGO ANTIGO Storg (polytonic | στοργή) storgē) é o afeto natural como a que sente por pais para filhos, é o amor social. Storge; palavra no GREGO SECULAR é a palavra que demonstra amor no lar, do amor dos pais para com os filhos e dos filhos para com os pais, do amor entre irmãos e irmãs, amor entre parentes. Este amor envolve reciprocidade. Este amor é objetivo, pois unem almas, vidas, corações corpos. Exige-se disciplina lealdade entre os dois que amam. É o amor mais relacionado à família – Romanos 12.10 – Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros, mais do que a vocês. É o amor que pode desaparecer; amor mencionado em Romanos 1.31 – insensatos, pérfidos, sem afeição natural, sem misericórdia. 2 Timóteo 3.3 – sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons. O AMOR FAMILIAR – Pela Palavra filhos de Adão; pois nem todos são filhos de DEUS, somente os nascidos de novo, regenerados pelo poder da Palavra de DEUS, assim a família de DEUS só é formada por salvos em CRISTO. Esse amor à Deus é amor que obedece.
A família moderna estrutura-se basicamente em torno do casamento, e nesse sentido, é uma família conjugal – sabemos que há a “família pós- moderna” e seus novos arranjos sociais (exemplo: pais separados, casais homo afetivos, adoção por avós e outros). A relação familiar é algo extremamente complexa e dinâmica. Daí o amor se constitui em um desafio de escolha diária: escolher amar o outro apesar das diferenças e do desgaste que muitas vezes a relação apresenta diante do fator tempo; mas em geral, mantêm ligações bastante duradouras e estáveis. (Eclesiastes 9.9). Você pode estar pensando que isso não é fácil, mas com a sua escolha adicionada à graça de Deus torna-se possível. Porque família é projeto de Deus em primeiro lugar; Ele é o maior interessado por ela. Mas família também tem que ser projeto de homens e mulheres; ou seja, é preciso participação de cada membro da família no sentido da ajuda mútua. Os cristãos acreditam que Jesus mandou: “Amar a Deus de todo o coração, mente e força e amar ao teu próximo como a ti mesmo”. (Marcos 12.31).
4. ÁGAPE (amor incondicional) No GREGO SECULAR tem-se pouca orientação. Ágape é uma palavra nova que descreve uma qualidade nova, uma palavra que indica uma atitude nova para com os outros, uma atitude nova dentro da Comunidade, e impossível sem a dinâmica e vida cristã. “Todos os seres humanos possuem, por natureza, os três tipos de amor já mencionados (“eros”, “fileo” e “storge”), entretanto, o amor “ágape” só se adquire quando se nasce de novo, ou seja, ele passa a operar na vida do homem, quando este se torna templo do Espírito Santo (Gl 5.16-22)”.
No idioma original das Escrituras Gregas Cristãs, a palavra para este quarto tipo de amor é “ágape”. Essa palavra ocorre em 1 João 4.8, que diz: “Deus é amor.” De fato, “amamos porque (Deus) nos amou primeiro”. (1 João 4.19) O cristão cultiva esse amor primeiro por Deus e, daí, pelos seus semelhantes. (Marcos 12.29-31) A palavra ágape é também usada em Efésios 5.2, que diz: “Prossegui andando em amor, assim como também o Cristo vos amou e se entregou por vós.” Jesus disse que esse tipo de amor identificaria seus verdadeiros seguidores: “Por meio disso saberão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor (ágape) entre vós.” (João 13.35). Ágape se encontra também em 1 Coríntios 13.13: “Permanecem a fé, a esperança, o amor, estes três; mas o maior destes é o “amor” (ágape).” No Novo Testamento AGAPE é caridade, é amor altruísta e incondicional. É amor paternal e a maneira que Deus ama a humanidade; visto na criação do mundo, na morte e ressurreição de Jesus Cristo; na regeneração de criatura para filho. Por isso, é visto pelos cristãos como o tipo de amor que os homens têm de aspirar a um ou outro. Agostinho disse a respeito de Deus que Ele ama a todos como se houvesse uma só pessoa para Ele amar; o amor cristão deve modelar-se no amor de Deus. Há um sentido em que o “amor cristão” difere radicalmente do amor humano comum. O amor humano comum é a reação do coração; é algo que simplesmente ocorre. Mas ÁGAPE, o “amor cristão” é um exercício da pessoa integral (espírito, alma, corpo). É um estado não somente do coração, mas também da mente; faz parte dos sentimentos, emoções, vontade. Não é alguma coisa que simplesmente acontece e que não podemos evitar, mas sim, é algo que temos que desejar. Não é algo com que não temos nada a fazer; é uma conquista e uma realização. É verdade que o “amor cristão” não é uma coisa fácil e sentimental; não é uma resposta emocional automática e não procurada. É uma vitória sobre o próprio “eu”. O “amor cristão” é o fruto do Espírito; e é impossível manifestá-lo sem a presença e a força de Jesus Cristo. Amar é um sentimento que nunca deveria ser extinto do ser humano, apesar de a Palavra de Deus afirmar que, “por se multiplicar a iniqüidade (o pecado), o amor (“ágape”) de muitos se esfriará.” (Mt 24.12). Entendendo que Deus nos ama como somos, a despeito de nossas falhas, das nossas atitudes e atos egoístas; refletindo sobre este amor, observando e agradecendo as manifestações diárias deste amor, aprenderemos a amar de verdade. Como Deus derramou do Seu amor em concedeu (Rm.5.5). “O fruto do Espírito é amor…” (Gl 5.22). Assim, seremos capazes de amar com o “amor incondicional”.
O AMOR DE DEUS
Nós sentimos esse amor ágape quando entramos na Igreja e ficamos cheios do Espírito. Esse é o amor de 1 Coríntios 13, um amor que se doa, que visa o bem do outro acima do seu. É um amor que credita. Esse amor ágape é espiritual e fruto do Espírito.
DONS COM AMOR
Não existe dom do amor, como algo que vem sobre a pessoa e de repente ela tem a capacidade de amar, para poder fazer a obra de Deus. Dom não é uma capacitação especial, por tanto amor não é dom, mas fruto do Espírito e sendo fruto é algo requerido sempre, enquanto a pessoa for crente. E digo for crente, no sentido de que enquanto ela está cheia do Espírito. Enquanto cheia ela sente o amor de Deus pelas pessoas, pela obra, por si mesmo. Porém quando a pessoa está vazia do Espírito ela perde esse amor de Deus pelo próximo, esse amor incondicional descrito em 1 Cor 13.
Se dom é uma capacitação que vem sobre a pessoa, para ela poder fazer a obra - como receber uma revelação, ou ser usado em cura - o amor ágape, não funciona assim. Esse amor gerado pelo Espírito - que é emprestado de Deus, assim como todos os dons são emprestados de Deus e serve o dom para o outro, em primeiro lugar – deve ser uma constante. Não podemos pensar num “dom do amor”, como dom de línguas, ou dom de revelação. O amor não vem de repente para que eu possa amar essa pessoa, ou aquela. Quando cheios do Espírito amamos a todos aqueles que o Espírito nos inspira a amar e esse amor é tão grande que passamos a amar até os inimigos, que reconhecemos estarem presos nas mãos do diabo e também precisam de libertação.
O AMOR NOS DONS
Devemos compreender o assunto como operar nos dons, com amor pelo próximo, visando o bem do próximo. Tipo: Dê ao próximo, sem esperar em troca.O sentido é operar nos dons de forma amorosa e não mecânica. Tendo o dom da palavra, use-a com amor. Tendo o dom da interpretação, use-a com amor. Tendo o dom de cura, use-o com amor. Tendo os dons do ministério: pastor, mestre, que é professor, pregador, ensinador, use isso com amor.
Ontem lia um livro teológico e encontrei algo interessante. Por que Deus permite que outros, imperfeitos como nós, na caminhada, nos auxiliem? Exatamente por que o contato com o Deus perfeito não nos ensina os passos que precisamos para descobrir o caminho, o evangelho. Andar com imperfeitos, que estão aprendendo, nos gera duvidas que serão compartilhadas e repartidas entre nós, as soluções. Aquele que mais tem duvidas, na igreja, o mais perguntador, é importantíssimo para o bem estar de todos, pois ele gera perguntas que exigem respostas. E assim aprendemos juntos.
Amor não é dom, amor é escolha, opção, esforço. O amor ágape não é Eros (sexual), não é Storge (familiar), não é Philia (amizade). Agape é amor incondicional, espiritual. Amor que não depende da resposta do outro. Jesus amou a todos enquanto estava na cruz sendo morto pelos inimigos. Deus amou o mundo, sabendo que o mundo todo pecou em Adão.
Não existe dom do amor, é errado até dizer isso. Amor é fruto do Espírito. Enquanto no Espírito eu consigo amar a todos, fora do Espírito que não consigo. Quando aceitamos Jesus e somos cheios do Espírito, sentimos pelos irmãos da igreja um amor enorme, tão grande que sentimos que o irmão da igreja é mais família que a família. Esse amor ágape que nos faz família supera o amor sexual, o amor familiar, ou o amor amizade.
Amém
Fique na paz.
BIBLIOGRAFIA
O amor e a Bíblia – Pastora Merces Vasconcelos - Internet