PÁSCOA HEBRAICA E CRISTÃ
Dom Aldo di Cillo Pagotto


Na família hebraica, a celebração da peshasp é lição imemorável de pertença familiar. Consagrados e congraçados como membros efetivos da mesma raça, os filhos aprendem com os veteranos que suas raízes são sagradas.
O memorial da ceia hebraica celebra a pertença familiar. Assim se expressam: Em cada geração, cada qual se sinta no dever de se considerar como aquele que se libertou da escravidão do Egito.
O sentimento de pertença é celebrado como pacto da aliança com Deus com o seu povo. Eu serei o vosso Deus! Vós sereis o meu povo! Povo eleito, consagrado a Deus, considerando a coletividade como experiência de Deus e vivência de valores que estruturam e integram a família. Os hebreus se esmeram na educação permanente, perpassada de geração em geração transmitindo valores morais e posturas éticas diante da vida. Tradição é isso! Transmissão de valores e comportamentos para os filhos. Os pais formam os filhos celebrando a vida numa liturgia doméstica.
A história da salvação é significada nos episódios dramáticos da formação e do crescimento do povo de Israel. O Êxodo nos relata a fase da libertação da escravatura do povo, quando saiu do Egito rumo a terra da promessa. A cada ano os hebreus celebram o peshah com rica simbologia, memorial que os configura e congraça na identidade de povo eleito.
A Páscoa cristã retoma itinerário dos hebreus ao qual Jesus deu um novo significado. Jesus, o novo Moisés nos liberta da escravidão de todos os males causados por uma ruptura interior e exterior. A maior prova da libertação do mal é a ressurreição de Cristo. Sua morte na cruz e sua ressurreição estão consignadas na ceia pascal. O amor incondicional, o perdão reconciliador, a vitória da vida sobre a morte.
Cristo nos liberta do egoísmo, manifestação da nossa ruptura interior. O pecado é a recusa de amar a verdade, ruptura interior a ser superada continuamente. A ruptura interior se exterioriza através dos ódios e das divisões entre as pessoas, famílias, raças, nações, povos. Devemos nos sentir corresponsáveis pela superação dos males que nós mesmos inflingimos uns aos outros. Eis o poder da vida que vence a morte, a ressurreição, vida nova que Jesus nos mereceu uma vez por todas.
Eis aqui uma noção feliz sobre sacramento – sinal sagrado pelo qual o Senhor nos comunica a Sua vida, a Sua graça, em ordem à salvação que Ele nos oferece. A ceia pascal é o memorial da vida, paixão, morte e ressurreição de Jesus, Senhor da Vida. Quem se alimenta da Palavra e da Eucaristia aprende a viver a vida nova, sentindo-se libertado da escravatura do mal, dos vícios e da violência. Celebrar a ceia pascal é aceitar o mesmo que fez Jesus, ou seja, doar a vida, e participar da busca por soluções para os graves problemas que negam a vida e maltratam a fraternidade entre os povos.
                                  

Jornal O Norte. 03.04.2010.  
 
 
 

 
DOM ALDO PAGOTTO
Enviado por Nair Lúcia de Britto em 27/03/2021
Reeditado em 31/03/2021
Código do texto: T7217427
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