O QUE FAZER COM UMA AMIZADE DE QUARENTA ANOS?

O QUE FAZER COM UMA AMIZADE DE QUARENTA ANOS?*

(Quid faciam quadraginta amicitiae)

Num dia próximo ao de hoje, há quarenta anos, uma nova turma de alunos do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil (STBSB) se estabelecia e os colegas se conheciam. Aos poucos, cada qual foi se achegando e tomando assento naquela indefectível sala de primeiranistas. Era, provavelmente, um 23 de fevereiro. Dia calorento e abafado, típico do clima das colinas tijucanas; acolhedoras em seu seio, das clássicas instalações da conhecida Casa de Profetas.

Tentei precisar o dia, mas não logrei êxito. Não quis consultar os arquivos do STBSB. Fui, então, ao calendário de 1981, quando a Turma David Malta Nascimento, estava chegando para os primeiros passos de uma trajetória que nos une até hoje. Poderia ter sido o dia 23 de fevereiro. Também, dois ou nove de março...

Dois de março. Improvável, por ser semana de Carnaval: nunca se começa um período letivo em tal data. Pode ser que tenha sido nove de março. O suposto dia em que todos nós entramos naquela sala memorável para a primeira aula, que para muitos significaria mudança de mentalidade, realização de sonhos, porta aberta para o desconhecido...

Precisar o dia, ficou difícil. Até do dia nove desconfio, visto que, menino novo, eu me gabava de ter entrado no Seminário aos 17 anos. Mas isso era coisa de dias, visto que faria 18 em pouco tempo... então, para isso ser vero, precisaria que as aulas tivessem iniciado antes de sete de março; data do meu aniversário.

Flávio Guimarães, colega de turma, testemunha que chegou ao Seminário no dia 22, possivelmente para o início das aulas no dia 23. Então, acho que ficarei com o 23 de fevereiro de 1981 mesmo, para que o estabeleçamos como o marco inicial de uma amizade que já dura quarenta anos.

Bem sei, que essas reminiscências, contudo, só nos servem, para uma tentativa de estabelecer uma data, um momento, o evento demarcatório do primeiro dia do restante de nossas vidas. Não sei o que pensam meus colegas, mas, digo de mim: nunca mais fui o mesmo depois de: Belo, Colina, Dusilek, Broadus David Hale, “eu quero é nomes...”, Capela, Rodoviária Novo Rio, José Higino, 230, 606, “quem disse ou quem disseram”, o corpo discente e por ai vai...

São tantas as recordações daquele lugar – dentro ou fora das salas de aula – que seria muito difícil eleger o momento mais divertido, mais teológico, mais amistoso, mais espiritual, mais traquinas... e poderíamos queimar nossos neurônios, não pelo exercício da lembrança, porque todos foram memoráveis e inesquecíveis, mas, pela tentativa de escolher os “mais-mais”, visto que todos foram especiais.

Vamos, então, tentar fazer isso? Pelo menos por diletantismo? Vou procurar fazer um exercício de memória e deixar a emoção correr livre. Para quê? Para, pelo menos criar um jeito lúdico de revisitar aquele passado tão importante para todos nós.

Momento mais dramático – O culto de despedida em nossas igrejas de origem? O chororô da mãe ao ver o filho/filha partir?

Momento mais decisivo – Os pais acompanhando a chegada ao Seminário? A descida na rodoviária ou aeroporto? A subida a pé ou de carro pela colina?

Momento mais divertido – As bagunças dos dormitórios? A interações do SEMIBER?

Momento mais teológico – As reflexões de Walter Wedemann? Os debates informais, nos quartos ou nas áreas externas?

Momento mais libertador – A conclusão da Monografia de fim de curso?

Momento mais temido – Assumir o púlpito de quinta-feira na Capela? O sermão em sete minutos sendo analisado pelos alunos nas aulas de Jerry Stanley Key? Ser alvo do banho que era dado nos calouros?

Momento mais amistoso – As brincadeiras na sala do CADS? As conversas antes de dormir? O bate-papo na esquina do pecado ou na Praça da Maledicência?

Momento mais traquinas – O mergulho na piscina do Colégio Batista na madrugada? A picardia de colocar o sino da capela para tocar na madrugada, com um fósforo quebrado na fechadura para demorar a se resolver?

Momento mais palhudo – Certas aulas? Certos professores? Certos alunos? Certos momentos?

Momento mais espiritual – As reflexões bíblicas de Olavo Guimarães Feijó no corredor do 19?

Momento mais impactante – A formatura no dia 1º de dezembro de 1984 no templo da PIB do Rio?

Poderíamos eleger outros momentos e, por certo, não faltariam menções honrosas. Mas, vou ficar com esses e passar a missão para os colegas que desejarem acrescentar algo ou mesmo remanejar ou subtrair algo que mencionei.

O fato é que Deus nos permitiu esse encontro de vidas e sentimentos há quarenta anos. E a gente está aqui hoje, celebrando essa amizade. E isso é muito bom! Isso é maravilhoso! Pois sabemos quem é que faz maravilhas: “Bendito seja o Senhor Deus, o Deus de Israel, que só ele faz maravilhas” (Sl 72.18).

Minha pergunta é: o que fazer com uma amizade de quarenta anos? Vivê-la ao máximo. E zelar por ela, pois é joia rara. E, também, proclamá-la! Que se faça conhecida entre as nações, no meio dos povos e, acima de tudo, no meio dessa gente brasileira e dessa gente batista. Que se anuncie que somos gratos a Deus por uma amizade que perdura e que, desejamos, prossiga por muitos e muitos anos.

Por isso que reivindicamos o testemunho da história, o testemunho do salmista, para torná-lo nosso também: “grandes coisas fez o Senhor por nós e por isso estamos alegres” (Sl 126.3). Soli Deo gloria!

*TURMA DAVID MALTA NASCIMENTO

(Josué Ebenézer)